Dia da Consciência Negra: protagonismo de mulheres negras reafirma empoderamento em Belém

Data celebrada nesta segunda (20) referenda a luta de cidadãos e cidadãs negros por respeito, igualdade e reconhecimento na sociedade

Eduardo Rocha e Even Oliveira / Especial para O Liberal

Nesta segunda-feira (20), no Dia da Consciência Negra, o protagonismo de mulheres negras é uma das pautas que ganha reforço no Brasil. São muitas histórias de mulheres que quebraram as barreiras do preconceito da sociedade e conquistaram um espaço de liderança, empoderamento e representatividade.

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Em Belém, a fisioterapeuta Caroline Santos, empreendedora há 10 anos no ramo da sáude, relata que é necessário se falar em reparação histórica. “Temos uma luta intrínseca que precisamos estar ‘um degrau a mais’ para mostrar que somos capazes de tal objetivo. A sociedade precisa entender que existem danos de anos que precisam ser reparados”, enfatiza.

image Ana Caroline Santos (Foto Carmem Helena / O Liberal)

Caroline ressalta a mobilização de mulheres negras em prol do respeito à diversidade e promoção da igualdade racial. “Nós [mulheres] estamos bem mais vistas, mas não o suficiente. Demos um passo, mas precisamos avançar bem mais com políticas públicas de incentivo para que nós, mulheres pretas, possamos empreender com mais segurança em nossos negócios”, destaca.

Ela observa a necessidade de uma sociedade mais equitativa e inclusiva no bairro em que mora. “Sou atualmente e, de certa forma, bem ativista nas causas, porque tive antepassados muito além dos seus tempos. [Faço parte] do projeto ‘Corredor Cultural Mulheres da TF’, um grupo de 5 mulheres com ações sociais dentro do bairro da Terra Firme. Minha atuação foi preservar a iniciativa da minha saudosa mãe com ação para as crianças”, conta.

Como forma de apoiar e fortalecer o protagonismo negro, reconhecendo suas contribuições e respeitando sua diversidade, é por meio das atividades desenvolvidas entre a comunidade que os empreendedores pretos se fortalecem, diz Caroline. “Nós fazemos o movimento Black Money que visa circular dinheiro entre empreendedores pretos e, com isso, o fortalecimento entre si”, destaca Caroline.

image Ana Caroline Santos (Foto: Carmem Helena / O Liberal)

A conscientização dos cidadãos em geral sobre a contribuição histórica e cultural do povo negro no Brasil, e, em especial, no Pará, como se pode verificar em obras de autores como a do historiador Vicente Salles, fundamenta-se em um processo educacional que deve ser feito tanto nos lares como nas escolas, fortalecendo-se por meio de políticas públicas. Caroline Santos diz que essa educação e conscientização é de “importância de cunho essencial, pois é de responsabilidade social culturalmente [abordarem] em casa e nas escolas sobre a diversidade e como somos plurais”, avalia.

Espaços e referências

No entendimento da advogada e assessora parlamentar Samara Tirza, integrante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa), ser uma mulher negra no Brasil, considerando as peculiaridades de cada cidade, estado e região, ser uma mulher negra no Pará "é rememorar os passos daquelas que vieram antes da gente, na luta, que buscaram ocupar espaços para trazer alguma retribuição, devolução para a comunidade negra".

Ela destaca a grande referência da professora Zélia Amador de Deus, ativista do Movimento Negro e ex-reitora da Universidade Federal do Pará (UFPA). "Temos um grandioso exemplo disso com a professora Zélia Amador de Deus, que sempre lutou por uma educação antirracista e pela Lei de Cotas", frisa Samara.

A mulher negra costuma ser colocada em um lugar pré-pensado pela sociedade, com base em preconceitos, ou seja, na posição de subserviência, de servidão, conforme avaliou a advogada. "É muito mais fácil naturalizar as mulheres negras em um lugar de ausência de estudos, de ignorância, aquelas que merecem estar na base da pirâmide social, ocupando os cargos de salários mais desvalorizados", afirma Samara. Ela salienta que, quando ocupa um trabalho com destaque na sociedade, as mulheres negras não costumam ser valorizadas, são alvo de suspeição - "será que ela é realmente uma boa advogada, uma boa professora, uma boa médica?, como diz Samara.

Mesmo diante de um racismo estrutural, histórico, não um mero tratamento desigual, as mulheres negras são símbolo de resistência e têm seu protagonismo , como pode ser exemplificado pelo fato de se ter uma mulher negra no Ministério da Igualdade Racial, Anielle Franco, como pontua Samara Tirza. Samara contribui com atividades do Cedenpa na conscientização de estudantes contra o racismo e, em particular, contribui com o resgate da autoestima das crianças negras, muitas vezes subjugadas nos espaços da sociedade, e atuando coletivamente abrindo espaços na esfera pública da sociedade paraense.

Raiz

Vitória Menezes atua como dreamaker e trancista. Ela é militante pelo coletivo de Juventude do Cedenpa e no Movimento de Trançadeiras do Estado do Pará e acadêmica de Ciência Sociais na Universidade Federal do Pará, mulher negra afroamazônida. Para Vitória, é essencial falar das raízes culturais.

"Quando a gente fala do protagonismo da mulher nas lutas, principalmente, na negritude, a gente fala em compreender a nossa raiz, raiz ancestral, cultural, e também o berço, porque todos nós, sendo homens ou mulheres, nós viemos de uma mulher, nós partimos dessa pessoa que nos guia a nossa vida inteira e, também, quando a gente pensa em movimentos quilombolas e negros é uma pessoa que está frente, está presente, nos ensinando, nos acolhendo, nos permitindo entender a vida e compartilhando as suas vivências".

Ela reforça que a figura feminina é exemplo de protagonismo em muitas esferas da sociedade. "A mulher é primordial para a luta e para a existência na sociedade, seja na sociedade amazônica, seja no Brasil, seja no continente africano", completa.

Zumbi dos Palmares

O Dia da Consciência Negra recorda o dia em que Zumbi dos Palmares – líder do Quilombo de Palmares, local de refúgio de escravos, situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste do Brasil – foi assassinado, em 20 de novembro de 1695. Apenas em 2011, a data foi instituída oficialmente por meio da lei nº 12.519, como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.

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