Dança circular ganha adeptos em Belém como prática de conexão coletiva e aliada para o bem-estar 

Para muitas pessoas, a prática é uma forma de aliviar sintomas da ansiedade e até mesmo ser um aliado para tratar a ansiedade

Gabriel Pires
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Em meio a movimentos que se repetem em roda, a dança circular — prática expressiva corporal realizada em grupo — vem ganhando adeptos em Belém. Reconhecida pelos benefícios físicos, emocionais e sociais, a prática tem reunido e atraído pessoas de todas as idades. Além de trabalhar o corpo, a técnica promove acolhimento, pertencimento e bem-estar e já conta com grupos atuantes na capital, como o “Ocara”. Para muitas pessoas, também é uma forma de aliviar sintomas da ansiedade e até mesmo ser um aliado para tratar a ansiedade.

A configuração em círculo, em uma roda aberta, cria um espaço de unidade e conexão entre os participantes. A ideia é promover a sensação de pertencimento e cooperação, como explica a psicóloga Lena Mouzinho, 67 anos, membro do grupo “Ocara”. Além disso, a dança circular valoriza a diversidade cultural ao incorporar danças tradicionais de diferentes povos e regiões do mundo, promovendo o respeito e o reconhecimento das diversas expressões culturais.

“A dança circular é um movimento mundial de resgate de um aspecto da cultura, que está na base da cultura de muitos povos, que é a dança coletiva. Em vários povos, inclusive nos nossos ancestrais indígenas, se dança na roda para celebrar momentos marcantes e garantir que o espírito da comunidade continue vivo”, afirma Lena, que pratica a a dança circular há 25 anos e reforça as vantagens para o corpo e a mente.

Aqui em Belém do Pará, no nosso caso, o trabalho é buscar fazer com que as pessoas se encontrem, para que desse encontro nasçam ações comunitárias de respeito à vida. A gente dança para poder lembrar que nós fazemos parte de um único corpo: o universo, a terra. E que nós somos interdependentes e de que nós somos interconectados intimamente. Nos afetamos mutuamente, como as células do nosso corpo se afetam. E, se a gente não tiver cuidado com a nossa vida e a vida do outro, a gente tende a destruir tudo como está acontecendo.

Habilidade

A dança circular não exige habilidades avançadas, já que as coreografias são simples e acessíveis, permitindo a participação de pessoas de todas as idades e níveis de experiência. “A prática é um movimento mundial. Então, herdamos e nos inspiramos em danças de vários povos da Europa Oriental, de ancestrais de vários lugares do mundo e daqui da nossa terra também. Existem essas danças tradicionais e existem coreografias contemporâneas para danças contemporâneas”, relata.

“Para praticar, basta ter vontade de se juntar ao grupo, se dar permissão para viver uma condição que é nossa, do aprendiz. É preciso se dar liberdade para viver o processo de aprendizado. E o aprendiz se confunde, vai para esquerda e para direita. Muitas vezes, não por falta de habilidade, mas pela ansiedade que a gente tem, porque nos ensinaram a nos esconder na condição de aprendiz para não parecer burro, ridículo. Então, não precisa saber dançar”, observa Lena.

Todos os passos são guiados por um focalizado, que instrui e orienta o grupo que está dançando. “O focalizador é o educador preparado para trazer a dança como foco, ensinar o círculo. As pessoas vão aprendendo e logo está todo mundo dançando de uma forma mais harmônica, especialmente se nos dermos permissão. Qualquer idade também pode participar”, frisa Lena.

Benefícios

No aspecto emocional, a dança circular favorece o autoconhecimento e a autorregulação, já que o praticante é convidado a se conectar com o próprio corpo e com os sentimentos que emergem durante a prática. A repetição dos passos em sintonia com a música pode induzir estados meditativos, de calma e presença, funcionando como uma forma de terapia corporal. Lena chama atenção para o sentimento de bem-estar e paz de espírito, mas que também a dança também é um mecanismo terapêutico e aliado à saúde.

Outras vantagens, como a redução da ansiedade e estresse, são alguns dos principais ganhos com a prática da dança. E ainda, socialmente, a dança circular é uma forma de promover a integração e inclusão. Além disso, Lena também lembra que a dança circular aproxima as pessoas, criando um espaço seguro de partilha, acolhimento e cooperação.

“Um dos principais benefícios é aprender a se dar liberdade para ser só humano. O humano não sabe, o humano se confunde, o humano se perde. Para poder se achar, a gente se perde. Há esse benefício maior: o respeito à minha condição de aprendiz. Quando eu consigo acolher isso em mim, eu sou capaz de ver o outro embaraçado e não rir disso. É a compreensão de que nós nos assemelhamos nessa busca de aprendizado”, reforça Lena, citando as vantagens da dança circular.

Sobre o cuidado da saúde integral com a dança, Lena detalha: “Entre outros, há a produção de drogas naturais que cuidam do nosso corpo e do nosso humor. Tem muitos psiquiatras e psicólogos encaminhando pessoas para a roda, para exercitar nessa prática a descoberta que a saúde está dentro da gente. Há ganhos para o emocional, físico, social e espiritual. A dança nos movimenta integralmente”, pontua a psicóloga.

Equilíbrio

A militar aposentada Yolanda de Luna, de 56 anos, participa uma vez por semana de rodas de dança circular. Durante uma visita a Belém, ela teve a oportunidade de integrar uma roda realizada na Casa das Onze Janelas, junto ao grupo “Ocara”. A experiência, segundo ela, reforçou os benefícios que a prática proporciona tanto para o corpo quanto para a mente. Yolanda conheceu as danças circulares recentemente, por meio de um projeto de iniciação científica na faculdade.

Desde então, passou a enxergá-las como uma forma de meditação em movimento. “As danças colaboram para que a gente diminua a ansiedade e que possamos nos conectar com a gente. É uma forma de nos conhecermos melhor. Na roda você se iguala, espera o tempo do outro, se vê. Nós nos damos as mãos, e isso promove empatia e presença. A gente costuma estar sempre pensando no passado ou projetando o futuro, esquecendo de viver o agora, que é onde a vida acontece”, destaca.

O mesmo sentimento de bem-estar também é compartilhado pela aposentada Sandra Campos, de 72 anos. “Conheci a dança num evento na Universidade Federal do Pará há mais de 20 anos. Para mim, foi uma surpresa muito grande. E eu me apaixonei na mesma hora. Foi uma coisa muito benéfica na minha vida, na época, porque eu estava saindo de uma depressão. Esse movimento me ajudou na cura, naquele momento difícil, bem mais rápido do que podia ter sido se fosse de outra forma”, relata.

Grupo Ocara

O grupo está em funcionamento desde 2007 e o termo "Ocara" é o nome em Tupi da praça central ou terreiro da aldeia indígena ou taba - que é aberta e circular. É o espaço do encontro da comunidade para celebrações ou conselhos. As rodas abertas são gratuitas e os interessados basta participarem livremente. As programações são divulgadas pelo Instagram @ocaragrupo. Já para quem busca realizar workshop da dança, é necessário inscrever-se pelo contato (91) 98280-9336.

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