Comerciantes de artigos do Círio estão bastante otimistas para a época
Lojistas e artesãos acreditam que este ano será de menos restrições e vendas melhores
A expectativa de um Círio de Nossa Senhora de Nazaré menos restritivo em 2021 tem deixado otimistas muitos comerciantes que trabalham com produtos da quadra nazarena. Ana Lúcia Brahuna, que comanda uma fábrica de velas e objetos de parafina que já existe há 83 anos em Belém, acredita que os pedidos devem aquecer neste segundo semestre.
“Ainda estamos esperando uma confirmação do arcebispo no domingo (8) sobre como vai ser, né? Creio que não será normal ainda, mas mesmo assim fico animada. Ano passado buscamos inovar e conseguimos mitigar os impactos da pandemia (de covid-19). Espero que esse ano seja ainda melhor”, diz ela.
A inovação à qual ela se refere foi um serviço inusitado: a fábrica, além de confeccionar as obras em parafina encomendadas por promesseiros do Círio, também levou em procissão os artigos até a escadaria da Basílica de Nazaré em 2020. A ideia foi tão aprovada pelos clientes que Ana Lúcia já conta com mais de 100 pedidos para serem confeccionados até outubro.
MIRITI
Outra matéria-prima que dá forma aos pedidos dos devotos é o miriti, um dos símbolos do Círio. O artesão Francisco Carneiro já trabalha há dez anos com o material e revela que teve um ano difícil por conta da pandemia, mas tem fé de que em 2021 essa página será virada.
“Outubro é quando a gente vende mais. Ano passado o Miriti Fest não aconteceu, o que foi uma pena. O Sebrae (erviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) chegou a fazer uma feira do miriti o que deu uma aliviada. On-line nós praticamente não conseguimos vender nada. Tentei postar, mas só no último mês que comecei a ter resultado”, conta.
Francisco também é servidor público. Ele acredita que se fosse depender só da venda do miriti estaria em maus lençóis, mas conta que investiu muito dinheiro do salário dele na compra de insumos para a produção de peças que estão estagnadas. Ele está ansioso para a feira que ocorre ao lado da Basílica de Nazaré e que fica instalada por aproximadamente um mês.
“Vai chegando setembro começam a procurar a gente. Tem as pessoas que querem decorar a casa ou dar de presente, mas geralmente pedem coisas específicas para levar em procissão. Encomendam com antecedência. O que mais pedem é imagem da santa, mas também berlindas e peças relacionadas a profissão. Muitos barcos e casas também”, afirma.
Para ele, apesar das dificuldades, é um prazer trabalhar divulgando uma cultura tão característica do estado. “A gente faz com amor e espera que quem compra goste muito. Ficamos com muita satisfação quando conseguimos vender uma peça. O miriti é uma paixão. Apesar da pouca valorização, a gente não desiste, pois faz parte da nossa cultura. Ele deixa o Círio com mais cara de Círio”, destaca.
IMAGENS
Há ainda quem prefira os objetos mais tradicionais, vendidos nas lojas de artigos religiosos, com destaque para a imagem de Nossa Senhora de Nazaré com coroa, manto e tudo. Nilza Silva atualmente emprega sete vendedores na loja dela, além de cinco bordadeiras.
Ela acredita que a cidade estará mais movimentada que em 2020, pois as viagens estão liberadas e, mesmo achando que o Círio de 2021 seguirá os mesmos moldes do ano passado, avalia que o clima está menos melancólico e mais propenso aos bons negócios.
“Ano passado foi um Círio muito intimista. As vendas caíram muito, em média de 40%. Círio é muito turista e as viagens estavam limitadas. Mesmo as pessoas do interior do Pará não estiveram aqui em Belém para participar. Esse ano tivemos essa melhora com a vacinação então temos essa boa expectativa. Estamos nos preparando com o pé atrás, pois outubro é nosso melhor momento”, diz ela.
Entre artigos de decoração de casas e peças compradas por promesseiros para o segundo domingo de outubro, a produção na loja de Nilza não para, de janeiro a janeiro. Ela conseguiu estabilizar as finanças investindo em vendas pela internet e entregas. Abriu até uma loja nova.
De vez em quando ela se diz preocupada com os fornecedores que alegam dificuldades para entregar insumos no prazo, mas não perde a fé. Segundo Nilza, o verdadeiro significado do Círio é a união e a parceria - e o povo paraense é especialista neste tema.
“Graças a Deus o povo paraense é iluminado e cheio de fé, não nos abandonou, mesmo comprando menos. Acho que nosso impacto foi menor do que poderia ter sido. Houve muita solidariedade também e temos buscado devolver isso. Sempre gostamos de dar chance para artistas novos. Deixamos expor aqui na loja. Sou artesã e já peguei muita chuva, já trabalhei muito em feira, ralei muita em praça. Sei que é importante estender a mão aos amigos nessas horas de crise”, afirma.
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