Cemitério da Soledade será transformado em parque público

Nesta segunda (12), o governador Helder Barbalho e o prefeito Edmilson Rodrigues assinaram o acordo de cooperação técnica para restauro e requalificação do local

João Thiago Dias / O Liberal
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O Cemitério Nossa Senhora da Soledade, no bairro de Batista Campos, no centro de Belém, será transformado em parque público, apresentando aos visitantes uma expografia detalhada da arquitetura mortuária e seus elementos artísticos. Na manhã desta segunda (12), o governador do Pará, Helder Barbalho, e o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, assinaram o Acordo de Cooperação Técnica para o restauro e requalificação do local. 

Cemitério da Soledade será transformado em parque público

A formalização do acordo foi feita no Palácio dos Despachos e também contou com a presença da secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal; do presidente da Fundação Cultural do Município de Belém, Michel Pinho; e outras lideranças estaduais e municipais.

O projeto de restauro e requalificação de um dos mais significativos símbolos da arquitetura da capital paraense no século XVIII teve início no diálogo entre os titulares da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), ainda no início deste ano. A obra terá investimento de R$ 15 milhões, e está prevista para ser concluída em 12 meses.

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A assinatura do termo já garante o início da primeira fase, ainda nesta semana, de caráter emergencial. A etapa inicial terá duração de 120 dias e está orçada em R$ 3 milhões, que serão investidos na revitalização do muro; pórtico de entrada - com risco atual de queda; calçamento lateral e reestruturação da parte elétrica e hidráulica.

Valorização

“Nós estamos em uma agenda importante de resgate da cultura, fazendo com que Belém possa reabrir o Cemitério da Soledade, valorizando o patrimônio histórico, a cultura e a memória. Belém tem uma história fantástica, que precisa ser a cada instante valorizada. Iniciativas como esta, em que a Secretaria de Cultura, junto com a Fumbel, trabalha para recuperar e garantir espaços que sirvam de visitação, de estímulo ao turismo e, acima de tudo, resgatando a memória para as próximas gerações, são fundamentais”, frisou o governador Helder Barbalho.

As próximas etapas das obras incluirão a execução do projeto de intervenção, com a criação de um pórtico de entrada projetado para a Travessa Dr. Moraes; a execução dos projetos complementares, incluindo a parte estrutural, elétrica, hidrossanitária, logística, de ar condicionado, de prevenção e detecção de incêndio e segurança da área. Também está prevista a execução do projeto luminotécnico (de iluminação cênica) dos elementos integrados, bem como das exposições; do projeto de paisagismo de todo o cemitério; da sinalização dos espaços de apoio ao circuito expositivo e design gráfico dos painéis das exposições, levando em consideração os textos e imagens do projeto de musealização.

image (Ivan Duarte/O Liberal)

Para a secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal, a realização do projeto de restauro e revitalização do Cemitério da Soledade é mais uma demonstração da preocupação do Governo do Pará com a preservação do patrimônio, da memória e da história da cidade. “Essa é uma obra que vai durar cerca de um ano e tem várias etapas. É um trabalho muito delicado de reconstituição e de restauro de muitos elementos artísticos da arquitetura mortuária. O Cemitério da Soledade é, por si só, um museu a céu aberto, e nós queremos devolver este espaço à população, que mantém ainda muitas práticas de devoção popular. Belém terá um cemitério-parque no coração da cidade, e será mais um equipamento público que dará orgulho a nossa gente”, pontuou.

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O prefeito Edmilson Rodrigues destacou a importância dessa parceria para a recuperação do espaço. “No momento em que estamos superando a pandemia de Covid-19, estamos aqui assinando um acordo para restaurar e transformar em museu o Cemitério da Soledade, um local que recebeu paraenses durante outra pandemia, a da gripe espanhola. É uma quadra inteira no centro da cidade, que está há muito tempo em desuso, e que agora passará a ter uma nova função. Parabenizo a Secult e a Fumbel por fazerem os primeiros diálogos, para que hoje estejamos assinando a certidão de nascimento da obra de recuperação do nosso Cemitério da Soledade”, disse o prefeito.

image (Divulgação)

 

Novo significado

O presidente da Fundação Cultural do Município de Belém, Michel Pinho, lamentou a falta de cuidados com um espaço de tanto valor patrimonial. "O cemitério hoje passa por um processo grave de falta de cuidados com a arte mortuária e capinação, além da necessidade de uma reforma na capela de nossa senhora da Soledade", disse.

Ele explicou que requalificação é o processo de dar novo significado ao espaço. "Embora sem uso mortuário há décadas, o Soledade virará um memorial que abrigará placas explicativas, caminhos educativos, iluminação especial e restauro das principais obras mortuárias", detalhou.

O cemitério da Soledade é da metade do século XIX e foi o nosso primeiro cemitério, abrigando uma quantidade muito significativa de corpos que sucumbiram em função das epidemias de varíola e cólera. "Crianças, personalidades políticas e militares foram lá enterrados e deixaram como patrimônio mausoléus com materiais importados de diversos países da Europa", disse Michel Pinho.

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Memória

O Cemitério Nossa Senhora da Soledade foi inaugurado em 1850, marcando a transferência de enterros anteriormente realizados em igrejas para um espaço público específico.

Se destacou durante as epidemias de febre amarela (1850) e cólera (1885), e nele foram enterradas mais de 30 mil pessoas. Inspirado no estilo romântico dos cemitérios europeus, possui materiais, obras de escultura e cantaria de Portugal e Itália. É um dos pontos da cidade de Belém que mais refletem o poder econômico do Ciclo da Borracha.

Com o encerramento das atividades de sepultamento em 1880, o processo de degradação do cemitério foi acentuado, colocando em pauta opções como a demolição para o alargamento de estradas ou construção de um complexo habitacional.

Em decorrência dessas especulações, grupos de intelectuais se mobilizaram em favor do tombamento, que ocorreu em 1964, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No dia 20 de março deste ano, após uma vistoria técnica, a Defesa Civil Municipal interditou o espaço, ação que integra o conjunto de medidas de proteção e recuperação do local pela Prefeitura de Belém.

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