Catadores arrecadam 40 toneladas de vidro em Belém e alertam para importância da reciclagem

“O vidro é o único produto que é 100% reciclado. Ele volta a ser vidro quantas vezes for necessário, tendo a destinação correta”, diz o coordenador da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves), Jonas de Jesus

Dilson Pimentel e Ana Laura Carvalho

O vidro é um dos materiais mais subestimados na coleta seletiva, apesar de ser 100% reciclável. Essa é a avaliação do coordenador da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves) e presidente da Central da Amazônia, o catador Jonas de Jesus. Ele disse que, mesmo sendo infinitamente reciclável, o vidro ainda recebe pouca atenção da população quando o assunto é reaproveitamento.

“O vidro é o único produto que é 100% reciclado. Ele volta a ser vidro quantas vezes for necessário, tendo a destinação correta”, disse. De acordo com Jonas, apenas nos quatro primeiros meses de 2025, foram arrecadadas 40 toneladas de vidro, material que foi enviado novamente para a indústria, impedindo que fosse descartado de forma irregular em ruas, bueiros, rios ou mesmo aterro sanitário. “Esse material veio das ruas, das casas, dos condomínios, de empresas que não têm destinação correta e mandam para cá. A gente faz uma campanha voluntária da cooperativa, e muitos vêm deixar voluntariamente. Não temos como buscar em cada residência, pois Belém ainda não tem uma coleta seletiva específica para isso”, explicou.

O tipo mais comum de vidro recebido na Concaves é garrafas de vidro. “A gente não aceita lâmpadas, pois são contaminantes. Vidros de carros, por exemplo, só se vierem separados, em carga única. Caso contrário, eles ficam aqui mais tempo esperando volume suficiente para envio”, explicou Jonas.

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Como funciona o processo de reaproveitamento

Após a chegada dos materiais, todo o vidro é triturado. Isso é necessário para reduzir o volume que ocuparia nas carretas. O destino final é a indústria localizada em Mogi das Cruzes (SP), já que o Norte do Brasil ainda não possui uma fábrica especializada no reaproveitamento de vidro.

“Essa garrafa aqui vai ser triturada e voltará a ser garrafa. Isso pode acontecer uma, duas, três, cinco vezes... quantas forem necessárias. Diferente de outros materiais recicláveis que têm uma perda, o vidro é 100% reaproveitado”. Segundo Jonas, o poder público pode contribuir muito com campanhas educativas e políticas que incentivem a coleta seletiva. “Hoje a coleta seletiva não é mais só uma questão de educação ou de preocupação ambiental. É uma questão de sobrevivência. Precisamos fazer isso, porque estamos degradando o meio ambiente e poluindo os rios. Aterros que foram projetados para durar 20 anos estão se esgotando em 8, por as pessoas não terem o cuidado de fazer a coleta em sua casa”, observou.

Ele comentou que, atualmente, se tem um gasto muito maior com aterros sanitários do que com saúde, educação e segurança, “justamente, também, por essa falta de entendimento da pessoa não colocar uma coleta seletiva eficaz em sua casa e encaminhar para a cooperativa de catadores”. Quem quiser contribuir pode levar os vidros até a Concaves, localizada na avenida Bernardo Sayão, número 2119. “Muita gente tem vidro em casa. Todo mundo tem sua brincadeira (diversão) no final de semana. Se puderem vir deixar aqui, não só a Concaves agradece, como também a cidade de Belém”, disse.

No entanto, Jonas faz um alerta sobre o manuseio correto do material: o ideal é que o vidro seja bem embalado, evitando acidentes tanto com quem transporta quanto com os catadores no local. Quem quiser fazer doações de materiais recicláveis também pode ligar para 984101837.

image A imagem mostra o galpão da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves), que funciona na avenida Bernardo Sayão, em Belém (Foto: Igor Mota/O Liberal)

Ambientalista reforça a importância da reciclagem e alerta para os riscos do descarte incorreto do vidro

A advogada e ambientalista Claudia Borio fez uma série de alertas sobre a destinação adequada do vidro e a importância da reciclagem como estratégia essencial para a preservação ambiental, saúde pública e geração de renda no Brasil.

Segundo ela, o vidro é um material inerte, ou seja, que não se decompõe nem libera substâncias nocivas no ambiente. No entanto, o descarte incorreto ainda representa riscos. “O vidro é um material inerte, ou seja, ele não causa impacto quase nenhum no ambiente, não se desmancha, não libera substâncias. Porém ele pode acumular água, criar mosquitos, e compor montões de lixo, aumentando o risco de doenças e vetores que se criam ali. O ideal é que o vidro seja separado e não vá para o lixo”, disse.

Claudia também ressaltou a durabilidade quase infinita do material. “O vidro não se decompõe praticamente nunca! Ele é um material muito estável e não muda. O que pode acontecer é que ele pode ir se quebrando ou ficar moído e virar areia, como ocorre nas praias”, afirmou.

Ela enfatizou ainda o grande potencial da reciclagem no Brasil, especialmente se houver engajamento da população e apoio do poder público. “A reciclagem tem uma importância imensa no Brasil, pois pode diminuir a nossa quantidade de lixo gerado em quase 100%!! É isso mesmo! Se nós separarmos o lixo direitinho, pode ser que não sobre quase lixo nenhum. Tirando a parte orgânica, que se desmancha e vira adubo, podemos reciclar quase tudo”, declarou.

Para além dos ganhos ambientais, Claudia apontou os benefícios sociais da reciclagem. “A reciclagem deixa os ambientes mais limpos, sem lixo, sem ratos, baratas ou mosquitos. As pessoas que trabalham na reciclagem, se tiverem apoio do governo, podem ganhar uma renda e ter uma vida melhor, muitas vezes são pessoas muito pobres que podem ganhar dignidade e ter uma profissão através da reciclagem. E as usinas de reciclagem podem ajudar a embalar e destinar os materiais para que fábricas os reaproveitem”, disse.

A especialista alertou, porém, que muitas cidades brasileiras ainda não possuem infraestrutura adequada para lidar com os resíduos. “Muitas cidades do Brasil nem sequer têm coleta de lixo! Algumas cidades nem têm aterro sanitário, só jogam o lixo em qualquer canto, nos chamados lixões. Isso é péssimo! A reciclagem depende de uma coleta correta, bem feita, e também de educação ambiental, onde as pessoas entendam a importância de separar o lixo corretamente”, afirmou.

Ela também destacou o exemplo de Curitiba, que conta com uma usina de reciclagem bem estruturada, mas lembrou que muitos catadores ainda trabalham em condições precárias. “Mesmo assim ainda há muitas pessoas pobres que também são ‘catadoras’ de lixo e trabalham em condições bem ruins, procurando ganhar um pouco de dinheiro para sobreviver. Essas pessoas são importantíssimas também, pois limpam o ambiente e juntam ainda mais coisas que podem ser reaproveitadas”, comentou.

Por fim, Claudia reforçou que quem atua diretamente com a reciclagem precisa estar protegido. “As pessoas que vão reciclar precisam usar EPIs, Equipamentos de Proteção Individual: usar sapatos fechados, roupa bem feita e forte, de preferência um uniforme, luvas, e, dependendo do material, até mesmo usar óculos e um capacete, ou pelo menos usar o cabelo preso. Além disso, essas pessoas devem passar por exames médicos periódicos e tomar todas as vacinas para evitar de se contaminar com algum objeto sujo”, concluiu.

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