A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) vem adotando uma série de medidas para garantir o fornecimento contínuo de insulina e insumos essenciais para o tratamento de pacientes com diabetes atendidos pelo SUS em Belém. A iniciativa busca resolver um problema histórico que, nos últimos anos, impactou diretamente a saúde e a qualidade de vida de centenas de pessoas.
O relato de Wendel Lobato, de 27 anos, insulino-dependente desde os 8 anos e representante da Associação de Diabéticos do Estado do Pará (ADEPA), reflete a dura realidade vivida por ele e por outros belenenses que dependem do medicamento. “Há cerca de 8 anos, a luta tem sido diária, mas foi em 2023 e 2024 que sentimos realmente o peso da falta de insulina e dos insumos necessários. Era angustiante… Conseguíamos receber insulina para um mês, mas logo depois ficávamos sem nada para os meses seguintes. Quando finalmente o medicamento chegava, vinha em quantidade tão pequena que não atendia toda a demanda", relembrou.
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"Conhecidos nossos ficaram até sete meses sem acesso aos medicamentos pela rede municipal, e as consequências foram devastadoras. Alguns perderam membros, outros precisaram se endividar para comprar os remédios no cartão de crédito, fazendo empréstimos, porque os custos são altíssimos e a necessidade, urgente. Foi um sufoco, uma dor constante. Sabíamos que, sem o medicamento, a situação só pioraria. Para mantermos nossa vida, fizemos o impossível. Porque, no fim das contas, só queríamos sobreviver… e por isso, vale qualquer sacrifício”, continuou.
Compromisso renovado com a saúde pública
Diante da crise no fornecimento, a atual gestão municipal adotou uma série de medidas emergenciais para garantir o reabastecimento dos estoques e assegurar o tratamento contínuo das pessoas com diabetes. A Sesma atuou de forma estratégica, com a retomada de contratos com fornecedores, a reestruturação dos fluxos de entrega e a organização da logística de distribuição dos medicamentos, especialmente no Centro Especializado de Medicamentos (CEMO), referência na atenção farmacêutica para pacientes diabéticos.
Como resultado dessas ações, o fornecimento das insulinas análogas de ação rápida e prolongada já foi normalizado no CEMO (que proporcionam um melhor controle da glicemia), permitindo um controle mais eficiente da glicemia e melhor qualidade de vida para os pacientes.
Mudanças no atendimento
Desde o dia 13 de março deste ano, conforme determinação de uma Ação Civil Pública, a responsabilidade pela distribuição de insulinas para pacientes com diabetes tipo 1 passou a ser da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Com isso, os usuários desse grupo devem buscar atendimento nas Unidades Dispensadoras de Medicamentos Especiais (UDMEs), vinculadas ao Governo do Estado.
A Sesma permanece responsável pela dispensação de insulina para pacientes com diabetes tipo 2, cujo fornecimento segue normalmente por meio do Centro Especializado de Medicamentos (CEMO). Para ter acesso ao atendimento, o paciente deve protocolar o pedido na sede da Sesma, localizada na Avenida Governador José Malcher, no bairro de São Brás, durante o horário comercial. O prazo para resposta varia entre 15 e 30 dias, e o retorno pode ser feito presencialmente ou por telefone.
A solicitação deve ser acompanhada da receita médica atualizada, laudo médico atualizado, justificativa de uso, além de documentos pessoais, cartão SUS e comprovante de residência com data dos últimos seis meses.
Atualmente, cerca de 2.539 pacientes estão cadastrados e recebem insulina na CEMO. Com a nova diretriz judicial, aproximadamente 20% desse total — cerca de 500 usuários — já estão sendo transferidos para a rede estadual, sob responsabilidade da Sespa.
A mudança no fluxo de distribuição é válida apenas para os pacientes com diabetes tipo 1 que utilizam insulinas análogas de ação prolongada ou rápida. Os demais usuários, que fazem uso da insulina humana NPH, insulina regular e de insumos como canetas aplicadoras, fitas reagentes, lancetas e seringas, continuam recebendo esses medicamentos normalmente nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município. Para ter acesso ao tratamento, é necessário que o paciente esteja cadastrado no Programa Hiperdia, disponível em todas as UBSs. O programa oferece acompanhamento contínuo e monitoramento dos casos de diabetes e hipertensão.
Diálogo com a sociedade civil
Outra frente importante tem sido o fortalecimento do diálogo com a sociedade civil. Em reunião com representantes da ADEPA, a Prefeitura apresentou estratégias para evitar novos desabastecimentos e criou um grupo de trabalho dedicado ao atendimento de pessoas com diabetes.
O secretário municipal de Saúde, Rômulo Nina, também se reuniu com o Ministério Público Federal (MPF) para reafirmar o compromisso da gestão com a regularização do fornecimento. A participação da sociedade civil nas decisões vem sendo considerada uma prioridade.
“Hoje, percebemos um esforço genuíno para garantir o abastecimento regular e incluir os pacientes nas decisões. Com um gestor médico à frente dessa pasta como a saúde, a nossa confiança foi renovada”, reforçou Wendel Lobato, representante da ADEPA.
Entenda o diabetes
O diabetes tipo 2 é o mais comum e representa cerca de 90% dos casos no Brasil. Ele está associado ao sobrepeso, sedentarismo, má alimentação, hipertensão e fatores genéticos. Os principais sintomas são fome constante, sede excessiva, formigamentos, infecções de repetição, feridas que demoram a cicatrizar e visão turva.
Já o diabetes tipo 1 é uma doença crônica, hereditária e normalmente diagnosticada na infância ou adolescência. O tratamento é feito com insulina e o acompanhamento contínuo é essencial para prevenir complicações.
Prevenção e qualidade de vida
A prevenção do diabetes tipo 2 passa por hábitos saudáveis. Em Belém, diversas Unidades Básicas de Saúde oferecem atividades físicas gratuitas para idosos, além de orientações nutricionais e acompanhamento por profissionais da saúde, por meio do Programa Hiperdia.
A Sesma reforça que, ao notar qualquer sintoma, o paciente deve procurar atendimento médico o quanto antes. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para garantir uma vida ativa e saudável.
Serviço:
• Os pacientes com diabetes tipo 1, cuja responsabilidade de atendimento passou para a rede estadual, devem retirar a medicação nas Unidades Dispensadoras de Medicamentos Especiais (UDMEs) da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Confira os endereços:
UDME Cesupa – Av. Governador José Malcher, 1242, São Brás
UDME Demétrio Medrado – Av. Dr. Freitas, 235, Sacramenta
UDME Doca – Av. Visconde de Souza Franco, s/n, Reduto
UDME Presidente Vargas – Av. Presidente Vargas, 513, Campina
UDME Uremia – Av. Alcindo Cacela, 1421, Nazaré
UDME Hospital Barros Barreto (exclusiva para pacientes com prescrição hospitalar) – Rua dos Mundurucus, 4487, Guamá
(Para saber qual unidade atende sua região, acesse o site oficial da Sespa ou entre em contato com o Disque Saúde, pelo número 136.)
• Já os pacientes com diabetes tipo 2, acompanhados pela rede municipal de saúde, continuam sendo atendidos normalmente no Centro Especializado de Medicamentos (CEMO), localizado na Avenida Governador José Malcher, 2821, bairro de São Brás.
• Usuários que fazem uso de insulina humana NPH, insulina regular e de insumos como canetas aplicadoras, fitas reagentes, lancetas e seringas, seguem recebendo esses itens nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município. Para ter acesso ao tratamento, o paciente deve estar cadastrado no Programa Hiperdia, disponível em todas as UBSs.