Alergia alimentar: desafio crescente para famílias e saúde pública
Casos estão mais frequentes e graves, mas tratamentos como a dessensibilização oferecem nova esperança

As alergias alimentares têm se tornado cada vez mais comuns no mundo todo, e o Brasil não é exceção. Especialistas alertam que os quadros não só aumentaram em número como também em gravidade. É o que explica a médica alergista e imunologista Vanessa Pereira: “Alergias alimentares, rinites , asma e conjuntivite alérgicas estão entre os tipos mais comuns de alergias. A alergia alimentar além de mais frequente, os quadros também estão ficando mais graves, muitas vezes levando a reações intensas como a anafilaxia, que pode ser fatal se não tratada rapidamente”.
Segundo a Organização Mundial da Alergia (WAO), cerca de 10% da população mundial convive com algum tipo de alergia alimentar, tornando o problema uma questão de saúde pública. No Brasil, estudos mostram que entre crianças há prevalência de até 5,4% de alergia à proteína do leite de vaca, uma das mais comuns na infância.
Foi exatamente essa a experiência vivida por Vanessa Rocha, mãe do pequeno Mateus, 9 anos, diagnosticado ainda bebê com alergia severa ao leite. “A gente descobriu a alergia quando ele começou a usar fórmulas infantis aos seis meses. Ele teve manchas vermelhas na pele e vomitou bastante. A médica explicou que, por ter vomitado, ele eliminou o leite e melhorou rápido. Mas ficou claro que era uma reação à proteína do leite de vaca”, conta.
A partir daí, a rotina da família mudou completamente. Mateus passou a seguir uma dieta estrita, sem qualquer traço de leite ou derivados. “Até a louça dele era separada na cozinha, porque até traços de leite em panelas poderiam provocar uma reação grave”, explica a mãe.
A médica explica que as alergias alimentares são comuns em crianças e adultos, mas, em ambos, depende dos alimentos envolvidos. Leite, soja e ovo são os alimentos mais comuns de darem alergia na primeira infância. Camarão, caranguejos e oleaginosas como as castanhas são mais comuns iniciarem na fase adulta. Porém todos estes alimentos e outros podem causar alergia em qualquer faixa etária
Os sintomas mais comuns da alergia alimentar incluem urticária, coceira na boca, inchaço nos lábios e garganta, vômitos, diarreia e, nos casos mais graves, a anafilaxia, quando há risco real de morte. Nesses casos, a orientação médica é clara: acionar imediatamente o serviço de emergência e, se possível, aplicar adrenalina.
Apesar da gravidade, novos tratamentos vêm trazendo alívio para muitas famílias. Um deles é o tratamento de dessensibilização alimentar, já disponível no estado do Pará. “Alergias alimentares IgE mediadas que apresentam risco de anafilaxia como o leite, ovo, trigo, amendoin e castanhas, hoje, já temos disponível um tratamento que induz a tolerância imunológica e a consequente ingesta deste alimentos sem as reações alergicas.Consiste em expor o paciente de forma controlada e progressiva ao alimento alergênico, sempre com supervisão médica rigorosa”, explica a Dra. Vanessa Pereira.
Mateus foi um dos pacientes que passou por esse processo. “Ele começou o tratamento com sete anos e, após cerca de cinco meses, passou a tolerar alimentos com leite. Hoje, ele toma leite, come queijo, sorvete. Mas ainda usa antialérgico diariamente, porque a alergia dele era muito intensa”, relata Vanessa Rocha.
A dessensibilização, embora não represente uma cura definitiva, permite que o paciente conviva com a substância de forma segura, sem risco de reações severas. “Hoje, se ele exagera, como comer muitos brigadeiros numa festa, ainda tem sintomas leves, coceira, tosse, manchas, mas nada comparado ao risco de antes”, diz a mãe.
Para a médica, o mais importante é o diagnóstico correto e o acompanhamento com um especialista. “Com informação, cuidado e acompanhamento adequado, é possível ter qualidade de vida mesmo com alergia alimentar”, conclui Vanessa Pereira.
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