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Eco-ansiedade: conheça a ansiedade climática causada pela preocupação com o futuro do planeta

Saiba identificar os sintomas e como cuidar da saúde mental diante da crise climática

Hannah Franco

O medo do futuro e a sensação de impotência diante das mudanças climáticas têm afetado a saúde mental de um número cada vez maior de pessoas. A chamada ecoansiedade, ou ansiedade climática, é o sentimento de angústia, tristeza e preocupação constante com o destino do planeta, uma resposta emocional ao aumento de eventos extremos, como secas, queimadas, enchentes e calor recorde.

O tema ganhou força nos últimos anos, à medida que os efeitos da crise ambiental se tornaram mais visíveis e frequentes no cotidiano. Enquanto o planeta registra temperaturas sem precedentes e desastres naturais se intensificam, cresce também o número de pessoas que relatam medo, cansaço emocional e sensação de colapso diante da falta de controle sobre o futuro.

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American Psychological Association (APA) define a ecoansiedade como o “medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental ao observar o impacto aparentemente irreversível das mudanças climáticas”. Segundo especialistas, o fenômeno não é uma doença, mas um reflexo natural da preocupação com o meio ambiente que, em níveis mais intensos, pode causar sofrimento psicológico real.

Uma pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com a Universidade de Oxford e o instituto GeoPoll, mostra que 56% das pessoas pensam em problemas climáticos pelo menos uma vez por semana. Mais da metade disse que a preocupação aumentou no último ano e esse índice chega a 63% em países em desenvolvimento, como o Brasil.

Ondas de calor extremo, queimadas, secas prolongadas e o aumento do nível do mar estão entre os principais fatores que alimentam esse sentimento. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação já alerta que todas as regiões do país devem continuar enfrentando mudanças climáticas significativas nas próximas décadas, o que pode intensificar o impacto emocional na população.

“Ao contrário de outros tipos de ansiedade, que podem ser desencadeados por situações pessoais ou sociais, a eco-ansiedade é focada na crise climática, na perda de biodiversidade, na poluição e nos desastres naturais”, explica o psiquiatra Andreyson Pantoja, professor do IDOMED.

Segundo o médico, o medo do colapso ambiental pode gerar sintomas semelhantes aos de outros transtornos de ansiedade, como insônia, fadiga e ataques de pânico.

Calor e poluição agravam sintomas na Amazônia

Na região amazônica, o calor extremo e a fumaça das queimadas têm provocado aumento no estresse e nos casos de mal-estar físico. A enfermeira Shirley Aviz, coordenadora de Enfermagem da Faci Wyden, explica que o corpo humano reage diretamente às altas temperaturas.

“As pessoas se queixam de mal-estar e de um cansaço constante, que se agrava com a falta de sono e o ar abafado. A fumaça das queimadas irrita as vias respiratórias, agrava crises alérgicas e interfere diretamente na qualidade do sono”, afirma.

“O Ministério da Saúde ressalta que o aumento da temperatura e da poluição do ar está diretamente relacionado ao agravamento de doenças cardiovasculares e respiratórias, algo que aqui na nossa região observamos de perto”, completa.

Populações vulneráveis são as mais afetadas

Para Shirley Aviz, a vulnerabilidade social é um dos principais fatores que ampliam o sofrimento emocional causado pelas mudanças climáticas. Ribeirinhos, indígenas e moradores de periferias urbanas estão entre os grupos mais expostos.

“Essas comunidades enfrentam calor intenso, moradias pouco estruturadas, falta de saneamento e, muitas vezes, dependem diretamente do clima para garantir o sustento. Situações como essas provocam estresse crônico e ansiedade, impactando a saúde física e mental”, afirma.

Sintomas e como lidar com a ecoansiedade

Os sintomas da ecoansiedade podem ser emocionais (como tristeza, raiva, medo e culpa), físicos, com fadiga e insônia, ou comportamentais, como evitar notícias sobre o clima ou se isolar socialmente.

Para aliviar o sofrimento, os especialistas recomendam hábitos simples de autocuidado: hidratar-se bem, evitar o sol nos horários de pico, usar roupas leves e buscar contato com a natureza.

“Manter-se hidratado, evitar o sol nos horários de pico, evitar roupas de tecido sintético e priorizar alimentos leves e regionais, como frutas ricas em água, entre elas a melancia e o cupuaçu, já faz diferença. Também é importante fazer pequenas pausas ao longo do dia, buscar locais ventilados e em contato com a natureza, além de praticar respiração consciente. A promoção da saúde mental passa pela criação de ambientes saudáveis e pelo contato com a natureza”, orienta Shirley Aviz.

Também é importante limitar o consumo de notícias negativas e se envolver em ações positivas, como projetos ambientais locais ou atividades comunitárias.

“Embora ainda não seja um diagnóstico formal, a eco-ansiedade é um sofrimento real, e precisa ser acolhida. Cuidar da mente também é parte da luta pela sustentabilidade”, afirma o psiquiatra Andreyson Pantoja.