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Tensão, política e COP 30: saiba os impactos no Pará da ação dos EUA na guerra Israel x Irã

Analistas paraenses alertam para o enfraquecimento da diplomacia internacional, a intensificação das tensões políticas e os riscos para a COP 30, especialmente diante da possível permanência do conflito

Jéssica Nascimento
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A recente intervenção dos Estados Unidos no conflito entre Israel e Irã, com ataques a instalações nucleares iranianas, traz consequências no cenário político e diplomático global, segundo especialistas paraenses em Relações Internacionais ouvidos pelo Grupo Liberal. Segundo eles, a entrada americana agrava a instabilidade regional, fragiliza a capacidade da ONU como mediadora e pode desencadear uma corrida armamentista, enquanto acirra pressões internas nos governos de Donald Trump e Benjamin Netanyahu. Para o Pará, o impacto político e diplomático se relaciona com a agenda ambiental proposta pela 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que exige mobilização internacional de potências econômicas.

Tensões e ameaça ao equilíbrio global

Segundo a internacionalista e professora Brenda Cardoso de Castro, o contexto político interno nos EUA — marcado por protestos contra políticas anti-imigração e polarização acirrada — influencia a condução da crise, com o presidente Donald Trump buscando apoio em sua base por meio da demonstração de força militar.
No plano internacional, a guerra na Ucrânia já vinha abalar as relações entre Europa e Rússia, e o atual alinhamento incondicional dos EUA com Israel pode aprofundar ainda mais as divisões na cena global. 

“Isso fragiliza a posição americana e pode abrir caminho para um aumento do isolacionismo e uma possível crise hegemônica”, avalia Brenda, que também é socióloga e Professora do curso de Relações Internacionais da UEPA (Universidade Estadual do Pará).

Brasil mantém postura diplomática tradicional em meio à crise

Diante do conflito, o Brasil adota uma posição cautelosa e firme na defesa do direito internacional, condenando os ataques e reforçando a necessidade de uma solução negociada para a região. 

“O Itamaraty tem o desafio de atuar simultaneamente em várias frentes, principalmente garantindo a segurança das comunidades brasileiras no Oriente Médio”, destaca a professora.

Conflito usado para ganhos políticos internos nos EUA e Israel

Para Brenda, no campo político interno, tanto Trump quanto o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu utilizam o conflito para fortalecer suas posições diante de crises domésticas. Enquanto Trump enfrenta críticas por sua política migratória e instabilidade econômica, a ação militar ajuda a mobilizar seu eleitorado. 

Já Netanyahu se apoia no estado de guerra para tentar se manter no poder, desviando a atenção das acusações de corrupção e da pressão popular, apesar do desgaste internacional.

Impactos indiretos para o Pará e desafios para a agenda ambiental global

Brenda também destaca que o conflito pode ter efeitos indiretos para o Pará e para o Brasil, especialmente no contexto da COP 30. 

“Conflitos envolvendo potências como EUA e Irã tendem a deslocar prioridades globais, o que pode prejudicar a mobilização internacional em torno de temas ambientais”, explica.

Apesar da incerteza sobre os desdobramentos futuros, a internacionalista ressalta que as tensões na região costumam oscilar, o que requer acompanhamento atento para avaliar os impactos reais na política internacional e nas agendas multilaterais.

Entrada dos EUA no conflito do Oriente Médio agrava cenário diplomático e equilíbrio de forças

Para o doutor e pesquisador em Relações Internacionais Mário Tito, a ação americana — com ataques direcionados a supostas instalações de enriquecimento de urânio iranianas — representa uma grave violação do direito internacional, ao ocorrer sem aval da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Isso enfraquece a ONU como espaço de mediação e aumenta a instabilidade regional”, destaca Tito.

Segundo ele, a reação internacional foi imediata: enquanto países como China, Rússia, Paquistão e Coreia do Norte condenaram os ataques, outras nações, incluindo o Reino Unido e parte da União Europeia, manifestaram apoio aos EUA, justificando a ação como uma medida para evitar que o Irã desenvolva armas nucleares.

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Diplomacia fragilizada e riscos de corrida armamentista global

A entrada direta dos Estados Unidos no conflito dificulta os esforços diplomáticos, especialmente porque a dinâmica de diálogo mudou radicalmente após o ataque unilateral. Segundo Tito, “sentar para discutir a não proliferação nuclear depois de já atacar o país é uma tarefa quase impossível”.

Além disso, a escalada pode gerar um perigoso efeito dominó, levando a uma corrida armamentista não apenas na região, mas em todo o mundo.

“Quando um país utiliza a força para se proteger, os vizinhos também se armam, gerando um dilema de segurança e instabilidade global”, explica o especialista.

Comunidades brasileiras no Oriente Médio enfrentam clima de insegurança crescente

A ampliação do conflito afeta diretamente as comunidades brasileiras que vivem em cidades estratégicas de Israel, como Tel Aviv e Haifa. Mário Tito alerta para a necessidade de cautela, já que o ambiente se torna cada vez mais inseguro para residentes e turistas brasileiros na região.

“Vários países já orientaram seus cidadãos a deixar o Oriente Médio diante do temor de uma guerra em maior escala”, diz o pesquisador. O crescimento do conflito também aumenta o risco de ações terroristas, que podem atingir indiscriminadamente civis e estrangeiros.

Pressões políticas internas em Israel e EUA se intensificam com o conflito

No cenário interno de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu enfrenta um momento delicado. Segundo Mário Tito, apesar de sua coalizão de extrema-direita apostar na retórica de defesa nacional para manter apoio popular, a intensidade dos ataques iranianos contra cidades israelenses tem minado a confiança da população.

Nos Estados Unidos, a decisão do presidente Donald Trump de ordenar ataques ao Irã sem aprovação do Congresso suscitou críticas dentro do país, embora sua base política e parte do Judiciário apoiem o movimento. “A opinião pública americana está dividida, com muitas manifestações contrárias à escalada da guerra e preocupações econômicas crescentes”, aponta Tito.

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