Senador mostra vídeos fora de contexto para responsabilizar governadores e causa confusão na CPI
Trechos foram gravados há mais de um ano, bem antes da OMS declarar o medicamento ineficaz para o tratamento da covid
O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) usou o momento de fala na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, desta quinta-feira (20), para expor uma série de vídeos de 2020 em que governadores de diferentes Estados brasileiros defendem o uso da hidroxicloroquina. Os trechos foram gravados há mais de um ano, no início da pandemia, bem antes da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o medicamento ineficaz para o tratamento da covid e dele se tornar alvo de politização.
A filmagem trouxe falas dos governadores Helder Barbalho (Pará), João Doria (São Paulo), Wellington Dias (Piauí), Flávio Dino (Maranhão) e Renan Filho (Alagoas). O governador paraense, por exemplo, comemora a distribuição da medicação para todos os municípios do Estado. "Nós do governo já fizemos a aquisição de 615 mil hidroxicloroquinas, 940 mil azitromicinas. Isso significa 188 mil tratamentos. Neste momento, nós estamos levando ao interior e a capital a quarta entrega", explicou o governador paraense, no vídeo postado em março de 2020.
Em outro trecho, também de março do ano passado, o governador João Doria (PSDB-SP) afirma ter sido o médico integrante do centro estratégico de combate à covid-19 do estado quem "sugeriu, recomendou [ao Ministério da Saúde] que distribuísse o medicamento na rede pública". O médico em questão, Davi Uip, reiterou o aconselhamento da oferta a todos os hospitais, "desde que seja autorizado por médico e consentido pelo paciente".
Marcos Rogério afirmou que quis "escancarar a falta de bom senso e até de vergonha daqueles que tentam criminalizar o presidente quando os seus mesmos governadores fizeram a mesma coisa” sobre a cloroquina. "Eu nunca defendo aqui a distribuição de qualquer medicamento sem qualquer prescrição médica."
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), chamou a atenção do senador para a data dos vídeos e afirmou que, à época, a ciência ainda estudava o medicamento. "Uma coisa que evolui com uma rapidez muito grande é a ciência. Isso aí foi em março de 2020. Em março de 2020, se eu tivesse contraído covid eu também tomaria cloroquina", comentou Aziz, antes de ser interrompido pelo filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro. Depois, o presidente comentou que os governadores e médicos mudaram de posição nos dias atuais.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) também rebateu os senadores Marcos Rogério e Flávio Bolsonaro, alegando que, à época em que os vídeos foram feitos, "o mundo estava com os olhares voltados para a cloroquina" e que a ciência evoluiu de lá para cá.
A estratégia gerou discussão entre os senadores na comissão, que alegaram que os trechos datavam do início da pandemia e que em nenhum deles houve a defesa do uso indiscriminado da cloroquina, estimulando a automedicação. "O presidente estava estimulando a automedicação [...]. O governador do Maranhão (Flávio Dino, do PC do B) orientava a não automedicação", defendeu Eliziane Gama.
A divergência gerou um bate-boca entre os parlamentares e foi necessário interromper a sessão, que retornou menos de 10 minutos depois.
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