CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Projeto do Marco Temporal divide opiniões de ruralistas e indígenas do Pará

Pauta será analisada pelo STF amanhã (07); setores cobram celeridade no processo, que tramita há 16 anos

Camila Azevedo
fonte

O Marco Temporal, projeto que visa a demarcação das terras indígenas, tem dividido opiniões no Pará. Para o setor ruralista, a aprovação da pauta representa avanço e segurança na produção. Já para representantes dos povos tradicionais, a proposta causa tristeza e revolta por entenderem que ameaça a sobrevivência das comunidades e da floresta. O PL 490/2007, como foi chamado na Câmara dos Deputados, teve expressiva votação favorável dos congressistas paraenses na última semana. Agora, o texto segue para análise no Senado.

O projeto também vai passar por julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que manteve o assunto na pauta da próxima quarta-feira (07). Até agora, o placar do julgamento está empatado em 1 a 1: o ministro relator do caso, Edson Fachin, manifestou-se contra ao citar que a Constituição reconhece o direito de permanência dos povos independentemente da data de ocupação. Entretanto, Kássio Nunes Marques, votou a favor do Marco e justificou que a solução concilia os interesses de todos os lados.

VEJA MAIS

image Contra marco temporal, Apib convoca mobilização em Brasília a partir desta segunda-feira (5)
Nos dias 5 a 7, lideranças indígenas e povos irão acompanhar em Brasília tentando impedir que PL seja aprovada

image 'Não haverá apressamento para submeter ao plenário no Senado', diz Pacheco sobre Marco Temporal
Presidente do Senado avisou que a Casa Alta do Congresso terá cautela frente ao Projeto de Lei do Marco Temporal das Terras Indígenas

image MPF pede rejeição do PL do marco temporal
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, vê o projeto de lei como um "genocídio legislado"

O Marco Temporal é de iniciativa do ex-deputado Homero Pereira. A medida estabelece que, para serem consideradas terras ocupadas tradicionalmente, deverá ser comprovado objetivamente que, na data em que a Constituição Federal foi promulgada, em 5 de outubro de 1988, esses territórios eram ao mesmo tempo habitadas, usadas para atividades produtivas e necessárias à preservação dos recursos ambientais e à reprodução física e cultural.

Proposta vai deixar muitos indígenas a mercê da pobreza, afirma liderança

Ronaldo Amanayé, liderança geral do povo Amanayé - localizado no município de Goianésia do Pará - e coordenador tesoureiro da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), afirma que a aprovação do Marco Temporal representa um retrocesso e causa indignação, tristeza e revolta entre a comunidade. Ele faz parte de um grupo que está acampado em Brasília para cobrar a inconstitucionalidade do projeto. “A população tem que entender que as terras não são importantes só para nós, mas para todos, para proteger o mundo”.

“Uma possível revisão das terras indígenas dá total liberdade para o estado fazer qualquer empreendimento sem consulta prévia. O estado poderia operar em qualquer circunstância que considerasse importante. Para nós, a preocupação é com a manutenção dos nossos costumes, dos nossos atos e cultura. O que eles querem é comercializar as terras indígenas, deixar as terras mais vulneráveis, tanto para a iniciativa pública, quanto privada. Deixamos muitos povos à mercê da pobreza, da favela…”, lamenta Ronaldo.

Além da ressalva quanto a vida da população das comunidades, a liderança indígena também cita as preocupações com o meio ambiente, se o Marco tiver sucesso e for aprovado nas demais instâncias. “Para nós, é tristeza e revolta, mas é mais um ato de resistência para provarmos que temos nosso direito garantido e isso não deve ser mudado. As pessoas estão contra os direitos dos indígenas, contra o meio ambiente e contra a emergência climática”, completa.

Setor ruralista defende o direito à propriedade privada

Por outro lado, representantes do setor ruralista torcem para que o Marco Temporal seja aprovado, visando segurança na produção e na construção da propriedade privada. Guilherme Minssen, zootecnista e diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Pará (Faepa), destaca que o debate está sendo realizado há 16 anos e precisa de uma resposta. Com isso, a expectativa do campo é que a Constituição seja seguida e o impasse resolvido.

“Nós, do setor produtivo rural, precisamos garantir o direito da propriedade privada, que é prevista na Constituição. A Faepa respeita todos os direitos dos povos indígenas, mas não pode fazer isso passando por cima dos direitos dos demais brasileiros. O Marco Temporal aprovado vai além do campo. Tem que trazer segurança jurídica à cidade, porque algumas cidades não iriam mais existir. Nós acreditamos que todos esses princípios, que foram colocados na primeira vez, vão continuar”, completa.

A segurança, tanto do indígena, quanto da produção, é vista pela Fiepa como prejudicial para o desenvolvimento econômico do país. “Isso coloca em risco não só a alimentação do brasileiro, mas de toda população que o Brasil alimente hoje, porque somos um grande exportador. Nós precisamos que esse assunto seja definitivamente resolvido. Não pode ficar 16 anos sem uma resposta. Imagina a insegurança que traz. Que fique bem claro, também, que o Marco temporal respeita a Constituição Nacional”, frisa Guilherme.

“O marco temporal, para nós, tem terras demarcadas e homologadas. Nós devemos agora proteger o produtor rural, que deve respeitar o uso de terras e não corresponde a nós derrubar árvores para termos maiores produções. Mas, jamais podemos imaginar nesse momento algo contra os produtores rurais. Esse impacto negativo seria muito ruim para a produção agrícola e pecuária do país e para todos os segmentos que movimentam a economia brasileira”, finaliza o diretor.

Senado

A reportagem procurou os senadores do Pará para saber o posicionamento sobre o Marco Temporal. O pedido foi retornado apenas por Jader Barbalho (MDB/PA), que afirmou que “a pauta, segundo o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, vai seguir a tramitação regimental, sem o caráter de urgência, como ocorreu na Câmara. Defendo os direitos dos povos indígenas e vou trabalhar para buscar o melhor tratamento para esse projeto e que seja amplamente discutido nas comissões temáticas permanentes”.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Política
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM POLÍTICA

MAIS LIDAS EM POLÍTICA