Presidente do Einstein Hospital Israelita defende inclusão da saúde nas pautas climáticas da COP 30

Em Belém, o presidente Sidney Klajner e o vice Henrique Neves apresentaram iniciativas voltadas à equidade em saúde, ao uso de novas tecnologias e à preparação dos sistemas diante dos efeitos das mudanças climáticas.

Andreza Dias / Especial para O Liberal
fonte

O presidente do Einstein Hospital Israelita, Sidney Klajner, afirma que as mudanças climáticas e as consequências dos extremos climáticos são uma questão de saúde. Para ele, é importante saber “de que maneira os sistemas podem estar mais bem preparados para atender as demandas de saúde”.  Sidney e o vice-presidente do hospital, Henrique Neves, estiveram em Belém para discutir a importância de incluir a saúde nas pautas climáticas, destacando projetos do hospital voltados à Amazônia. O presidente explicou que o Hospital Albert Einstein passou por uma reformulação de marca (mudando o nome), consolidou-se como um complexo sistema de saúde, atuando tanto em atendimentos públicos quanto privados, além de colaborar com o ensino e a pesquisa por meio de cursos e especializações. Em entrevista ao Grupo Liberal, os dirigentes ressaltaram a presença ativa do Einstein nas discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém.

O que o Einstein veio fazer no Pará, especialmente em relação à COP 30, e qual o rumo a seguir?

Sidney Klajner: Quando a gente fala de equidade em saúde, estamos falando em relação a como também as alterações climáticas vão fazer com que qualquer população de qualquer país, de qualquer região, sofra os impactos em relação a extremos de temperatura, principalmente ao clima, na sua saúde.

Então, consideramos isso também um objeto de cumprimento da nossa essência e missão. Quando a gente participa da discussão em relação às alterações climáticas, lembrando como uma organização de saúde, voltada em impactar a saúde da população em geral em busca de equidade. De qual forma, podemos atuar no sentido de chamar a atenção para os sistemas de saúde em relação aos extremos climáticos que vemos acontecer. De que maneira, os sistemas podem estar mais bem preparados para atender as demandas de saúde - especialmente das populações mais vulneráveis e com menor acesso à saúde, a equipamentos e instituições de saúde. Então, essa discussão de clima é, sim, um assunto de saúde!

Como o debate de saúde se relaciona com as mudanças climáticas?

Sidney Klajner: Quando falamos de tudo que pode contribuir para alterações climáticas, extremos climáticos, é tivemos a oportunidade de ver aqui no Brasil as chuvas no Rio Grande do Sul, as queimadas no ano passado que cobriram mais da metade do território brasileiro. Então, tudo isso impacta muito a saúde da população, principalmente na questão direta com calor e umidade. Belém teve um aumento de temperatura, por exemplo, muito grande nos últimos tempos. Isso afeta a capacidade cardiovascular e interfere negativamente. Aumentando a mortalidade, aumentando doenças respiratórias cardiopulmonares.

Então, a população também tem que estar preparada de alguma forma e, para isso, os sistemas de saúde têm que ser resilientes. Não é admissível, por exemplo, que os sistemas deixem de atuar por extremos de temperatura que comprometa toda a infraestrutura ou que não haja rota de fuga quando um hospital é fechado por causa de uma enchente. E a gente tem visto isso acontecer no mundo todo.

A falta de preocupação com a saúde ocorre especialmente nas populações onde o acesso já é mais difícil e onde deixam de ter o acesso maior, ficando até mais vulneráveis a essas condições de extremos climáticos.

Quais são os projetos atuais do Einstein no Pará, existem cursos de capacitação na área da saúde?

Henrique Neves: Então, o Einstein, tem um programa junto com o Ministério da Saúde que se chama Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sul de Operação Sul. Em função da condição tributária que o Einstein tem, ele faz investimentos ao longo de um triênio em projetos que são aprovados junto com o Ministério da Saúde. São hoje cerca de 40 projetos que tem característica de estarem distribuídos pelo território nacional. Então existe uma parte desses projetos que estão na região Norte e tem uma parte deles que estão dentro do Pará.

Um dos que nos parece mais interessante, é o chamado “TeleAmes”, que é a possibilidade de uma pessoa que esteja em qualquer localidade próxima de uma UBS que seja conectada a esse sistema. É telemedicina, né? Mas é uma telemedicina para a especialidade.

Então, se há necessidade de uma opinião de um especialista, este sistema permite que o médico de família local da Unidade Básica de Saúde (UBS) se conecte e possa fazer essa entrevista com essa consulta com o apoio de especialista. Existem grandes vantagens nisso. O primeiro é não é necessário fazer o deslocamento da pessoa para outra cidade. O segundo é que tem 95% de resolutividade. O problema é resolvido ali.

E o terceiro é que nessa interação, o próprio médico de família começa a ter a possibilidade de lidar diretamente com esse caso. Então, isso é um tipo um exemplo de um de um projeto que tem uma contribuição relevante para melhoria do sistema. São hoje 411 pontos na região Norte e Centro-Oeste, com mais de 450 mil consultas nesse momento

Poucas pessoas sabem, mas o Hospital atua tanto também no âmbito público, certo?

Henrique Neves: O Einstein está na área pública desde 2001, através de um projeto inicialmente que era de atenção primária na cidade de São Paulo, em dois distritos de saúde, que é Campo Limpo e Vila Andrade. Onde hoje são: quatro CAPS, três UBS's, quatro Assistências Médicas Ambulatoriais (AMA), e um pronto atendimento, uma UPA. Mas depois disso, o Einstein começou a assumir operações de hospitais.

Então são dois hospitais em São Paulo (Capital) e três no estado de São Paulo. São os dois no estado de Goiás, um em Aparecida de Goiânia e outro em Goiânia. Tem um que começa operação agora em Dezembro, em Cuiabá e tem mais um em Salvador. Então são nove hospitais ao todo, com mais de cerca de 2 mil leitos de capacidade.

Como o Hospital Einstein tem se incluído nas discussões de saúde e clima?

Sidney Klajner: Temos participado de eventos junto ao pacto global, eventos como a Semana do Clima em Nova York; a gente participou da COP o ano passado em Baku, em discussões assim. Então, assim, dentro desta COP, a gente vê bastante possibilidades, como já foi feito na Carta para a COP 30 dos temas a serem discutidos, a inclusão do tema saúde como algo primordial para as negociações que serão feitas durante a COP, especialmente no que diz respeito a sua importância aos investimentos necessários.

Então, entendemos que a nossa participação aqui é muito mais para chamar a atenção, porque isso é muito relevante dentro das discussões no momento em que a gente já fala dos impactos das alterações climáticas e não apenas da prevenção para que elas não ocorram.

Como está sendo, o uso das novas tecnologias, por exemplo, como a inteligência artificial pode vir aliada às pesquisas em saúde, as melhorias nesses processo?

Sidney Klajner: Encaramos muito qualquer tipo de tecnologia e a inteligência que lá chamamos de 'inteligência amplificada', porque ela não é artificial na medida que ela necessita sempre da inteligência humana para funcionar da maneira correta, sem perder a humanização do cuidado e a relação entre profissional de saúde e o paciente. Mas acreditamos que essas tecnologias são ferramentas para que a gente entregue aquilo que está na nossa essência ou no nosso propósito.

E quando uma ferramenta existe, que me permite entregar melhor diagnóstico, melhor tratamento e principalmente uma humanização melhor. Então ela é adotada sob a forma de melhorar tanto no âmbito da gestão quanto da segurança do paciente, quanto oferecendo cada vez mais qualidade do tratamento e principalmente dando ao médico uma condição melhor de trabalho, suportando decisão, ajudando o médico com a amplificação da sua inteligência. Ao mesmo tempo trazendo para o paciente desfechos melhores e principalmente com uma relação melhor e mais humanizada, algo que entre em discussão que se esse tipo de tecnologia poderá substituir eh a relação e a gente entende que não, que ela é uma ferramenta que permite nos aproximarmos cada vez mais do paciente. Eu sou médico, sou cirurgião, atendo paciente todos os dias e posso aqui comprovar na prática aquilo que eu tô falando em relação à sensibilidade com os pacientes.

Em meio a tantas questões devido às letras inelegíveis dos médicos, existe hoje o uso de IA para melhorar os receituários?

Sidney Klajner: No Einstein hoje temos um um sistema que ele escuta a minha consulta e coloca a informação relevante. Ele coloca no box adequado dentro do consultório eletrônico, sem eu precisar digitar. Isso é uma inovação que começou a entrar operacionalmente falando, há cerca de quatro, cinco meses, foi mais um primeiro semestre que começou. E ela vem sendo aperfeiçoada pelo uso.

Henrique Neves: Então, quanto mais a gente usa, é óbvio que ao terminar a consulta, verifica-se o que foi gerado. Antes de iniciar a consulta, ele [o médico] pede as informações que estão no prontuário do paciente, que vem de forma organizada. Ele não precisa olhar os prontuários. Então, já vem um sumário de tudo que é relevante, ele começa a pesquisa de um ponto muito melhor do que poderia fazer de outra forma. Porque a informação está organizada. Essas ferramentas podem também, numa região como essa em que os pacientes estão dispersos, com dificuldade de acessar as unidades de saúde, eles conferiram um tratamento acesso e mais qualidade a isso.

 

Como o Einstein enxerga o reconhecimento de 36% segundo Datafolha, dos profissionais de saúde que o indicam como aliado à ciência e à saúde?

Sidney Klajner: Eu acho que essa é uma forma de reconhecimento e ele é histórico, no momento em que o Einstein é fundado e coloca a inovação como algo primordial, coloca barreiras de segurança e questões de qualidade como algo dentro da nossa cultura organizacional, como algo pétreo. A atratividade e parceria com o corpo clínico que de fato é muito especial. O investimento em alta complexidade, quer dizer, o Einstein ao longo da sua história é um hospital que se equipou, que investiu na parte de capacitação profissional, no ensino, na pesquisa e na geração de inovação, especialmente em projetos de alta complexidade que diferenciam o hospital.

Então isso tem acontecido, não é esse o motivo da nossa existência, mas tem acontecido a o reconhecimento através de rankings que nos colocam como 22º melhor hospital do mundo, é, no âmbito geral, como o 28º hospital mais tecnológico no uso de tecnologias de inteligência artificial, robótica, telemedicina, por exemplo. Trás para nós uma confiabilidade e reputação, que impacta os médicos que têm o conhecimento de como avaliar por conta daquilo que é oferecido.

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Política
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM POLÍTICA

MAIS LIDAS EM POLÍTICA