Presidente do Einstein Hospital Israelita defende inclusão da saúde nas pautas climáticas da COP 30
Em Belém, o presidente Sidney Klajner, e o diretor-geral do Einstein, Henrique Neves, apresentaram iniciativas diante dos efeitos das mudanças climáticas
O presidente do Einstein Hospital Israelita, Sidney Klajner, afirma que as mudanças climáticas e as consequências dos extremos climáticos são uma questão de saúde. Para ele, é importante saber “de que maneira os sistemas podem estar mais bem preparados para atender as demandas de saúde”. Sidney e o diretor-geral do Einstein, Henrique Neves, estiveram em Belém para discutir a importância de incluir a saúde nas pautas climáticas, destacando projetos do hospital voltados à Amazônia.
O presidente explicou que o Einstein Hospital Israelita passou por uma reformulação de marca (mudando o nome), consolidou-se como um complexo sistema de saúde, atuando tanto em atendimentos públicos quanto privados, além de colaborar com o ensino e a pesquisa por meio de cursos e especializações. Em entrevista ao Grupo Liberal, os dirigentes ressaltaram a presença ativa do Einstein nas discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém.
O que o Einstein veio fazer no Pará, especialmente em relação à COP 30, e qual o rumo a seguir?
Sidney Klajner: Quando a gente fala de equidade em saúde, estamos falando em relação a como também as alterações climáticas vão fazer com que qualquer população de qualquer país, de qualquer região, sofra os impactos em relação a extremos de temperatura, principalmente ao clima, na sua saúde.
Então, consideramos isso também um objeto de cumprimento da nossa essência e missão. Quando a gente participa da discussão em relação às alterações climáticas, de qual forma podemos atuar no sentido de chamar a atenção para os sistemas de saúde em relação aos extremos climáticos que vemos acontecer? De que maneira os sistemas podem estar mais bem preparados para atender às demandas de saúde - especialmente das populações mais vulneráveis e com menor acesso à saúde, a equipamentos e instituições de saúde? Então, essa discussão de clima é, sim, um assunto de saúde!
Como o debate de saúde se relaciona com as mudanças climáticas?
Sidney Klajner: Quando falamos de tudo que pode contribuir para alterações climáticas e extremos climáticos. Por exemplo, tivemos a oportunidade de ver aqui no Brasil as chuvas no Rio Grande do Sul, as queimadas no ano passado que cobriram mais da metade do território brasileiro. Então, tudo isso impacta muito a saúde da população, principalmente na questão direta com calor e umidade. Belém teve um aumento de temperatura, por exemplo, muito grande nos últimos tempos. Isso pode afetar a capacidade cardiovascular e interferir negativamente na saúde das pessoas, aumentando a mortalidade, aumentando doenças respiratórias e cardiopulmonares.
Então, a população também tem que estar preparada de alguma forma e, para isso, os sistemas de saúde têm que ser resilientes. Não é admissível, por exemplo, que os sistemas deixem de atuar por extremos de temperatura que comprometa toda a infraestrutura ou que não haja rota de fuga quando um hospital é fechado por causa de uma enchente. E a gente tem visto isso acontecer no mundo todo.
A falta de preocupação com a saúde ocorre especialmente nas populações onde o acesso já é mais difícil e onde deixam de ter o acesso maior, ficando até mais vulneráveis a essas condições de extremos climáticos.
Quais são os projetos atuais do Einstein no Pará, existem cursos de capacitação na área da saúde?
Henrique Neves: Por ser uma organização de saúde de referência, o Einstein é parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS), do Ministério da Saúde (os projetos do Programa são geridos com recursos dos hospitais participantes, que se encaixam na definição de imunidade fiscal, em que as instituições desembolsam os valores correspondentes a determinados tributos e aplicam no desenvolvimento de projetos que impactam no desenvolvimento do SUS). No programa, faz-se investimentos ao longo de um triênio em projetos que são aprovados com o Ministério. No Einstein, são hoje cerca de 40 projetos distribuídos pelo território nacional e uma parte desses projetos está na região Norte - muitos no Pará.
Um dos que nos parece mais interessante, é o chamado “TeleAmes”, que é a possibilidade de uma pessoa que esteja em qualquer localidade próxima de uma UBS que seja conectada a esse sistema. É telemedicina, mas é uma telemedicina para a especialidade.
Então, se há necessidade de uma opinião de um especialista, este sistema permite que o médico de família local da Unidade Básica de Saúde (UBS) se conecte e possa fazer essa consulta com o apoio de especialista. Existem grandes vantagens nisso. O primeiro é não é necessário fazer o deslocamento da pessoa para outra cidade. O segundo é que tem 95% de resolutividade. O problema é resolvido ali.
E o terceiro é que nessa interação, o próprio médico de família começa a ter a possibilidade de lidar diretamente com esse caso. Então, isso é um tipo um exemplo de um de um projeto que tem uma contribuição relevante para melhoria do sistema. São hoje 411 pontos na região Norte e Centro-Oeste, com mais de 450 mil consultas nesse momento
Poucas pessoas sabem, mas o Hospital atua tanto também no âmbito público, certo?
Henrique Neves: O Einstein está na área pública desde 2001, através de um projeto inicialmente que era de atenção primária na cidade de São Paulo, em dois distritos de saúde, que é Campo Limpo e Vila Andrade. Onde hoje são: quatro CAPS, três UBS's, quatro Assistências Médicas Ambulatoriais (AMA), e um pronto atendimento, uma UPA. Mas depois disso, o Einstein começou a assumir operações de hospitais.
Então são dois hospitais em São Paulo (Capital) e três no estado de São Paulo. São os dois no estado de Goiás, um em Aparecida de Goiânia e outro em Goiânia. Tem um que começa operação agora em Dezembro, em Cuiabá e tem mais um em Salvador. Então são nove hospitais ao todo, com mais de cerca de 2 mil leitos de capacidade.
Como o Hospital Einstein tem se incluído nas discussões de saúde e clima?
Sidney Klajner: Temos participado de eventos junto ao pacto global, eventos como a Semana do Clima em Nova York; a gente participou da COP o ano passado em Baku, em discussões assim. Então, dentro desta COP, a gente vê bastante possibilidade. Como já foi feito na Carta para a COP 30 dos temas a serem discutidos, a inclusão do tema saúde como algo primordial para as negociações que serão feitas durante a COP, especialmente no que diz respeito a sua importância aos investimentos necessários.
Então, entendemos que a nossa participação aqui é muito mais para chamar a atenção, porque isso é muito relevante dentro das discussões no momento em que a gente já fala dos impactos das alterações climáticas e não apenas da prevenção para que elas não ocorram.
Como está sendo, o uso das novas tecnologias, por exemplo, como a inteligência artificial pode vir aliada às pesquisas em saúde, as melhorias nesses processo?
Sidney Klajner: Encaramos com seriedade qualquer tipo de tecnologia. No Einstein, chamamos a inteligência artificial de "inteligência amplificada", pois ela não é artificial na medida em que sempre necessita da inteligência humana para funcionar corretamente, sem perder a humanização do cuidado e a relação entre o profissional de saúde e o paciente. Acreditamos que essas tecnologias são ferramentas que nos permitem entregar aquilo que está na nossa essência e no nosso propósito.
Quando existe uma ferramenta que me permite oferecer um diagnóstico melhor, um tratamento mais eficaz e, principalmente, uma humanização aprimorada, ela é adotada com o objetivo de promover melhorias tanto na gestão quanto na segurança do paciente, além de oferecer cada vez mais qualidade no tratamento. Ela também proporciona ao médico melhores condições de trabalho, apoiando a tomada de decisão e ampliando sua inteligência.
Ao mesmo tempo, essas tecnologias trazem ao paciente desfechos mais positivos e, sobretudo, uma relação mais próxima e humanizada. Surge, então, a discussão sobre se esse tipo de tecnologia poderia substituir a relação humana, e nós entendemos que não. Ela é uma ferramenta que nos permite estar cada vez mais próximo do paciente.
Sou médico, sou cirurgião, atendo pacientes todos os dias e posso comprovar na prática aquilo que estou dizendo sobre a sensibilidade no cuidado com os pacientes.
Em meio a tantas questões devido às letras inelegíveis dos médicos, existe hoje o uso de IA para melhorar os receituários?
Sidney Klajner: No Einstein hoje temos um um sistema que ele escuta a minha consulta e coloca a informação relevante. Ele coloca no box adequado dentro do prontuário eletrônico, sem eu precisar digitar. Isso é uma inovação que começou a entrar operacionalmente falando, há cerca de quatro, cinco meses, foi mais um primeiro semestre que começou. E ela vem sendo aperfeiçoada pelo uso.
Henrique Neves: Então, quanto mais a gente usa, é óbvio que ao terminar a consulta, verifica-se o que foi gerado. Antes de iniciar a consulta, ele [o médico] pede as informações que estão no prontuário do paciente, que vem de forma organizada. Ele não precisa olhar os prontuários. Então, já vem um sumário de tudo que é relevante, ele começa a pesquisa de um ponto muito melhor do que poderia fazer de outra forma. Porque a informação está organizada. Essas ferramentas podem também, numa região como essa em que os pacientes estão dispersos, com dificuldade de acessar as unidades de saúde, eles conferiram um tratamento acesso e mais qualidade a isso.
Como o Einstein enxerga o reconhecimento de 36% segundo Datafolha, dos profissionais de saúde que o indicam como aliado à ciência e à saúde?
Sidney Klajner: Eu acho que essa é uma forma de reconhecimento e ele é histórico, no momento em que o Einstein é fundado e coloca a inovação como algo primordial, coloca barreiras de segurança e questões de qualidade como algo dentro da nossa cultura organizacional, como algo pétreo. A atratividade e parceria com o corpo clínico que de fato é muito especial. O investimento em alta complexidade, quer dizer, o Einstein ao longo da sua história é um hospital que se equipou, que investiu na parte de capacitação profissional, no ensino, na pesquisa e na geração de inovação, especialmente em projetos de alta complexidade que diferenciam o hospital.
Tem acontecido a o reconhecimento através de rankings que nos colocam como 22º melhor hospital do mundo (ranking da revista Newsweek), e, no âmbito geral, como o 28º hospital mais tecnológico no uso de tecnologias como inteligência artificial, robótica, telemedicina. Traz para nós uma confiabilidade e reputação, que impacta os médicos que têm o conhecimento de como avaliar a organização por conta daquilo que é oferecido.
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