Moradores alegam não ter contato com indígenas nas terras demarcadas

Território foi homologado em 2007, durante o segundo mandato do presidente Lula

Emilly Melo
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Sem um rumo definido, moradores da Vila Renascer, continuam, nesta quarta-feira (1º), o processo de desocupação das terras indígenas Apyterewa e Trincheira Bacajá, localizadas entre os municípios de São Félix do Xingu, Altamira, Anapú e Senador José Porfírio, no sudeste paraense. Os colonos relatam não ter para onde ir e apontam o descaso público no processo de desocupação.

“A minha mudança está ali jogada, debaixo de uma lona. Eu tenho as minhas coisas, mas se me tomar [a propriedade], o que sobra? Sobra nada”, revela Ocimar do Prado, que diz morar há 20 anos na região. “Quando cheguei aqui não tinha nada de terra indígena”, ressalta o morador.

image Ocimar retira os pertences da antiga propriedade para desocupação (Igor Mota/ O Liberal)

Os moradores da comunidade apontam a negligência pública no processo de desocupação e dizem não ter contato com indígenas do entorno. Com os pertences deixados na rua, Luciana da Conceição conta que também não tem para onde ir e optou por deixar os filhos na casa da sogra por receio. “Os policiais não saiam lá de casa e a minha menina tem medo de polícia”, desabafa Luciana.

Integrante da comissão externa — aprovada pela Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) para acompanhar o processo de desintrusão —, o deputado estadual Rogério Barra (PL-PA) afirma que a comitiva pretende acionar os órgãos de fiscalização ambiental pelos maus tratos de animais que estão acontecendo durante a desocupação da região.

image Carreta que transportava gados dos colonos cai de ponte na estrada (Igor Mota / O Liberal)

“É um processo triste, chocante e impactante para quem presencia. A gente percebe esses colonos tocando o seu gado. Uma quantidade de gado que não consegue nem resistir durante essa saída, que passam fome, sede, vemos várias carcaças de animais pela estrada”, destaca Barra.

Demarcação de terras

Segundo o deputado, a vila fica distante cerca de 110 km das comunidades indígenas, de posse tradicional da etnia Parakanã. Ele atribui o início dos conflitos na região à aprovação da expansão das terras indígenas como uma das condicionantes para a obra de Belo Monte, que ampliou a extensão das terras indígenas de 200 mil para 773 mil hectares, homologados em 2007, durante o segundo mandato do presidente Lula.

“[A demarcação] passou por cima dos colonos que viviam há décadas na região e comprometeu o bom convívio”, indica Rogério.

O também deputado estadual Toni Cunha (PL-PA), que esteve na comunidade acompanhando a operação do Governo Federal, lamenta a situação enfrentada pelos moradores.

“É uma situação muito triste, as pessoas com animais morrendo pelas ruas, sem ter onde colocá-los, com as mudanças jogadas em galpões. Hoje, nós não vimos nenhuma ação das forças policiais para desocupar, mas o que é lamentável é a ausência de uma política pública do governo federal para se antecipar a tudo isso, as pessoas estão com gado morrendo sem ter onde colocar ou como transportar adequadamente. Muitos animais morrendo, galinhas, gado, porcos, morrendo de sede, morrendo porque estão na beira da estrada sem ter o que comer”, relata o parlamentar.

image Território de Apyterewa foi  homologado em 2007 (Igor Mota / O Liberal)

 

O Ministério dos Povos Indígenas afirmou que “foram realizados 119 cadastros pelo INCRA que podem garantir o acesso ao Programa Nacional de Reforma Agrária ou a outros programas de assistência social do governo após a saída das TI”.

Segundo o boletim divulgado pela Secretaria-Geral da República, na última terça-feira (31), a Justiça Federal em Marabá “estipulou multa de R$ 100 mil caso agentes públicos locais estimulem a resistência à desintrusão ou divulguem vídeos com conteúdo inverídico. A determinação faz parte de decisão em ação movida por FUNAI, Incra e Ibama”.

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