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Governo britânico vai investir R$40,5 milhões em bioeconomia no Pará, Amazonas e Rondônia

Ministra do Meio Ambiente do Reino Unido visita projetos de agricultura sustentável em Moju

Eduardo Laviano
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A Ministra do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido, Thérèse Coffey, esteve no Pará na última semana para conhecer projetos de agricultura sustentável e bioeconomia na comunidade quilombola de São Manoel, no município de Moju, que será um dos beneficiados pelo Programa Rural Sustentável na Amazônia, financiado pelo governo britânico.

A iniciativa chega na segunda fase e busca valorizar culturas extrativistas baseadas na floresta em pé e disponibilizará 7,2 milhões de libras (R$45,50 milhões, na conversão atual) para os estados do Pará, Amazonas e Rondônia. O valor faz parte de um investimento total de 62,3 milhões de libras (aproximadamente R$ 409,78, na conversão atual) que o Reino Unido disponibilizou para apoiar financeriamente projetos sustentáveis no Brasil desde 2017.

Coffey estava acompanhada da Embaixadora Britânica no Brasil, Stephanie Al-Qaq, e viu de perto a produção de alimentos típicos da região, como castanha-do-pará, açaí, pimenta-do-reino, cupuaçu e cacau, todos resultantes do sistema conhecido como "roça sem fogo", sem queimadas e sem agredir o meio ambiente.

image Coffey visitou a comunidade quilombola de São Manoel, no município de Moju (Carmen Helena/O Liberal)

Na opinião de Coffey, a experiência dos produtores de Moju deve ser potencializada e servir de exemplo para o mundo. Ela acredita que os conhecimentos acumulados pelos quilombolas da região precisam se converter em prosperidade e melhores condições de vida para quem atua nesta cadeia econômica.

"Foi uma experiência incrível pois estamos acostumados a ver só o produto final, após todo o beneficiamento. Mas agora vi tudo desde o início com o produto in natura, com baixas emissões de carbono, com fertilizantes naturais que resultam de técnicas milenares dos povos da Amazônia, com participação de toda a comunidade. São verdadeiros guardiões da floresta. Além disso, os planos de bioeconomia do Pará são interessantes e casam com os objetivos que buscamos no Reino Unido", afirma.

A titular da pasta ambiental do Reino Unido veio ao Brasil para representar os britânicos na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se disse animada para parcerias com o novo governo, em especial por conta das escolhas de Marina Silva e Sônia Guajajara para os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, respectivamente.

"Fiquei muito grata por me reunir com elas já no primeiro dia de governo. Já tínhamos relações estabelecidas com o governo brasileiro, mas agora está mais evidente o tamanho da vontade e ambição da administração Lula quando o assunto é ambiente, mudanças climáticas e agricultura sustentável. Com o papel que Lula dá para as ministras, é notável que isso agora faz parte do coração do governo", avalia.

image Embaixadora acredita que relações entre Reino Unido e Brasil podem se fortalecer ainda mais (Carmen Helena/O Liberal)

Para a embaixadora Stephanie Al-Qaq, a parceria entre os dois países já é robusta, mas há oportunidades para que ela seja ainda mais fortalecida.

"Ouvir dos paraenses os desafios de proteger e produzir com a floresta viva foi inspirador. Estar aqui nos ajuda a entender também os planos do governo do estado e como podemos apoiar. As pessoas estão cada vez mais conscientes sobre a origem dos produtos. Hoje comi tantos produtos direto da natureza, sem conservantes, sem açúcar. E isso será cada vez mais valorizado. Então o Pará está em muita vantagem para aproveitar este momento de destaque da bioeconomia, pois é um mercado que está crescendo".

O Programa Rural Sustentável conta ainda com as parcerias do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade, bem como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Atualmente, o Reino Unido é o terceiro maior parceiro do Brasil em clima e natureza, com mais de 250 milhões destinados ao Brasil.

Em entrevista para a Reuters, Coffey afirmou que o Reino Unido está analisando "seriamente" a entrada do país no Fundo Amazônia, que já apoia iniciativas sustentáveis no Brasil com suporte financeiro oriundo da Alemanha e da Noruega.

Quilombolas acreditam que portas irão se abrir após visita

Por enquanto, o financiamento de projetos do Programa Rural Sustentável na Amazônia em Moju ainda depende de editais a serem lançados para que os produtores se inscrevam.

Mas para Maria das Dores Freire, presidente da Associação Quilombola de Agricultores de São Manoel, a esperança de melhores condições de trabalho e de redução da pobreza na região já aparece no horizonte.

Atualmente, 20 famílias da comunidade estão envolvidas no plantio, colheita e venda de produtos regionais. Freire trabalha na roça desde criança e aprendeu tudo quando a queima ainda era parte da rotina da família.

Tudo mudou nove anos atrás, quando Michinori Konagano, da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu, mudou a visão dos quilombolas sobre o processo extrativista com novas técnicas que incluem fertilizantes orgânicos e planejamento sazonal. A queima, então, foi abolida.

"O trabalho da roça sem fogo é construído de maneira muito lenta porque muitas pessoas não acreditam que ele pode prevalecer. Além disso, faltam recursos financeiros, é um trabalho árduo, com as mãos, com machados, de maneira bruta e sem máquinas. Essa visita pode fazer outras pessoas acreditarem que nosso trabalho é bom e que vale a pena investir nele", diz.

image Maria afirma que interesse do Reino Unido na bioeconomia paraense pode alavancar investimentos (Carmen Helena/O Liberal)

Outro desafio é a agregação de valor, já que os produtos são vendidos in natura por falta de condições de beneficiamento.

Francisco Martins é produtor e sonha em ver os frutos da terra saírem do território quilombola prontos para o consumo, embalados com o selo da comunidade e reconhecidos mundo afora.

Ele produz açaí, cacau, banana, pimenta-do-reino e pitaia e estima que o maquinário necessário para a potencializar a produção na região custaria em torno de R$500 mil.

"Estou feliz pois esta visita traz visibilidade. Ainda temos muitos percalços com a questão da infraestrutura, escoamento de produção. Nosso diferencial é produzir em larga escala sem agredir o meio ambiente, sem derrubar, sem agrotóxico, sem tocar fogo. E temos orgulho disso. Espero que no futuro possamos vencer essas barreiras", diz.

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