ENTREVISTA EXCLUSIVA: Eduardo Leite defende 'melhor via' e fim do radicalismo no país

Governador do Rio Grande do Sul disputa a indicação de seu nome para concorrer à Presidência no próximo ano pelo PSDB

O Liberal

Aos 36 anos de idade, Eduardo Leite é o governador mais jovem do País. Apesar disso, possui uma longa trajetória na política. O gestor gaúcho foi prefeito de Pelotas entre 2013 e 2016, secretário municipal, vereador e presidente da Câmara Municipal na mesma cidade. Agora, quer chegar ao posto mais alto do Executivo Federal.

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Declaração foi dada em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, ao responder sobre a decisão da Executiva do PSDB de retirada provisória de 92 filiados do partido no diretório de São Paulo

Conciliar a agenda da gestão do governo do Estado do Rio Grande do Sul com os compromissos e articulações para a busca de apoio no PSDB para 2022 não tem sido fácil. Mas, Eduardo Leite não perde o sorriso e se desdobra para atender e cumprir a extensa agenda.

Ele atendeu prontamente solicitação de entrevista ao Grupo Liberal e falou com exclusividade ao diretor de Conteúdo, Daniel Nardin, mas, nada de fôlego, escritório e câmera para uma videochamada. A conversa ocorreu por telefone mesmo, à moda antiga, durante trajeto do centro de Natal, no Rio Grande do Norte, até o aeroporto. Em seguida, Leite seguiria ainda para Teresina, no Piauí e São Luís, no Maranhão, para então desembarcar em Belém, para encontros com lideranças locais, como o ex-governador Simão Jatene, o ex-senador Flexa Ribeiro e demais aliados, em especial a juventude tucana, que declarou apoio a Leite na disputa com o governador João Doria, de São Paulo. O paulista, por sua vez, tem ao apoio no Pará da atual direção do partido, que é presidido pelo deputado federal Nilson Pinto.

Durante a entrevista, Leite comentou sobre a expectativa para as prévias do partido, que vão ocorrer dia 21 de novembro, as suspeitas de fraudes envolvendo o PSDB paulista, relação com os governadores João Dória e Helder Barbalho, planos para a Amazônia e sobre a chamada terceira via. “Os dois campos que polarizam as eleições polarizam também a rejeição, porque pensam simplesmente um em destruir o outro. Então, a população sabe o que não quer”. Ele também defende uma candidatura própria ao governo do Pará e cita o nome do ex-governador Simão Jatene.

Veja a entrevista:

P: A executiva nacional definiu a retirada provisória de 92 filiados do PSDB de São Paulo que tenderiam a ser pró-Dória nas prévias. Essa decisão da Executiva confirma uma suspeita de irregularidade que vai ser analisada caso a caso. Qual sua opinião sobre essa decisão?

R: Ela mostra, de forma clara, que são contundentes as provas, que são fortes indícios de fraudes. A retirada desses eleitores é uma ação importante para não manchar essas prévias que devem ser de uma decisão com base nas regras estabelecidas. A regra é de filiação até o dia 31 de maio e o que nós observamos foram filiações que foram feitas depois, mas com data retroativa. Um caso grave, que precisa de rigorosa apuração, com consequências para quem tenha deliberadamente fraudado essas filiações.

P: O Dória, em viagem internacional, chegou a comentar que isso parecia mais choro e reclamação.

R: O que ele chama de choro, eu chamo de ética. A democracia depende de regras bem estabelecidas. As regras do jogo estão estabelecidas: filiações até 31 de maio. Filiações que tenham sido feitas posteriormente com data retroativa é fraude e precisa de apuração e consequência. Ética, não choro!

P: E tem que buscar essa coesão depois, porque se define um candidato, então, o PSDB tem que caminhar junto. Qual sua expectativa para o resultado das prévias? Tem alguma pesquisa?

R: Estamos muito otimistas. A gente está acompanhando a prévia, com muita expectativa na vitória. Claro, o momento das prévias é quando a gente discute as nossas divergências, as nossas diferenças, em candidatos diferentes que somos. Mas estamos no mesmo partido, temos um pensamento semelhante em relação a como o país deve sair da crise e, certamente, sairemos unidos para fortalecer uma alternativa democrática no centro para que o País saia dessa divisão, que é de tentativa de destruição de um ou e outro, de quem pensa diferente, e possamos assim colocar toda a nossa energia na reconstrução do País pra retomar crescimento econômico, gerar emprego e renda pra população.

P: Agora, sendo você o pré-candidato e depois candidato do PSDB, o governador Dória ficaria no comando de São Paulo que é o maior colégio eleitoral do País. Você teme a possibilidade e isso vem sendo discutido, de um possível ‘corpo mole’, por isso uma aliança ali com o Alckmin ou algo nesse sentido?

R: Tenho total confiança nas lideranças do PSDB de São Paulo, um grande partido, com uma grande história, já 28 anos de governo tucanos, então, muitas lideranças. Nós temos um governador, João Dória, com muita experiência, com muita história, e isso precisa ser respeitado e com certeza estarão juntos conosco mobilizados para que o País volte ao centro com sensatez.

P: Qual o perfil de um vice? Você já está pensando nisso também? Ou qual o partido?

R: É uma discussão reservada para depois das prévias. A gente precisa convencer dentro do partido que o nosso caminho é o melhor para o País, como eu disse, buscamos ganhar as eleições não pelos defeitos do adversário, mas pelas qualidades do nosso projeto. Estamos confiantes que isso vai se impor como projeto dentro do partido, pela própria militância, pelos seus filiados, e depois vamos abrir a negociação, a conversa com os demais partidos. É interessante, importante, que a gente possa ter diversidade na chapa, mas isso o Brasil tem uma série de diversidade: a diversidade regional, a diversidade de raça, de religião, de gênero e nós temos apenas duas posições na chapa: o presidente e o vice. É impossível colocar toda essa diversidade da população na chapa que vai concorrer. O importante é que haja compreensão do respeito, das diferenças e da dimensão das diversidades que a gente tem na população brasileira, para que a gente possa representar um país de dimensões continentais com diferenças, como é o nosso.

P: Você cogita a possibilidade de uma chapa puro sangue ou é buscar a articulação com outros partidos mesmo?

R: No modelo político eleitoral que o Brasil tem, da distribuição, dispersão entre tantos partidos políticos, é natural que haja uma composição com outro partido. Mas, nada pode ser descartado nesse momento, é uma discussão para o futuro.

P: Queria que você falasse sobre a chamada terceira via, pra sair um pouco dessa polarização Bolsonaro/Lula. Você se considera como terceira via?

R: Não, chamem o nome que quiser, terceira via, alternativa democrática, primeira via, melhor via, o nome que quiser dar. O importante é que o país saia desse radicalismo. Os dois campos que polarizam as eleições polarizam também a rejeição, porque pensam simplesmente um em destruir o outro. Então, a população sabe o que não quer. Ela não conhece todas as opções para pode fazer uma escolha e não está na mesa dos brasileiros esse debate eleitoral ainda, mas eu confio que no momento apropriado nós vamos ter a população sim entendendo e acompanhando quem são os nomes, com a viabilização da terceira via, alternativa, democrática, o nome que tiver que ter, e estamos trabalhando para manter o diálogo entre os nomes disponíveis no campo político para que a gente possa fazer uma composição no momento apropriado.

P: Qual tua avaliação, enquanto governador, da gestão Bolsonaro? Porque acaba tendo uma relação direta entre Estado e União.

R: É uma gestão sem agenda e de muitos conflitos. O Brasil está vendo a inflação de mais de dois dígitos tirar o poder de compra da população. A gente vê uma perspectiva de crescimento econômico muito abaixo do que outros países terão até o ano que vem. Enquanto Europa, Estado Unidos e outras economias emergentes estarão crescendo mais de 4%, o Brasil, a cada semana, vê rebaixada a perspectiva de crescimento econômico. Já fala em 1,5% e infelizmente continua numa trajetória de revisão pra baixo na perspectiva do PIB do ano que vem, o que significa menos emprego, menos renda, menos qualidade de vida pra população e além disso um desastre de insensibilidade na condução da pandemia. Por isso que o Brasil precisa sair desse conflito, desse clima de guerra e confronto e passar a atacar os problemas mais urgentes que estão aí, o desemprego, o baixo crescimento econômico, a inflação, que está prejudicando a vida dos brasileiros.

P: O ex-presidente Lula vai utilizar muito os dados, o que ele considera então os trunfos dele comparando a gestão dele com a atual gestão. Que trunfos você poderia trazer do governo do Rio Grande do Sul também para o brasileiro conhecer e como, num eventual confronto com o Lula no primeiro ou segundo turno, seria esse embate?

R: Os dados do Lula são de uma eleição da Dilma que levou o Brasil à maior recessão econômica da nossa história. O Brasil teve o maior retrocesso econômico já registrado na história, em 2015 e 2016, por conta de política desastrosa feita na economia nos governos do PT. A gente vai tratar sobre os problemas do presidente e o que Brasil precisa enfrentar, como nós fizemos no Rio Grande do Sul. Tivemos que fazer reformas, tivemos que fazer privatizações, modernizamos nossa economia e construímos soluções, sempre negociadas, com diálogo, politicamente. O Rio Grande do Sul que eu peguei em 2019 era um Estado que nem pagava o salário do servidor civil em dia, não conseguia investir, tinha atraso nos pagamentos de servidores, de fornecedores, prestadores de serviço. A gente tem um Rio Grande do Sul hoje organizado, que paga as contas em dia, abre espaço para investimento. É preciso ter responsabilidade com as contas públicas. O Brasil que a gente vai pegar em 2023 vai precisar também de medidas que ajustem o Governo, que mostrem claro equilíbrio fiscal, e que estejam à altura dos desafios do presente para construir um futuro para os brasileiros.

P: Trazendo um pouquinho para o Estado do Pará, aqui está uma discussão atual se deve ou não, se vai ter ou não uma candidatura própria ao Governo do Estado e ao Senado. Como você tem acompanhado as discussões?

R: Acho que é pertinente nós trabalharmos na lógica de construir uma candidatura própria ao Governo. O PSDB que já governou e teve gestão pública importante no Estado do Pará, especialmente com o ex-governador Simão Jatene, tem que buscar o protagonismo. Sempre existe a possibilidade de se abrir outros encaminhamentos, mas eu acho que é natural que para o tamanho, para a história, para a trajetória que o PSDB tem, buque protagonizar o processo eleitoral com candidaturas próprias.

P: Recentemente saiu uma decisão do TSE confirmando a inelegibilidade do ex-governador Simão Jatene, que já disse que vai recorrer. Ele é um nome que vocês têm considerado para apoiar a candidatura aqui no Estado?

R: Essa é uma decisão em nível local que deve ser tomada. Mas o ex-governador tem a possibilidade de judicialmente fazer a sua defesa e ele é um nome que merece o nosso respeito. Nós respeitamos a decisão em nível local que o PSDB vier a tomar.

P: E sobre a vinda recente do João Dória, que está na disputa das prévias, pelo PSDB. Ele esteve aqui com o presidente regional do partido, o deputado federal Nilson Pinto, e deixou a impressão de que o partido estava com ele. Essa vinda tua é também passando um recado, de que existe uma outra ala do partido que defende o teu nome? Como você vê essa movimentação interna?

R: O Pará é um estado super importante e nós visitamos na expectativa de obter bons apoios. Estamos seguros que vamos ter boa adesão de lideranças no Estado do Pará, conosco, neste processo eleitoral.

P: E a relação enquanto governador, com o governador Helder Barbalho, porque vocês têm participação em várias reuniões? E existe também alguma possibilidade de diálogo?

R: Temos uma boa relação com o governador Helder Barbalho, compartilhamos experiências de governo, debatemos assuntos que interessam aos governadores e então tenho uma boa relação republicana e de muito respeito com o governador. As composições dependem da decisão política local. Sou membro do PSDB há vinte anos e respeito as decisões no âmbito local, respeitadas as questões políticas do Estado, onde há lideranças políticas que entendem a realidade local.

P: Sobre a Amazônia, qual a visão de projeto? Qual sua ideia mais geral?

R: É fundamental que o Brasil demonstre claro compromisso de combate ao desmatamento. A maior parte do desmatamento acontece nas áreas públicas não destinadas, não tem relação sequer com desmatamento para exploração econômica e o Brasil já cresceu mais economicamente desmatando menos. O Brasil precisa demonstrar para o mundo uma estratégia de desenvolvimento, inclusive para receber investimentos privados que têm compromisso com o combate ao desmatamento. Então, a proteção à Amazônia é interesse de todos e ao mesmo tempo que se trabalha a proteção para se manter a floresta em pé, deve se buscar as alternativas econômicas que respeitam o meio ambiente, que respeitam a floresta e podem significar desenvolvimento econômico para a região. É fundamental que haja políticas públicas por parte do governo nacional, apoiando o desenvolvimento econômico local, até para oferecer alternativas de desenvolvimento que permitam a região reduzir o desmatamento que se observa.

P: A gente sabe quanto você teve um destaque maior no cenário nacional após a entrevista que concedeu ao Pedro Bial, em que você se declarou homossexual. Até que ponto você acha que isso pode interferir de alguma forma nas eleições do ano que vem?

R: Ninguém vai deixar de ser eleito por ser heterossexual, ninguém pode se sentir menor ou inferior na sua capacidade de contribuição com o nosso país por ser homossexual. Fiquei muito feliz com a receptividade, com o acolhimento. Tenho certeza que assim como não deve ser motivo de eleição, não será motivo de não eleição.

P: O que você pensa para o Brasil a partir de 2023?

R: Um Brasil que deixe de querer destruir uns aos outros e passe a atacar os problemas. Que busque focar no centro da agenda de governo, de combate às desigualdades, o combate ao desmatamento, o respeito ao meio ambiente e que para promover as políticas públicas nessas áreas tenha a responsabilidade com as contas públicas, façam as reformas que precisam ser feitas para simplificar o país e dar espaço para quem quer empreender, pra tornar um governo mais enxuto e capaz de caber no bolso do cidadão, reduzindo impostos. Que seja, portanto, um país que retome a atividade econômica, gerando emprego e desenvolvimento para a sua população, sem uma divisão política que não significa passarmos a pensar todos a mesma coisa para possibilidade de convivermos com as nossas diferenças.

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