COP 30: ‘Na hora H, nada sai do papel. Não podemos aceitar isto na Amazônia’
Afirmação é de Aldo Arantes, deputado constituinte que esteve em Belém nesta semana à frente de um evento preparatório para a COP; confira a entrevista na íntegra.

Aldo Arantes, um dos deputados responsáveis pela formulação da Constituição de 1988, a lei máxima brasileira, esteve em Belém para se reunir com líderes políticos, representantes de instituições e sociedade civil em um evento preparatório para a COP 30, organizado pela Associação dos Advogados pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC). Ao Grupo O Liberal, ele detalhou que o objetivo da agenda foi realizar, de forma conjunta, uma análise crítica sobre as potencialidades e problemas da Amazônia, e propor soluções concretas.
“Não podemos aceitar que a COP 30 seja realizada aqui sem que dela resulte algo concreto. Já participei de várias iniciativas e a verdade é que quando chega na hora do “vamos ver”, a conclusão é quase inatingível, sobretudo pelos grandes países, que teriam recursos para ajudar no combate às mudanças climáticas. Na “hora H”, por exemplo, em Paris, estabeleceu-se uma meta de US$ 100 bilhões por ano, mas isso praticamente não saiu do papel. Poucos países se comprometeram efetivamente a fazer doações”, aponta Arantes.
Sexta (15) e sábado (16), Aldo Arantes coordenou a Conferência Nacional do Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, evento que reuniu diversos representantes institucionais e da sociedade civil no campus da Alcindo Cacela da Universidade da Amazônia (Unama). Os dois dias de debates resultaram na Carta Amazônia, documento que reúne os principais pontos debatidos no evento e que reforça ao mundo que a região tem voz ativa na construção de um projeto sustentável de desenvolvimento.
“A conferência e a carta são apenas o primeiro passo. Precisamos mobilizar a sociedade para chegar à COP 30 com força suficiente para pressionar por conclusões concretas. Somente através da mobilização social vamos, efetivamente, conseguir resultados. A participação de autoridades, com o suporte da sociedade civil e da comunidade científica, é crucial para assegurar um desenvolvimento que combine economia, questões sociais e meio ambiente”, defende Arantes, que é o coordenador nacional da ADJC.
O evento realizado esta semana reuniu, entre outros, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues; Vanessa Grazziotin, diretora executiva da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA); secretários de Estado; os reitores da Unama, Betânia Fidalgo, e da Universidade Federal do Pará (UFPA), Emmanuel Tourinho; além de representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e outros órgãos federais.
Aldo informa que o evento apresentou um panorama das estratégias e ações que vêm sendo implementadas por essas entidades para a promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia. Além disso, foi apresentada uma série de mesas com especialistas e representantes dos movimentos sociais. Entre os temas discutidos, estiveram: as mudanças climáticas, as diversas concepções de desenvolvimento sustentável e a importância da biodiversidade.
Biodiversidade é a chave para o desenvolvimento da Amazônia
Para o coordenador, aliás, a biodiversidade é o elemento chave para o desenvolvimento da Amazônia. “A floresta em pé é que assegura a biodiversidade, mas a floresta não permanece de pé por si só. Para proteger a exploração sustentável dessa biodiversidade, são necessários investimentos e recursos que garantam a sua preservação, pois existem interesses econômicos poderosos que investem contra a floresta”, analisa Arantes.
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Ele reflete ainda que a região é uma das mais ricas em biodiversidade no mundo, mas que apresenta um paradoxo desafiador: de por um lado, possuir um potencial imenso para contribuir com a economia brasileira através do uso sustentável de seus recursos naturais; e por outro lado, de enfrentar sérias ameaças de degradação ambiental decorrentes de práticas exploratórias, como a pesca e a caça ilegal. “É urgente combater isso, e criar uma alternativa sustentável”, pontua.
Mobilização de todo país é necessária
Outro ponto importante na estratégia, de acordo com Arantes, é a ampla mobilização da sociedade. “É crucial que a sociedade brasileira se conscientize, perceba que estamos subestimando uma riqueza imensa que é a Amazônia. O mundo inteiro está de olho nela e nós não estamos nos dando conta da importância do que podemos aproveitar. Isso pode ser um elemento chave em um projeto de desenvolvimento não só para a Amazônia, mas para todo o Brasil”, defende.
Para isso, ele reforça a importância de um projeto bem definido, com objetivos tangíveis. “É preciso ter um projeto claro, algo que até hoje não está muito bem definido. Durante o segundo Governo Lula, elaborou-se o projeto da Amazônia Sustentável, mas que não teve o desdobramento necessário. Portanto, a primeira coisa é ter um projeto. E, além disso, mobilizar, conscientizar para que o povo brasileiro compreenda a importância da Amazônia”, finaliza Aldo Arantes.
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