MENU

BUSCA

‘Autorregulação das plataformas não é suficiente’, alerta assessor da vice-presidência do TSE

Durante o Fórum Nacional Verdemocracia, em Belém, assessor-chefe da Vice-Presidência do TSE defende co-regulação entre Estado, plataformas digitais e sociedade para enfrentar os desafios da desinformação nas eleições.

Jéssica Nascimento

O avanço acelerado das tecnologias digitais, em especial da inteligência artificial, está moldando uma nova realidade para os processos eleitorais. No segundo dia do Fórum Nacional Verdemocracia, realizado nesta terça-feira (16/09), em Belém, o assessor-chefe da Vice-Presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), William Akerman, alertou sobre os riscos que a manipulação informacional representa para a democracia e defendeu a co-regulação como caminho inevitável para proteger a integridade eleitoral no Brasil

IA generativa e desinformação em escala industrial

Akerman destacou que o atual cenário é marcado pela combinação de IA generativa com IA preditiva, que, com custos cada vez mais baixos, permite a criação de conteúdos falsos em larga escala.

“Hoje vivemos um cenário em que a IA generativa se combina à IA preditiva com custos de produção cada vez menores e uma capacidade quase ilimitada de replicação desses conteúdos”, afirmou.

Segundo ele, esse cenário produz uma avalanche de vídeos, imagens e áudios sintéticos que podem ser distribuídos de forma automatizada em múltiplos canais, gerando fenômenos perigosos como o astroturfing (falso apoio popular), o firehose (enxurrada de desinformação) e os cheap fakes, conteúdos manipulados de forma simples, mas com grande impacto popular.

Violência política de gênero e deepfakes

O assessor também chamou a atenção para o uso de tecnologias para fins de violência política de gênero, especialmente nas eleições de 2024.

“Tivemos casos, pelo menos em São Paulo, Taubaté e Bauru, de montagens digitais que expuseram mulheres a situações de nudez fabricada. É um instrumento cruel de misoginia digital”, denunciou.

Segundo ele, os chamados deep roots – montagens sofisticadas com uso de IA – representam uma das faces mais cruéis da manipulação digital.

VEJA MAIS

'Belém é uma cidade historicamente comprometida com a temática da sustentabilidade', diz Zanin
Ministro do STF falou sobre a escolha da capital paraense para sediar o Fórum Verdemocracia, da Justiça Eleitoral, e a COP 30

‘Democracia depende de espaço íntegro’, afirma ministra Estela Aranha em Belém
Durante Fórum Verdemocracia, na capital paraense, integrante do TSE destacou impactos das narrativas adversariais online na democracia.

Professora questiona se o sistema eleitoral brasileiro ainda garante a plena democracia, em Belém
Durante o Fórum Nacional Verdemocracia, professora alertou sobre os riscos das novas tecnologias aos pilares da democracia e defendeu o voto livre como cláusula essencial do sistema

O papel da Justiça Eleitoral e as novas regulamentações

William Akerman elogiou a atuação da Justiça Eleitoral, destacando a Resolução 23.732/2024, que atualizou normas sobre propaganda eleitoral digital e regulamentou o uso de inteligência artificial, exigindo identificação clara de conteúdos sintéticos e ampliando a responsabilização de partidos e candidatos.

“Foi um passo decisivo para garantir que a inovação tecnológica não se converta em instrumento de fraude à vontade popular”, disse.

Além disso, mencionou a Portaria TSE 180/2024, que criou o Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia, reforçando a articulação entre poderes públicos, sociedade civil e plataformas digitais.

A necessidade da co-regulação

Em sua fala, Akerman foi enfático ao dizer que a autorregulação das plataformas não é suficiente para garantir a integridade do processo eleitoral.

“Essas iniciativas são insuficientes e, em última análise, estão subordinadas a interesses corporativos. Em uma ordem democrática, a integridade do processo eleitoral não pode depender da boa vontade das empresas privadas”, afirmou.

Para ele, o modelo ideal é o da co-regulação, uma combinação entre atuação estatal, autorregulação das plataformas e participação ativa da sociedade.

“Estado, plataformas e sociedade atuando em conjunto sob marcos normativos claros, mecanismos de auditoria independente e transparência efetiva. É nesse horizonte que se poderá garantir que os algoritmos sirvam à pluralidade democrática”, declarou.