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Zeneida Lima 89 anos: vozes da Amazônia devem ser ouvidas na COP30

A pajé mais conhecida do Brasil, escritora e compositora marajoara, Zeneida Lima completa 89 anos nesta sexta (21), sempre focada na relação com a mata e os caruanas. Ela quer participar da COP30 em Belém, em 2025.

Eduardo Rocha
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A foto de Luiz Braga mostrando Zeneida Lima ladeada por árvores em plena floresta traduz a vida desse ícone da cultura amazônica que nesta sexta-feira (21) completa 89 anos de idade. Antenada com a realidade que diz respeito à Floresta Amazônica, Zeneida Lima, a pajé mais conhecida no Brasil, destaca que gostaria muito de participar da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30) a ser realizada em Belém, em 2025. "Eu não posso imaginar um mundo sem floresta e sem Amazônia. Seria um mundo sem vida", enfatiza. Ela mora em Soure, município onde nasceu e que integra o Arquipélago do Marajó, com recursos naturais exuberantes, mas com situações de pobreza em grande escala. 

"Eu espero realmente que se possa fazer alguma coisa pela Amazônia, pela natureza, pela floresta, porque, da ECO 1992 (no Rio de Janeiro) eu participei, e de lá pra cá eu não vi nada. Eu só vejo cada vez o planeta se degradando. Estou muito preocupada com tudo o que está acontecendo. Gostaria de participar da COP30, porque a natureza é a grande mãe, é o fim e a origem de todas as coisas e como eu sou natureza eu queria participar. Espero participar", enfatiza.

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A preservação da Floresta Amazônia mostra-se imprescindível para a sociedade global, mas especialmente para quem vive nela, como as comunidades tradicionais: indígenas, quilombolas, ribeirinhos e tralhadores rurais, entre coletores e agricultores. Esses cidadãos devem ser ouvidos na COP30, como destaca Zeneida Martins. "Eles são as pessoas que vivem da floresta e conservam a floresta; então, eu acho as autoridade devem ter um olhar de carinho e de amor com eles", ratifica. Zeneida Lima é doutora honoris causa da Universidade do Estado do Pará (Uepa).

Pajelança

Essa relação com a floresta, com a natureza, marca a trajetória de vida de Zeneida Lima e, inclusive, a projetou muito além das fronteiras do Pará e da Amazônia. O conhecimento que ela tem, como pajé, é respeitado por pessoas de idades e classes sociais diferentes, e inspirou, inclusive, o enredo da escola de samba Beija-Flor, campeã do Carnaval 1998: "Pará – O Mundo Místico Dos Caruanas Nas Águas do Patu-anu".

Dona Zeneida explica que a "a pajelança é um culto à natureza; há 4 mil anos antes de Cristo já se cultuava a natureza, os índios que habitaram o Marajó faziam esse culto à natureza, e isso é preservado por mim, porque eu sou descendente dos Sacacas (etnia indígena)". 

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Aos 11 anos de idade, Zeneida desapareceu no Marajó e somente foi encontrada 16 dias depois, com o corpo coberto de pinturas (queimaduras) com desenhos alusivos à floresta, com folhas, peixes e caranguejos. Fatos como esse povoam a vida dessa pajé desde o ventre da mãe.

Coube ao mestre Mundico iniciá-la na pajelança, conduzindo-a a um leque de conhecimentos sobre a floresta, como erva, chás para curas. Filha de Angelino Rodrigues de Lima, que trabalhou com o ex-governador Magalhães Barata e chegou a ser deputado, e de Maria José de Andrade Figueira, Zeneida Lima explica que a pajelança é uma "comunicação com a natureza", abrangendo energias caruanas (energias viventes da águas) para auxiliar as pessoas, física e mentalmente, para curas. 

Todos os seres humanos precisam estar equilibrados nos três reinos da natureza (mineral, vegetal e mal) para não perder energias. O pajé é o sacerdote, médico e conselheiro da tribo.

Sabedoria 

Esse universo focado na natureza envolve o dia a dia de Zeneida Lima, na casa dela em Soure e na área de 199 hectares a quatro quilômetros do centro do município. Nesse espaço, funciona a instituição Caruanas do Marajó - Cultura e Ecologia, com uma escola que atende 150 crianças de baixa renda - antes da pandemia, eram 350 meninos e meninas. "Eu já dei uma volta na Terra, sofrida mas bem vivida", afirma a pajé sobre os 89 anos.

"Eu sinto uma privilegiada em conviver com um ser de luz e tão inspirador como dona Zeneida. A nossa conexão é tão grande que a considero como minha mãe. Segundo ela, foram os Caruanas  que escolheram-me para que trabalhássemos juntas. Porém, foi uma amiga em comum que nos apresentou, a querida Lecy Garcia", declara a assessora Meg Martins.

O arquiteto Paulo Chaves Fernandes, secretário de Estado de Cultura, já falecido, expressou-se assim sobre Zeneida: "Tu não és deste mundo, Zeneida, teu mundo é outro. É o mundo da conspiração em defesa das matas, dos rios, da Encantaria, dos deuses da floresta, dos deuses da vida... Tu és isso, Zeneida, essa energia mãe...". Já Luiz Braga que registrou Zeneida Lima em fotos, destaca: ""A sabedoria ancestral marajoara tem em Zeneida Lima sua resistência e difusão. Passei uma manhã ouvindo suas palavras sábias e pude retratar sua conexão com a natureza! Voltei leve e feliz!".

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