Tradição é um dos símbolos do artesanato de João Medeiros, o João Cavalo

Há 60 anos as cestas que abastecem o mercado do Ver-O-Peso na capital Belém, são feitas na comunidade do Utinga Açu, por famílias tradicionais

Márcia Ferreira/ Especial para O Liberal
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O artesanato é uma forma de arte que representa a cultura brasileira. Em todos os estados e municípios do país, encontramos artesanatos que identificam o lugar. São souvenires de identidade cultural de uma região. O artesanato pode ser hobby, renda, mas para João Alves Medeiros, nascido na comunidade do Utinga-Açu, na Ilha de Trambioca, município de Barcarena, o artesanato é também tradição.

João tem 81 anos e é conhecido carinhosamente na comunidade como “João Cavalo” ou “Seu Cavalo”. Homem de personalidade forte, sustentou a família com o artesanato feito da tala de guarumã. São peças em cestaria, dos mais diversos modelos, feitas de acordo com a necessidade do cliente. O guarumã é uma folha nativa da ilha e cresce com abundância na região. Quando criança, seu João via os pais e avós tirarem a tala da folha e tecer as cestas que usavam como recipiente para armazenar peixes, frutas e o açaí. A tradição foi repassada para as famílias da comunidade. 

Coletar as folhas, limpar o talo e tecer as cestas era um trabalho feito em conjunto, mas, era da pesca que as famílias locais se mantinham. A produção era comercializada na Feira do Ver-o-Peso. Certa vez, um pequeno empresário viu as cestas que João usava para guardar o pescado e perguntou quem fazia, e ele respondeu que era uma prática  artesanal familiar. Então o comerciante perguntou se ele podia fazer outras cestas em tamanhos menores, ao que João disse que sim. Desde então, o negócio foi firmado. 

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Há 60 anos as cestas que abastecem o mercado do Ver-o-Peso na capital Belém são feitas na comunidade do Utinga-Açu por famílias tradicionais. “No início, ganhamos muito dinheiro, com essa venda sustentei toda a minha família, educando, vestindo e alimentando meus filhos. Sempre tive a preocupação de ensinar todos eles a fazerem o artesanato, mas, com o progresso, eles foram procurando outras profissões” explica João Cavalo.

O progresso ao qual Seu Cavalo se refere veio com a implantação do projeto Albras/Alunorte em Barcarena, por volta dos anos 80. Em 2011 a multinacional de origem norueguesa Hydro também chegou ao município que, com isso, passou a ser um dos maiores pólos industriais do Norte do Brasil, atraindo vários investidores e oferecendo oportunidades de trabalho na área para os moradores da região.

“A gente ainda faz artesanato e comercializa tanto para o Ver-o-Peso, como para empresas de São Paulo e até de outros países, como a França, mas ele não é mais o único meio de sobrevivência da nossa família. Fazemos porque gostamos, porque é uma forma tradicional de juntar as famílias e porque meu avô se sente feliz” revelou a professora Kelly Medeiros, neta de João.

Kelly explica que o avô está doente, tratando de um problema na próstata e, pela idade e saúde, deveria ficar mais sossegado. Porém, a família conversou com os médicos e pediu para que ele fosse liberado para participar do processo de tecelagem da tala e confecção das peças. “Para o meu avô o artesanato é um hobby, um momento afetivo e é quando ele se sente útil, contando suas histórias e ensinando os bisnetos. Estamos tratando do meu avô, mas dando também a ele o direito de ser feliz com sua arte” diz emocionada.

A comunidade do Utinga-Açu, na Ilha de Trambioca, fica às margens do rio de mesmo nome e tem aproximadamente 300 famílias que vivem da pesca, agricultura e do trabalho na indústria, além do serviço público municipal. A cestaria de tala de guarumã confeccionada pela família de João Medeiros e que por muito anos também sustentou famílias inteiras da comunidade está se perdendo, visto que as novas gerações estão buscando outras atividades.

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