Paraenses de origem judaica lutam pela tradição
Descendentes de judeus que fugiram da Inquisição na Europa fixaram comunidade em Belém

Muitos paraenses são conscientes quanto à existência de comunidades judaicas ortodoxas no Estado. Porém, poucos sabem que existe em Belém uma comunidade composta majoritariamente por descendentes de judeus ibéricos que vieram ao Brasil fugindo da Inquisição.
O descendente de judeus ibéricos perseguidos na era da Inquisição é chamado, dentro da comunidade judaica mundial, de "ben anussim", no singular; e de "bnei anussim", no plural, que é traduzido do hebraico como "filhos dos forçados", em alusão à conversão forçada dos que eram chamados pelos europeus de "cristãos novos". Em questões doutrinárias e práticas, nada difere um bnei anussim de um judeu ibérico de nascença. Ambos compartilham as mesmas crenças, cosmologia e teologia, variando apenas nas histórias de suas famílias.
Em Belém, a comunidade bnei anussim luta diariamente pela conversão autêntica de seus membros ao judaísmo ortodoxo, de acordo com todas as normas estabelecidas no Talmude, que é o livro do judaísmo ortodoxo que elucida, sistematiza e detalha boa parte da tradição judaica.
Benedicto de Holanda, membro ativo dessa comunidade, disse à redação do jornal O LIBERAL parte da sua saga pessoal em busca da conversão. "Minha história com o judaísmo começou em 2000, quando um colega de faculdade disse que, pelo meu sobrenome, eu sou descendente de judeus portugueses. Somente em 2019 tive a confirmação certa da minha ancestralidade, através da ajuda do rabino Jacob de Oliveira, que é ben anussim, mora em Brasília e atende várias sinagogas do nordeste brasileiro. Apesar de eu não ter tido educação judaica de nascença, desde o ano 2000 estudo por conta própria e luto para incorporar a tradição judaica em minha vida. Todos os dias, faço de tudo para viver os costumes ortodoxos do judaísmo. Não faço isso por obrigação, mas por amor ao Eterno, Bendito Seja", contou.
Ao ser questionado sobre a história de seus antepassados, Benedicto conta com emoção: "Descobri que a matriarca da família Holanda era uma judia que se converteu ao catolicismo romano, mas que manteve seus hábitos judaicos, passando-os de geração em geração. Ela e suas filhas foram perseguidas pela igreja católica, acusadas do 'crime' de praticar costumes judaicos e de terem ajudado Branca Dias, famosa judia brasileira que era senhora de engenho da era colonial, a fundar uma sinagoga clandestina no Brasil", disse.
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