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Número de casos de Aids vem diminuindo no Pará, aponta Ministério da Saúde

Em Belém, militar conta como é conviver com o vírus

Dilson Pimentel / O Liberal

"Tenho uma vida normal e faço tudo o que as pessoas fazem. Mas lembro que tenho que me alimentar bem, dormir bem e fazer atividade física para poder sobreviver". O depoimento é da policial militar Amélia Garcia. Ela tem 59 anos de idade e há 28 luta com o vírus “internamente”. E, em alusão ao Dia Mundial de Combate à Aids, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e a Fundação ParáPaz realizaram, nesta quarta-feira (1°), em Belém, a programação com o tema “IST Não! Atenção, Cuidado e Prevenção”, que ofereceu à população diversos serviços de saúde e de cidadania. 

As ações ocorreram no Teatro Estação Gasômetro, com consultas com médicos clínicos; oferta de testes rápidos para detecção de HIV, sífilis e hepatites; aferição de pressão arterial, glicemia, saturação e temperatura; distribuição de insumos de prevenção, como preservativo masculino, feminino e material informativo; emissão e segunda via de registro de identidade, certidão de nascimento e Cadastro de Pessoas Físicas; carteira de trabalho digital e orientações jurídicas.

Os casos de HIV no Pará vêm diminuindo, por ano de diagnóstico: em 2019, foram notificados 2.412 casos, seguidos de 2.364 no ano passado e outros 1.326 registrados entre janeiro e junho deste ano. É o que apontam os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Em relação aos casos de Aids, ou seja, quando o indivíduo portador do vírus HIV manifesta a doença, observa-se também uma redução do número de casos no Estado, também por ano de diagnóstico: em 2019 foram 822 casos; em 2020 foram 468 casos e, no primeiro semestre de 2021, 251 casos registrados, informou, ainda, a Sespa.

Medicações dão esperança aos pacientes

Amélia Garcia lembrou que, naquela época, não havia tratamento e medicação e o diagnóstico era a morte. “Eu tinha, e até hoje tenho, uma vida saudável e isso me ajudou muito”, contou. Em 1996, as medicações começaram a ser fornecidas. Ela disse que viver com HIV é muito difícil e que sofreu muito preconceito, contra o qual lutou bastante. “Lutar era mostrar minha cara e dizer que eu tinha HIV”, afirmou. Nesse processo, ajudou o fato de estar empregada. “Quem vai dar trabalho para uma pessoa sabendo que tem HIV? Muitos não se mostram por causa disso mesmo”, contou.

O primeiro momento, contou, foi de luto: “vou morrer”. Por isso, decidiu fazer diferente. “Vou lutar contra isso. Quero viver. Nunca tive uma doença oportunista gravemente, porque justamente me prevenir para não adoecer e estar até hoje contando essa história. Em todo esse processo foi fundamental a família. Eu soube, chamei a família e dividi o problema”, contou. Mas, até hoje, o preconceito é grande. “Mesmo sabendo como se pega HIV, as pessoas têm medo de chegar perto da gente”, contou. Viver com esse vírus é adotar uma nova rotina. “Eu sabia que não poderia mais tomar álcool. Uma vida mais regrada para justamente poder sobreviver ao vírus. Eu combati esse vírus fazendo uma alimentação saudável, tendo uma boa dormida”, afirmou Amélia.

Ela citou um fator fundamental à época: “Uma mãe veio me trazer a criança para eu criar, porque ela não tinha condições. Minha vida também foi viver para cuidar daquela criança, que hoje está com 26 anos. Eu quis viver. Tenho uma vida normal, faço tudo o que as pessoas fazem. Mas lembro que tenho que me alimentar bem e dormir bem, fazer atividade física para poder sobreviver”. Aos que estão com o vírus, Amélia diz: “Descobriu que tem HIV, bora lutar. Vamos fazer o que a ciência diz: tomar medicação e procurar trabalhar a parte mental. Se você não trabalha a sua cabeça para poder mudar algumas coisas, você não vai conseguir sobreviver. Temos que procurar mecanismos para sobreviver”, contou.

Tratamento precisa começar cedo

Coordenadora estadual de IST/Aids pela Sespa, Andréa Miranda disse que, quanto mais cedo uma pessoa que tem o vírus do HIV começar o seu tratamento, mais qualidade de vida ela vai ter. Ao falar sobre a data, ela afirmou que o mote da campanha é trabalhar o diagnóstico e a vinculação da pessoa vivendo com HIV aos serviços de atenção especializada para começar logo o tratamento.

Andréa associou a diminuição nos casos à pandemia, em que muitas pessoas não foram fazer os testes. Ela também disse ser importante falar sobre as infecções sexualmente transmissíveis (IST), entre as quais hepatites virais e sífilis. Andréa também considera ser importante “quebrar” o preconceito de que só tem HIV grupos de risco. “Não há mais grupos de risco, há uma exposição de risco”, afirmou.

Francisco Vasconcelos, coordenador do Arte pela Vida, um comitê de voluntários que há 25 anos luta em prol das pessoas vivendo com HIV/Aids no Pará, disse que, mais do que nunca, principalmente no Estado do Pará, se precisa falar ainda sobre o HIV. "Um tema que, principalmente com a covid, ficou esquecido. Ela é uma pandemia que existe há 40 anos e ainda não existe cura. Existe tratamento, hoje é uma doença crônica. Mas as pessoas precisam se informar, fazer o seu teste, fazer o seu tratamento para ficar indetectável e, aí, já não transmite mais HIV para ninguém”, afirmou.

O Arte pela Vida realiza exposições, bazares e tem uma loja sustentável, onde aceita doações de roupas usadas, objetos de decoração, acessórios e calçados. "A gente faz uma triagem e vende”, disse. O comitê também acolhe as pessoas vivendo com HIV-Aids, fazendo aconselhamento e orientando. E, com a renda obtida, o comitê compra remédios específicos, cadeiras de rodas e cestas básicas. "Todos os dias, temos muita gente pra atender. Em média, 300 famílias por mês em Belém, região metropolitana e até do interior do estado", afirmou Francisco. A loja sustentável fica na travessa Rui Barbosa, 1023, entre Governador José Malcher e Boa Ventura da Silva, em Nazaré. E funciona de segunda a sexta, de 9 às 18h.

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