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Instituto Lixo Zero afirma ser possível reduzir 90% dos resíduos jogados no aterro de Marituba

Embaixadores de Ananindeua propõem a economia circular adotada por algumas cidades do planeta. Meta é convencer poder público e empresas de que adotar iniciativa é sustentável e rentável para todos.

Igor Wilson
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Imagine uma árvore num quintal. De tempos em tempos, ela precisa se renovar, para conseguir crescer. Primeiro vai se libertando das folhas velhas. Depois, de seus frutos maduros. Os elementos descartados pelo vegetal caem no chão e começa a decomposição. Avisados pelo cheiro e outros sentidos, formigas, líbelulas, vespas, besouros e outros seres vivos vão chegando. Cada um leva ou come uma parte das folhas e frutos em decomposição. A vida de todo bioma presente no quintal depende do descarte da árvore, mas não só isso. A vida da própria árvore depende dos seres que reutilizaram as folhas e frutos em decomposição. Ela não conseguiria se desenvolver, o solo não se tornaria fértil, sem este ciclo natural, eterno e repetitivo.

Em toda natureza é assim. Os excrementos de um ser vivo, ou algo que ele usou e deixou sobrar, são utilizados por outros seres vivos como alimento ou outro fim. Isso é economia circular. No caso dos seres humanos, não tem sido bem assim. Destoando da própria natureza, o homem consome e arremessa seu lixo em terrenos chamados de ‘aterros’. Sem critério ou distinção entre o que pode ou não ser reutilizado, continua formando montanhas de lixo que se tornaram um problema mundial, principalmente nos últimos 50 anos, com a popularização do plástico.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), existem 5.561 municípios no país. Mas, menos da metade (2.751) contam com planos de gestão integrada de resíduos. Quer dizer, 40% das prefeituras ainda descartam nos aterros sanitários. E somente 25% das cidades, possuem coleta seletiva. Tentando fazer alguma coisa para travar esse ímpetuo irracional, nasceu o Instituto Lixo Zero, primeiro nos Estados Unidos, alguns países na Europa, e desde 2010 no Brasil. Em Ananindeua, o instituto funciona desde 2019, quando o advogado ambiental Alexandre Carvalho e a assistente social Sandra Carvalho decidiram ser embaixadores no município. Começaram por organizar atividades para explicar o conceito junto à população. Mas o objetivo é bem maior.

“O Lixo Zero é uma meta para ser alcançada a nível ético, político e econômico, que visa mitigar a produção de resíduos sólidos no ambiente urbano. O objetivo é diminuir a quantidade de resíduos que são encaminhados para os aterros sanitários, promovendo uma economia circular. A indústria produz, ao longo da história, captando matéria-prima, produzindo e descartando, uma lógica horizontal. Assim que se desenvolveu a sociedade. Mas esse descarte hoje é insustentável. Trouxe grandes danos à natureza, para o município é custoso, para sociedade é ruim, porque traz poluição, proliferação de doenças e uma série de malefícios”, explica Alexandre.

Ananindeua gasta em média, mensalmente, com a coleta de resíduos para o descarte no aterro sanitário em Marituba: R$ 3,5 milhões, no mínimo. O aterro sanitário que fica em Marituba, empreendimento privado gerenciado pela Guamá Tratamento de Resíduos, diariamente, recebe e trata para destinação final 1,3 mil toneladas de resíduos sólidos de Belém, Marituba e Ananindeua. Deste montante, 73% é de Belém, 18% de Ananindeua, 5% de Marituba e 5% da iniciativa privada. Todo custo poderia ser reduzido caso o poder público adotasse a política Lixo Zero.

“Fizemos um levantamento ano passado, Ananindeua gasta de R$ 500 a R$ 700 mil com recolhimento de resíduos sólidos, basicamente lixo doméstico. Mas esse custo é muito maior se contarmos com a coleta de entulho. A prefeitura nos informou que chega perto de R$ 3 milhões por mês. Acreditamos que seja um recurso que poderia ser aplicado em outras áreas se a cidade desenvolver o trabalho da consciência Lixo Zero. Poderia ser evitado dentro de um trabalho em conjunto com cooperativas, estimulando mais criações delas, dando dignidade para que essas pessoas se vejam como importantes agentes ambientais, e não apenas catadores”, diz.

TRABALHO EM TRÊS FRENTES

image Ananindeua possui apenas sete associações e cooperativas para coleta de resíduos aproveitáveis, como garrafas pets. (Divulgação Instituto Lixo Zero)

O trabalho do instituto Lixo Zero começa com a conscientização diretamente na população como um primeiro passo, que serve para formar um movimento coeso e chamar a atenção de poder público e privado. De acordo com seus embaixadores, a missão é provar que através da economia circular, vem economia e geração de renda. Como a natureza mostra todos os dias.

“O investimento em coleta seletiva e na criação de estuturas de trabalho para agentes ambientais pode reduzir a quantidade de lixo nos aterros em até 90%. Imagine, nosso lixo é composto basicamente por garrafas pet, embalagens tetra pack, papel, pneus e outros itens que podem gerar riqueza se transformando em outros artigos de consumo. Quem fabrica tem que ter a responsabilidade de fazer a logística reversa e garantir a reutilização. O instituto Lixo Zero tenta mostrar isso ás empresas e ao poder público”, diz Sandra.

Tentando convencer sobre a necessidade e viabilidade da economia circular, o instituto Lixo Zero criou o selo Empresa Lixo Zero, uma iniciativa que serve para disseminar as práticas de reutilização na prática, no dia a dia das empresas. Comprovado a economia em todos os sentidos, a empresa ganha o selo.

“Os membros do instituto fizeram uma capacitação dentro do movimento, para se tornarem consultores e assim certificar empresas. Além disso, temos os auditores, que atestam que a empresa possa receber o selo, desviando até 90% dos resíduos. Primeiro, comprovamos que a empresa vai economizar, e isso é bom em todos os sentidos”, diz o advogado ambiental.

Na frente de trabalho junto com o governo, o instituto criou o projeto ‘Semana Lixo Zero’. Aprovado em Belém e Marituba, o projeto ainda está aguardando homologação em Ananindeua. “O projeto fomenta o conceito Lixo Zero através de ações na cidade durante uma semana, junto com todas as secretarias. Essa semana é o primeiro passo para o governo manifestar apoio à iniciativa, colocando no calendário oficial do município. Também temos a ideia de gerar benefícios para as empresas que garantam esse conceito”, diz Sandra.

O casal, que se juntou à iniciativa como uma forma de fazer algo na prática, e não apenas no discurso, espera que a população, as empresas e o poder público observe a natureza, inclusive os quintais. Quem sabe, um dia, a quantidade de lixo nos aterros pode diminuir. 10% já seria uma grande evolução.

CIDADES PELO MUNDO QUE ADOTARAM A POLÍTICA LIXO ZERO

  • HERNANI/ESPANHA

Para zerar o lixo, a prefeitura dessa cidade do País Basco, deu início ao projeto, com a instalação de recipientes de coleta nos parques, praças e condomínios. Com a participação de quase 100% da população, o resultado chegou em pouco tempo: os 30% do lixo reciclado passaram para 80%!

  • LIUBLIANA/ESLOVÊNIA

A capital eslovena, escolhida como a "Capital Verde da Europa", conseguiu reduzir para 5%, o que vai para os aterros. Todo o resto é reaproveitado de várias formas. Foram decretadas leis severas, punindo quem desobedecesse as regras e alcançados investimentos privados.

  • BOGOTÁ/COLÔMBIA

Para atingir o lixo-zero na capital colombiana, foi criado o Projeto “Coletivo Bogotá Basura Cero” ("Bogotá Lixo Zero"). Nele, são exigidos 4 requisitos para que as empresas pudessem aderir: política de resíduos de cada grupo de lixo; atitudes rigorosas com relação à coleta de lixo; relatório anual para garantir visibilidade junto às organizações ambientalistas.

  • NOVA YORK/ESTADOS UNIDOS

O plano da prefeitura nova-iorquina é chegar ao lixo-zero em 15 anos. Na prática, "zero", significa atingir, no mínimo 90% dos aterros de resíduos. O engajamento das indústrias foi fundamental, para atingir as metas. "E a capital do mundo ficará melhor ainda para se viver", profetiza seu Prefeito.

  • SÃO FRANCISCO/ESTADOS UNIDOS

Em termos de resultados, a cidade californiana é a que mais evoluiu no cumprimento das metas do lixo-zero. O objetivo de zerar 100% dos resíduos dos aterros até 2025. Provavelmente, será a primeira cidade a chegar perto dessa meta. O engajamento da população é intenso. Lojas dão descontos para quem comprovar que deu destino certo aos resíduos. Leis severas foram decretadas.

  • ESTOCOLMO/SUÉCIA

O approach da campanha da capital sueca é peculiar: o lixo que sai de casa, é imediatamente incinerado. São, aproximadamente, 2 milhões de toneladas de lixo queimado por ano. Com a redução drástica do uso de combustível fóssil, o volume de resíduos nos aterros de resíduos, praticamente zerou. Porém, surgiu um efeito colateral com essa prática. A Suécia é pioneira no mundo nas campanhas ecológicas e com sucesso. Isso acontece desde os anos 70. O movimento slow foi criado no país. É o que mais fortaleceu essas iniciativas em prol da sustentabilidade.

  • BUENOS AIRES/ARGENTINA

A política do lixo-zero na capital portenha, acontece desde 2005. É proibido o despejo de lixo nos aterros sanitários. Os grandes heróis do programa de reciclagem da cidade, são os catadores de lixo. Eles possuem sua própria cooperativa e galpões, onde podem fazer a seleção do lixo.

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