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Da Itália ao Pará: comunidade italiana mantém as raízes em Belém

Italianos se destacam na culinária, na moda, na arquitetura e nas artes e celebram o Dia Nacional do Imigrante Italiano, neste dia 21 de fevereiro

Dilson Pimentel

O Dia Nacional do Imigrante Italiano é comemorado em 21 de fevereiro (segunda-feira). Instituída em 2008, a data foi escolhida em homenagem à expedição Pietro Tabacchi que trouxe 380 famílias italianas ao Espírito Santo, em 1874, no navio Sofia. Esse evento marca o início do processo de migração em massa dos italianos para o Brasil. A imigração italiana foi muito forte no início do século XX. No Pará, o período de maior volume se deu por volta de 1920/1930. Já na década de 1950, a entrada de italianos diminuiu no Pará e em todo o Brasil.

Imigrante italiano, morando em Belém, Guido Oddenino veio da Itália em 1996, aos 30 anos. A esposa é brasileira e eles se casaram naquele país. Guido vinha ao Brasil de vez em quando para visitar o tio, que é padre no Maranhão e hoje tem 88 anos. Em uma dessas viagens, conheceu sua esposa. “Ela foi para a Itália, onde casamos. Ficamos lá quatro anos e tivemos dois filhos na Itália. Voltamos para cá com dois filhos. E, depois, nasceu uma filha aqui em Belém”, conta.

Músico e professor, ele começou a ensinar italiano e montou a própria escola. O Liceo Italiano começou em janeiro de 1999. E, desde então, desenvolve um trabalho de ensino e divulgação da língua e cultura italiana em Belém, por meio de professores italianos. Desde 2001, o Liceo Italiano tem um convênio com a Universidade de Siena na Itália e com o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, órgão oficial da língua e cultura italiana no Brasil. É a única escola do norte-nordeste credenciada para aplicar os exames internacionais CILS e o exame de proficiência, necessários para os programas de bolsa de estudo na Itália.

 

Italiano é a quarta língua mais estudada no mundo

Parte dos alunos da escola é descendente de italianos. Também há muitos jovens, universitários e adolescentes.  “O italiano é a quarta língua mais estudada no mundo”, conta. Para quem estuda Direito, por exemplo, o Direito Romano é fundamental. O mesmo vale para arquitetura, moda e culinária, nas quais a Itália é referência mundial. “Quase todas as matérias têm uma referência na Itália”, diz.

A Itália também é um roteiro turístico muito procurado.  “Agora que está passando a pandemia vai voltar o turismo”, conta. Todo ano, em julho, o Liceo organiza um grupo de estudantes para fazer intercâmbio na Itália. Eles passam um mês estudando em uma escola e, também, visitando cidades italianas. “Muita gente estuda italiano para turismo, pois quer dar uma volta na Itália e, para isso, quer saber o básico”, explica.

Às vezes, a escola organiza cursos de vinho italiano, com um jantar italiano, em restaurantes de Belém, ou eventos culturais. Antes da pandemia, o Liceo realizou o  “Mamma mia", um evento com jantar e música italianos, para estreitar os laços entre a cultura do Pará e da Itália. Ainda segundo Guido, não há muitos italianos em Belém, mas há muitos simpatizantes da cultura italiana. “Qualquer evento italiano que é organizado reúne muita gente”, diz.

image Guido Oddenino, imigrante italiano, músico, professor e fundador do Liceo Italiano (Cristino Martins / O Liberal)

 

Riquezas decorrentes da economia da borracha fizeram da Amazônia o destino de diversos grupos migratórios

A escritora Marília Ferreira Emmi diz que, em meados do século XIX, prolongando-se às primeiras décadas do século XX, a Amazônia constituiu espaço de chegada de grupos populacionais de distintos continentes e países, entre eles os italianos. Segundo a literatura, foram as riquezas decorrentes da economia da borracha que fizeram da Amazônia o destino temporário ou definitivo de diversos grupos migratórios.

Entre os italianos, um grupo significativo foi formado por religiosos que vinham atender determinações específicas de suas congregações como os jesuítas, capuchinhos e salesianos que, ao lado das congregações femininas, deixaram marcas de sua presença em estabelecimentos de ensino e em hospitais.

Outro grupo importante era composto por arquitetos, pintores, músicos e outros artistas. No século XVIII, Giuseppe Antônio Landi; no século XIX, Domenico de Angelis e Giovanni Capranesi, responsáveis pela decoração e pintura do Theatro da Paz; e, no início do século XX, o engenheiro calabrês Filinto Santoro construiu vários prédios públicos.

 

Número de imigrantes italianos no Pará é menor que em relação ao Sul e Sudeste

No Pará, embora o número de imigrantes italianos seja menor, se comparados aos grupos que vieram aos estados do Sul e Sudeste do Brasil, eles podem ser agrupados em dois segmentos. Um: imigração dirigida para as colônias agrícolas Anita Garibaldi e Ianetama, localizadas  às margens da estrada de ferro Belém-Bragança, e os que vieram para a colônia de Outeiro. O outro segmento é o da imigração espontânea  para as cidades.

Quanto à procedência, embora a maioria tenha vindo da Calábria, Basilicata e Campânia, outros vieram do Vêneto, Lombardia, Ligúria, Emilia Romagna, Piemonte e da Sicília. Na música, o maestro Ettore Bosio, originário do Vêneto, foi diretor do Instituto Carlos Gomes.

Ainda segundo a escritora, a presença italiana na Amazônia é reconhecida pela importância econômica e cultural que representou: “Esses italianos não constituíram núcleos fechados nas cidades e, rapidamente, passaram a fazer parte delas. Hábitos de poupança e operosidade concorreram para o êxito dos imigrantes e para sua integração”.

Para Rosângela Maiorana, vice-presidente do Grupo Liberal e vice-cônsul honorária da Itália no Pará, destaca que a influência da Itália no Pará se dá pela presença da comunidade. "Com tantos descendentes de italianos morando no País, é natural que, com o passar dos anos, alguns itens da cultura italiana passassem a fazer parte da cultura brasileira. O catolicismo se fortaleceu e importantes e belíssimas igrejas, como a Catedral Metropolitana de Belém, Igreja do Carmo, das Mercês e São João, todas na nossa cidade, foram obras do arquiteto Antônio Landi que morou durante 38 anos em Belém", observa.

O Vice-Consulado Honorário atua pra dar apoio aos italianos e descendentes de italianos no Pará. Também é responsável por difundir e manter acesa a cultura italiana no Estado. "Neste ano, estamos planejando, junto com o Grupo Liberal, realizar um grande Festival de Cultura Italiana, onde o cinema, artes e gastronomia serão comtemplados", adianta Rosângela Maiorana.

 

image O proprietário da Cantina Italiana, Cláudio Luzi, chegou a Belém para um festival de culinária e se instalou na capital paraense (Cláudio Luzi / Acervo Pessoal)

Novos hábitos foram introduzidos, inclusive na culinária, como o uso de massas e o consumo de legumes, produtos de suas hortas caseiras

Houve permanentemente um número significativo de comerciantes e de artesãos trabalhando por conta própria nas cidades. A atividade comercial nas cidades contribuiu para a ascensão social dos imigrantes e de seus descendentes e foi, em grande parte, complementar à atividade desenvolvida em pequenas fábricas.

Outro ponto a ser destacado é que havia um interesse muito grande dos imigrantes pela educação dos filhos. “Na região do Baixo Amazonas, os mais favorecidos mandavam os filhos estudarem em Belém e até mesmo na Itália. Os imigrantes desejavam um futuro melhor para seus filhos, bem diferente de sua experiência migratória”, diz Marília. O expressivo número de profissionais liberais descendentes desses italianos que se encontram na Amazônia confirma a realização dessa aspiração dos pais e avós imigrantes 

Cláudio Luzi é proprietário da Cantina Italiana e é um dos exemplos desses costumes e aspirações profissionais que se mantêm. Chegou a Belém em 1984, para fazer um festival de comida italiana no antigo Iate Clube do Pará. A fama então chegou, num momento em que a variedade de cozinhas disponíveis era muito baixa. Enfrentou crises econômicas e com talento, conseguia driblar a falta de queijos e outros produtos com produção artesanal. "Fui um dos primeiros importadores de vinhos de Belém. E ainda hoje trabalho com isso, inclusive com a marca que é do Festival de San Genaro, em setembro, que é meu santo protetor. Neste ano, esperamos fazer um grande festival na rua, com a ajuda do Liceo e do Consulado", diz.

"Outra importante influência se refere a culinária. O macarrão ou massa, chamado pelos italianos de pasta é, sem dúvida,um dos maiores destaques no cardápio ítalo-brasileiro, não apenas nas mesas de famílias , sejam elas descendentes de italianos ou não. A pizza, que no Brasil ganhou diferentes variações é quase obrigatória no jantar de domingo para os descendentes, O panetone de Natal é outro exemplo da herança italiana. A lasanha, a bisteca alla fiorentina, o risoto, o ossobuco, o tiramisù enfim várias iguarias hoje incorporadas ao nosso cardápio", conclui Rosângela Maiorana.

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