Efeito COP: procura por qualificação para 'empregos verdes' cresceu 288% no Pará
No ensejo da conferência climática, setores de serviços, energia solar e bioeconomia passaram a liderar novas oportunidades; veja como se capacitar
A preparação pela qual Belém passou para receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e a urgente transição para uma economia de baixo carbono já impactam diretamente o mercado de trabalho no Pará. Dados levantados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) no Pará mostram um crescimento robusto na busca por capacitação: entre janeiro e dezembro de 2024, a instituição registrou 6.805 matrículas em cursos voltados à sustentabilidade. O número representa um crescimento superior a 288% em relação a 2023.
Esse movimento de qualificação acompanha a expansão dos negócios. Segundo um estudo recente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que analisou a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o Brasil possui hoje 1,8 milhão de CNPJs ativos considerados "verdes", um aumento de 20,4% nos últimos cinco anos. Desse total, a esmagadora maioria — cerca de 95,8% — é formada por pequenos negócios (MEI, ME e EPP).
Davis Siqueira, gerente executivo de educação profissional do Senai Pará, avalia que o cenário é de consolidação.
"O crescimento das vagas ligadas à economia verde tem se consolidado no país e também no Pará, e a expansão da qualificação profissional é um sinal claro desse movimento. No cenário nacional, o mercado de empregos verdes já reúne cerca de 3,8 milhões de ocupações, com projeções que indicam a possibilidade de alcançar 7,1 milhões até 2030", explica.
Davis Siqueira, gerente executivo de educação profissional do Senai Pará (Ascom Simineral)
Serviços e manutenção lideram o setor
Ao contrário do que se imagina, a "economia verde" não está restrita apenas a grandes projetos ambientais. Para o pequeno empreendedor, o nicho de manutenção e reparo é o mais forte. Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae/PA, destaca que atividades que prolongam a vida útil de produtos são centrais nesse modelo.
"Esse estudo mostrou pra gente que dentre os diferentes CNAEs, há um domínio das atividades de manutenção e reparo. As atividades relacionadas a veículos automotores, computadores, máquinas, eletroeletrônicos e objetos pessoais e domésticos somam aproximadamente 64% do total de empresas verdes ativas no país", detalha Rubens Magno.
Energia solar e bioeconomia em alta
No recorte paraense, a energia renovável e o turismo sustentável são motores de contratação. O estado vive uma expansão na instalação de sistemas fotovoltaicos, o que exige mão de obra técnica. "No caso da energia solar, o Pará tem avançado de maneira consistente. A mão de obra local está em processo contínuo de qualificação, acompanhando a forte expansão do setor no estado, que já registra milhares de sistemas instalados", afirma Davis Siqueira.
Já na bioeconomia, o destaque vai para o empreendedorismo local. Magno cita o exemplo da Ilha do Combu, em Belém, onde o número de empreendimentos saltou de três, no início dos anos 2000, para cerca de 70 atualmente, impulsionados pelo turismo e gastronomia sustentável.
Onde buscar qualificação
Para quem deseja ingressar nesse mercado, as opções variam desde cursos técnicos a mentorias de gestão. O Senai oferta 16 cursos específicos na área e incorporou módulos de sustentabilidade em outras formações industriais. As competências mais exigidas incluem domínio de gestão ambiental (ISO 14001), ESG, eficiência energética e economia circular.
Pelo lado do Sebrae, o foco está no apoio ao empreendedor.
"Aqui, no Pará, nós administramos o Polo Sebrae de Energias Renováveis. Lá, há trilhas específicas de capacitação para empresas do setor de energia solar e renováveis, com soluções técnicas, mentorias e apoio para estruturar o negócio. No nosso portfólio há cursos voltados para ESG, sustentabilidade para pequenas empresas, gestão ambiental e inovação responsável", orienta Rubens Magno.
Existe ainda o Programa de Negócios de Impacto Socioambiental (Nisa), voltado para práticas agrícolas sustentáveis na Amazônia.
Práticas sustentáveis geram economia
Para o empresário que já atua no mercado, como donos de restaurantes ou de mercadinhos, a adaptação à agenda verde é também uma questão de sobrevivência financeira. A adoção de eficiência energética é o primeiro passo.
"Isso pode reduzir drasticamente custos com eletricidade, e redução de custos pode salvar um negócio, pois menos gasto fixo e mais previsibilidade financeira pode melhorar a margem de lucro. Para quem vende bens ou serviços, pode haver novos nichos de mercado. Por exemplo: restaurantes ou hotéis que adotam práticas sustentáveis podem atrair consumidores com consciência ambiental", conclui o diretor do Sebrae.
Onde estão as oportunidades?*
Serviços: 45,9% dos pequenos negócios verdes
Comércio: 40,2%
Indústria: 13%
Agropecuária e Construção: somam menos de 1%
(*Dados nacionais - Fonte: Sebrae)
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