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Cupuaçu 5.0: kit de clones da fruta melhora produção e qualidade

Pesquisa desenvolvidas pela Embrapa deve ser apresentada em maio, como celebração dos 49 anos da empresa

O Liberal

O cupuaçu, uma das frutas regionais mais icônicas e amadas da gastronomia paraense, ganhou um reforço tecnológico e chegou a um novo estágio. O chamado kit clonal "cupuaçu 5.0", que promete aumentar a produtividade da fruta, será apresentado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Amazônia Oriental) nesta quarta-feira (27), no Pavilhão de Exposições, em Brasília, para imprensa e autoridades, durante o evento de aniversário de 49 anos da Embrapa.

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Cinco clones — de cinco espécies que devem ser plantadas juntas — foram feitos e a atualização do fruto se mostrou mais fácil de produzir e mais resistente a pragas, como a vassoura-de-bruxa. A pesquisa levou 10 anos. É um reforço tecnológico para o posicionamento de uma fruta com mercado em franca expansão nacional e internacional e com potencial de se tornar um importante ativo de bioeconomia e desenvolvimento local a partir da criação de novos produtos ou como insumos de alto valor agregado.

Além disso, no dia 5 de maio, a Embrapa vai realizar a live “Bioeconomia como vetor de desenvolvimento sustentável na Amazônia: tendências de consumo e potencial do cupuaçu no mercado de produtos de alto valor agregado”. Será para lançar o Kit Clonal, às 18 horas, no Canal da Embrapa no Youtube. No total serão cinco eventos, para marcar as cinco cultivares que integram o kit. Sendo 3 lives em maio e dois eventos presenciais, culminado com um dia de campo, no segundo semestre.

O kit clonal precisa ser implantado por enxertia, seja para a formação de novos pomares ou para a substituição de copas de plantas improdutivas. As variedades e forma de aplicação são do pesquisador Rafael Moyses Alves, melhorista da Embrapa Amazônia Oriental. Ele explica que a propagação dos clones traz segurança aos produtores. Porém, lembra que o cupuaçuzeiro, apesar de ser uma planta de fácil manejo, exige uma certa variabilidade genética em campo para ser produtivo.

image Cinco clones plantados juntos podem aumentar o potencial do cupuaçu (Vinicius Soares Braga/ Divulgação Embrapa)

A substituição de copa do cupuaçuzeiro é um método alternativo para controle da vassoura-de-bruxa, aprimorado pela Embrapa Amazônia Oriental. A tecnologia consiste na poda de alguns ramos da árvore improdutiva e, nos brotos futuros, são enxertados os clones resistentes. Levantamento feito pela empresa estima que o custo médio para a produção do cupuaçuzeiro melhorado é de cerca de R$ 13 mil por hectare diluído nos três primeiros anos. O retorno do investimento ocorre a partir do sétimo ano. Outra vantagem do Cupuaçu 5.0, como aponta Moyses, é a ampliação do período de safra que passa de quatro para seis meses.

Cupuaçu: agricultura familiar e produção superior a R$ 54 milhões

O Censo Agropecuário de 2017 estima que o volume da produção nacional de cupuaçu foi de 21.240 toneladas, correspondente a uma área colhida de 13.504 hectares e atuação de 15.747 estabelecimentos produtivos. O valor estimado da produção chegou a R$ 54,8 milhões. As previsões são de que o cupuaçu 5.0 apresenta dupla aptidão, pois apresenta bom rendimento tanto de polpa quanto de amêndoas.

Na comparação com as demais espécies, o cupuaçu 5.0 produz até 14 toneladas de frutos por hectare. Outras espécies desenvolvidas pela Embrapa chegam à média de 8 toneladas. É bem acima da marca de 2,5 toneladas das demais espécies comuns do Pará, segundo levantamento realizado da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap, em 2018).

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As amêndoas frescas do cupuaçu 5.0 terão valor no mercado tanto da gastronomia, por ser a base do "cupulate" (doce semelhante ao chocolate), quanto como insumo para a indústria de cosméticos, como aponta o pesquisador da Embrapa. O cupuaçu 5.0 chega a quase o dobro por hectare, se comparado à espécie mais rentável apresentada pela Embrapa, com 1,9 tonelada por hectare e acima da média das espécies estaduais, com 0,4 toneladas por hectare.

Bioeconomia do cupuaçu preserva a floresta em pé

Roseli Mello, líder global de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de um grupo global de cosméticos que usa o cupuaçu como matéria-prima de diversos produtos da empresa, destaca que o fruto tem valor no conceito de bioeconomia. Possui alto potencial para cultivo em sistemas agroflorestais, por se desenvolver melhor nesses ambientes, ampliando as opções da renda para pequenos agricultores.

“Com investimentos em tecnologia e pesquisa em bioeconomia, o potencial do Brasil para gerar riqueza por meio da sociobiodiversidade e ser um protagonista na agenda global de sustentabilidade e da economia de baixo carbono é imensurável”, analisa Roseli Melo.

image (Vinicius Soares Braga/Divulgação Embrapa)

Segundo o estudo Bioeconomia da Sociobiodiversidade do Pará, elaborado pela The Nature Conservancy, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Natura, a comercialização de 30 produtos extraídos da Amazônia no estado gerou uma renda total de R$ 5,4 bilhões em 2019. Nesse levantamento, o cupuaçu aparece entre os dez com maior potencial de exportação e agregação de valor.

Cupuaçu: oportunidades na alta gastronomia e cosméticos

O óleo e a manteiga extraídos da amêndoa do cupuaçu conquistam o mercado por apresentarem características físico-químicas apreciadas nas indústrias química e de cosméticos. “Ela possui alto poder de absorção de água, aproximadamente 240% superior à da lanolina, atuando como um substituto vegetal desse produto de origem animal, regula o equilíbrio hídrico e a atividade dos lipídeos da camada superficial da pele e pode ser usado ainda no tratamento de doenças”, afirma Ekkehard Gutjah, sócio de uma empresa de óleos.

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“Esse subproduto do cupuaçu foi uma das primeiras manteigas amazônicas a entrar no mercado internacional há cerca de 20 anos e, mesmo nesse curto espaço de tempo, já registra seu lugar na literatura mundial da indústria de cosméticos ao apresentar características superiores às manteigas de karité e lanolina, que ainda dominam o mercado mundial”, relata o empresário. No entanto, a matéria-prima ainda esbarra na baixa produção e oferta de amêndoas. 

Outra oportunidade está na gastronomia. Em 2021, uma tradicional sorveteria paraense, a Cairu, ganhou um prêmio nacional com um sorvete de castanha-do-Pará e doce de cupuaçu. Ainda participou de um concurso mundial de sorvetes realizado na Itália. Atualmente, é o terceiro sabor mais vendido na rede de sorveterias do estado. César De Mendes, empresário paraense do ramo de chocolates e cupulates já participou de competições mundiais do produto e reforça a valorização das culturas e comunidades fornecedoras. Ambos casos em que a fruta mostra o potencial perante o mundo e que aumenta o leque de possibilidades com o cupuaçu 5.0 da Embrapa.

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