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'Cine Ideal': principal ponto de encontro dos moradores da Vila Rondon vira documentário

Em uma sala, na esquina das ruas Minas Gerais com a 1° de Maio era onde a magia acontecia

Ricardo D'almeida
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Era uma vez uma pequena vila no interior do Pará onde as ruas lamacentas no inverno amazônico e poeirentas no verão se misturaram com as ficções da tela de cinema. O Cine Ideal, que existiu do começo da década de 1970 até início dos anos 1990, era o principal ponto de encontro dos rondonienses e hoje está registrado em um documentário. 

Naquela sala, na esquina das ruas Minas Gerais com a 1° de Maio era onde a magia acontecia. Os casais de namorados surgiram inspirados nos filmes românticos, as pessoas choravam emocionadas com os dramas, se indignavam com os vilões e tinham momentos de leveza em meio ao cotidiano daquela vida difícil, que parecia um roteiro de faroeste americano. 

Enquanto a antiga Vila Rondon recebia migrantes de diversas partes do Brasil nos anos turbulentos da ditadura militar, os filmes de faroeste espaguete, dos trapalhões na Serra Pelada e das lutas do Bruce Lee traziam talvez mais do que a leveza de um entretenimento nos finais de tarde. 

É possível que as histórias em tela servissem de estímulo aos homes e mulheres que vinham, com espírito desbravador, e, ao verem nos filmes os norte-americanos conquistando territórios, criando gado, fazendo justiça com as próprias mãos, se inspirassem em fincar o pé e brigar por essa terra, por amor ou por necessidade. 

Nos finais de tarde, por volta das 18h, começava a tocar nos autos falantes, que funcionavam também como uma “rádio poste”, a música tema do filme “Três homens em Conflito”, de Sérgio Leoni, que alertava a população da cidade que a sessão daquele dia estava prestes a começar. Aquele assovio, como um coiote uivando nos morros dos desertos, soava de forma peculiar naquele pôr-do-sol da Vila Rondon, que iluminava em paralelo a rua Minas Gerais, enquanto as pessoas se arrumavam para ir ver fillme, fosse a pé, de bicicleta ou a cavalo. 

Foi de José Monteiro, vindo do Espírito Santo junto com sua família, a iniciativa corajosa de construir um robusto prédio de alvenaria, com cerca de 486 acentos, em um terreno inclinado, naquela vila onde havia apenas modestas casas de madeira ou de barro cercadas ainda por muita floresta amazônica nativa. Ter motor gerador de energia foi obrigatório, tendo em vista que não havia rede elétrica. Água encanada, saneamento básico e asfalto eram também sonhos distantes.

Tal empreendimento marcou gerações em quase duas décadas de funcionamento. Antigos funcionários e frequentadores do Cine Ideal fizeram relatos emocionados daquela época em um documentário curta-metragem. O filme lançado em 2016 foi chamado Cine Ideal: memórias de um cinema de rua de Rondon do Pará”, teve a direção é de Ricardo Tavares D’Almeida. O mesmo se encontra disponível no YouTube.

 

(Ricardo D'almeida, aluno da turma de 2020 do curso de jornalismo da Unifesspa, com orientação do profº Antônio Ribeiro e edição da profª Janine Bargas) 

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