Entrega de doces no dia de São Cosme e Damião tem origens no sincretismo religioso; veja mais
A distribuição de doces surge a partir de religiões de matriz africana
Uma das datas mais aguardadas pelas crianças, que se reúnem para buscar doces de casa em casa, o dia de São Cosme e São Damião é comemorado nos dias 26 e 27 de setembro, em função do sincretismo religioso do catolicismo com religiões de matriz africana. É a partir de religiões como o Candomblé e a Umbanda que surge a tradicional distribuição de guloseimas no dia 27. Os doces representam a alegria, a saúde e a prosperidade, e são dados para agradar os Erês, ou Ibejis, os orixás crianças.
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Já a Igreja Católica comemora a data no dia 26, para relembrar os gêmeos santos que viveram durante o século III e cuidavam dos enfermos sem custos. Cosme e Damião também eram missionários, unindo a prática médica com o poder da oração, divulgando o cristianismo em um momento de perseguição cristã. Para Help Luna, bacharel em direito e líder comunitária do bairro da Pedreira, a data também significa cuidado, empatia e caridade.
“Desde nova, acho que fui predestinada a trabalhar com caridade, tenho vários projetos com crianças e idosos. A minha promessa de São Cosme e Damião ocorreu há mais de 30 anos, porque eu tenho um sobrinho, o Ronaldo Antônio. Ele era uma criança muito linda, todo bonitinho. E esse período é uma grande festa, você vê crianças se deslocando de vários lugares para pegar o saquinho de bombom”, relembra Help.
Na época, Ronaldo era muito pequeno, mas queria correr com as outras crianças na rua atrás das guloseimas. A família temia que ele se machucasse. “A mãe dele não deixou que ele fosse com as demais crianças ficar correndo atrás dos bombons. Ele começou a chorar, ficou vermelho, no desespero porque queria correr com as crianças. Então eu disse para ele não se preocupar, porque no próximo ano eu iria trazer os bombons”, diz a líder comunitária.
Desde então, a distribuição de bombons no dia 27 se tornou uma tradição para Help Luna. Atualmente com 67 anos de idade, hoje ela conta com o apoio das sobrinhas, e pode distribuir os bombons e as pipocas para os pequenos da vizinhança. Ela também conta com a ajuda de colaboradores, alguns amigos que fazem doações para que a ação continue sendo realizada. “Distribuo uma parte aqui no Telégrafo e outra na Pedreira, bairro do Samba e do Amor, que é onde eu moro”, conta.
Símbolos de inocência e alegria
Na Umbanda, os orixás Ibejis ou Erês são considerados símbolos de inocência, alegria e pureza, como explica o filho de santo Ricardo Simões, professor de gastronomia. “A celebração do dia 27 é marcada pela distribuição de doces, brinquedos e oferendas às crianças, representando a alegria e a leveza que os Erês trazem. Essa associação surgiu como uma tática de sincretismo religioso, que permitiu aos africanos escravizados manterem suas tradições ao associar seus orixás com os santos católicos”, explica Ricardo.
Na religião, a distribuição de doces é uma forma de agradecer pela proteção e bênçãos dos Ibejis. Ricardo faz parte do terreiro São Cosme e Damião, aberto em 1985, no bairro do Jurunas. No dia 27, a programação no terreiro contará com lanches, brincadeiras para as crianças e distribuição de brinquedos. “Vamos ter tambor para recebermos as entidades Ibejis, para celebrarmos essa data tão importante na Umbanda”, acrescenta o filho de santo.
*Ayla Ferreira, estagiária de Jornalismo, sob supervisão de Fabiana Batista, coordenadora do Núcleo de Atualidades
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