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Alter do Chão: satélites e pesquisadores apontam garimpo como responsável por mudança de cor

Análise do MapBiomas detecta agravamento da pluma de sedimentos do Tapajós coincidente com atividade garimpeira; cheia do Amazonas também contribui.

Ândria Almeida / O Liberal
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Análises de imagens de satélite feitas pelo MapBiomas revelou indícios de que a turbidez da água do rio Tapajós, que banha Alter, a vila balneária de Alter do Chão, é resultado da ação de garimpos na região. Essa já era uma linha de investigação da Polícia Federal e de órgãos públicos de meio ambiente.

Para essa conclusão, foram analisadas sequência de imagens de satélite de alta resolução que indicaram que a lama dos garimpos de afluentes do Tapajós — como o Jamanxim, o Crepori e o Cabitutu — está por trás da pluma de sedimentos que tomou o rio neste ano e é visível em todo seu baixo curso até a foz.

No entanto, diz o consórcio, a cheia anual do rio Amazonas também contribui com a mudança de cor do rio Tapajós ( na altura de Alter do Chão. 

Os dois rios se comunicam na foz do Tapajós, e os sedimentos do Amazonas, um rio naturalmente barrento, também invadem a foz do cristalino Tapajós. Porém, a análise pondera que essa opacidade cíclica e natural nessa época de início das cheias, entretanto, diz os especialistas enfatizam que não é o basta para explicar as alterações vistas em Alter e em outros pontos do rio neste ano

Análises de imagens 

Nas imagens de satélite de 3 metros de resolução, da constelação americana Planet, é possível ver a pluma de lama tomando o Tapajós mesmo em julho, mês de seca, quando não há influência do Amazonas. A comparação entre rios com garimpo, como o do Cabitutu e rios sem garimpo, como o do Cadarini, não deixa dúvida.

 No sobrevoo do rio é possível ver claramente a pluma de sedimentos descendo dos afluentes tomados pelo garimpo avançando Tapajós adentro. Na altura da cidade de Itaituba, apelidada de capital brasileira do ouro ilegal, o outrora chamado “rio azul” fica opaco, e essa turbidez avança até a foz.

“Mudanças na coloração das águas do Tapajós e de sua foz estão se tornando cada vez mais frequentes e mais intensas, e coincidem com expressivo avanço da atividade garimpeira na região”, afirma o MapBiomas, em nota técnica publicada nesta segunda-feira (23).

Expansão de garimpos na região

Segundo levantamento do MapBiomas, a área de garimpo na Amazônia cresceu dez vezes nas últimas três décadas, e 2020 (último ano para o qual há dados) registra o recorde da série histórica. A pandemia provocou uma explosão no preço do ouro, que em 2020 atingiu pela primeira vez US$ 2.000 a onça troy (unidade de venda de ouro, equivalente a 31,1 gramas). Isso provocou uma corrida do ouro na Amazônia.

Segundo o Greenpeace, 73% das áreas abertas para mineração entre janeiro e setembro de 2021 incidiram sobre áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas). Somente nas Terras Indígenas Saí Cinza e Munduruku o aumento da extensão de rios impactados pelo garimpo nos últimos cinco anos foi de quase 2.300%.

De acordo com o MapBiomas, na região do Tapajós o aumento do garimpo foi de 223% nesse período. A área adicional diretamente impactada pelo garimpo é equivalente à de Porto Alegre.

Desde 2019 é nítido o avanço do garimpo na região do médio Tapajós. Apenas na TI Munduruku ele cresceu 363% nos últimos três anos, segundo estudo do Instituto Socioambiental. Além de a fiscalização do Ibama ter sido fragilizada nesse período, tramita na Câmara um projeto de lei para abrir todas as terras indígenas do país ao garimpo e à mineração industrial.

Para chegar ao ouro, os garimpeiros reviram fundo dos rios com dragas ou desviam- no, cavando barrancos enormes com pás carregadeiras, ou PCs. A destruição pode se estender por quilômetros do curso do rio. Em todos os casos, a lama é descartada na própria água, a jusante da exploração. 

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