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Adequação do tempo de tela para crianças e adolescentes caiu quase 40% durante a pandemia

Estudo da Fiocruz mostra que o problema afetou público de 0 a 17 anos em várias regiões do país

Camila Guimarães

Crianças e adolescentes brasileiros apresentaram redução na prática de atividade física e aumento do uso de telas devido à pandemia de covid-19, contribuindo para maior risco de problemas como excesso de peso e alterações neurocognitivas. A afirmação é de um estudo do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), publicado este mês. A correta adequação do tempo recreativo de tela entre esse público, que antes era feita por 67,22% das famílias, reduziu para 27,27%, na pandemia.

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O estudo comparou o resultado dos 525 participantes com as Diretrizes de Movimento de 24 Horas, publicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que fornecem recomendações específicas sobre comportamentos de movimento para esse público. As conclusões apontam que medidas de isolamento social contribuíram para a redução da atividade física e maior consumo de telas em ambos os grupos: crianças de 0 a 5 anos, e jovens de 6 a 17 anos.

A realidade aferida pela pesquisa foi experimentada, na prática, pela família do educador físico Maykson Lacerda, pai do Miguel, de seis, e da Maya, de quatro anos de idade. Ele conta que, como profissional, sempre foi apaixonado por movimento e já praticou diversos esportes - algo que sempre se imaginou compartilhando com os filhos e começou a dividir com o mais velho, até a chegada da covid-19.

"Eu treino e ou aula há quase nove anos. Quando eles nasceram, sempre pensei em colocá-los para treinar. Estava esperando chegar a idade. O Miguel começou a treinar em um espaço onde minha irmã dava aula e já estava há um ano lá. Foi quando veio a pandemia e acabou com tudo", conta Maykson.

image Pai incentiva a prática de atividade física pelos filhos, que passaram mais tempo que o desejado frente às telas na pandemia. (Igor Mota / O Liberal)

Durante o período de restrições pandêmicas, como o isolamento e distanciamento social, o fechamento de espaços como as academias etc., Miguel teve que ficar mais tempo em casa e, com isso, acabou aumentando sensivelmente o consumo de televisão e celular.

"As crianças ficaram mais tempo ociosas e é justamente isso que aumentou o tempo de tela. E é uma coisa que vicia também, eles querem o tempo. A gente até tentou fazer atividade física em casa, com brincadeiras, para tentar diminuir esse tempo, mas acabou tendo esse aumento do uso de telas, sim", relata o pai das crianças.

Dados da pesquisa

Adequação geral às orientações das diretrizes de atividade física e do tempo recreativo de tela:

Crianças de 0 a 5 anos

  • Adequação antes da pandemia: 19,28%
  • Durante a pandemia: 3,58%
  • Principal tipo de tela: TV
  • Participaram de ensino à distância: 50%
  • Tempo de tela para ensino à distância superior a 2h: 11%

Jovens de 6 a 17 anos

  • Adequação antes da pandemia: 39,50%
  • Durante a pandemia: 4,94%
  • Principal tipo de tela: diversos
  • Participaram de ensino à distância: 92%
  • Tempo de tela para ensino à distância superior a 2h: 54%

Consequências: fator de risco para o excesso de peso e para alterações no funcionamento neurocognitivo de crianças.

O aumento do tempo de tela foi maior para crianças em países com medidas de isolamento social mais rígidas, como Espanha, Brasil e Turquia, enquanto foi comparativamente menor em países com restrições leves, como Alemanha, Austrália e Eslovênia.

Fonte: IFF/Fiocruz

Atividade física combate problemas causados pelo excesso de telas

Depois de um tempo, Maykson chegou a perceber, principalmente no filho mais velho, mudanças de comportamento na escola, ficando mais disperso e com dificuldade de concentração. Há um mês, ele voltou a praticar crossfit kids e Maykson diz que já é sensível a melhora:

"Os meus filhos já são bem-dispostos, mas com atividade física aumenta ainda mais a disposição. Teve recentemente a reunião dos pais na escola e a professora falou que o Miguel já melhorou da dispersão na sala de aula. Eu acredito que a atividade física acaba fazendo ele ficar mais focado mesmo. Hoje, o Miguel e a Maya treinam juntos".

A presidente da Sociedade Paraense de Pediatria (SPP), a pediatra Vilma Hutim, afirma que a falta de adequação correta do tempo de tela já era uma preocupação anterior à pandemia, e só piorou após a crise global.

"Desde antes da pandemia, mais de 4h de uso de tela já tinha contraindicação. Na pandemia, estudos já apontavam as consequências negativas desse uso, como o sedentarismo, problemas de visão, alteração de sono, problemas posturais, ansiedade, dificuldade de concentração e até mesmo redução na alfabetização independente do nível social e econômico. São inúmeras as consequências", adverte.

Por outro lado, ela garante que os benefícios da prática de atividade física por crianças são inúmeros, tanto físicos, quanto mentais e emocionais. A prática é uma das principais recomendações para minimizar esses problemas e promover o desenvolvimento infanto juvenil saudável.

"A atividade física vai trabalhar quase tudo: a socialização, o equilíbrio emocional, a qualidade do sono e do metabolismo, o crescimento, ganho de peso - é uma estratégia de saúde para minimizar as consequências do uso de tela de forma global. Precisamos urgentemente priorizar atividade física e lúdica, sempre adaptadas às faixas etárias", orienta.

Vilma alerta, ainda, que a decisão pela prática de uma atividade em específico deve partir de uma observação conjunta de vários profissionais, como um educador físico, o pediatra, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional ou mesmo o médico da família, para orientar os pais sobre a melhor atividade de acordo com cada perfil de criança.

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