Ucranianos vão às ruas e Zelenski tem primeiro desafio interno desde começo da guerra
Lei anticorrupção aprovada por Zelenski gera protestos na Ucrânia, críticas da União Europeia e tensão em meio a negociações com a Rússia

Ativistas ucranianos convocaram novos protestos nesta quarta-feira (23) contra uma lei que, segundo eles, enfraquece os órgãos de combate à corrupção no país. As manifestações foram intensificadas após o primeiro grande ato público contra o governo desde o início da guerra, ocorrido na noite de terça-feira (22).
A nova legislação, aprovada pelo Parlamento, amplia a supervisão governamental sobre duas das principais agências anticorrupção da Ucrânia. Críticos alegam que a medida compromete a independência das instituições e amplia a influência do círculo do presidente Volodmir Zelenski sobre investigações sensíveis.
Após a repercussão negativa, Zelenski convocou uma reunião com os chefes das principais agências de combate à corrupção e segurança do país. Em mensagem no Telegram, o presidente afirmou que “todos ouviram o que a sociedade disse”, mas defendeu a nova estrutura legal como necessária para tornar o combate à corrupção mais eficiente.
Segundo ele, o objetivo é evitar que processos judiciais se arrastem por anos e garantir punição para aqueles que atuem contra os interesses nacionais. Um plano de ação conjunto entre os órgãos deve ser apresentado em até duas semanas para eliminar obstáculos legais e melhorar a resposta institucional.
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União Europeia e entidades criticam nova legislação
A aprovação da lei também provocou reações no exterior. Em publicação na rede X (antigo Twitter), a comissária de Ampliação da União Europeia, Marta Kos, classificou a medida como “um sério retrocesso”. O combate à corrupção é uma das exigências para que a Ucrânia avance nas negociações de adesão ao bloco.
A Transparência Internacional da Ucrânia também criticou a decisão, afirmando que ela compromete uma das reformas mais importantes desde a Revolução da Dignidade, em 2014, e abala a confiança dos parceiros internacionais.
A nova norma confere maior poder ao procurador-geral da Ucrânia sobre as atividades do Escritório Nacional de Anticorrupção (NABU, na sigla em inglês) e da Procuradoria Especializada Anticorrupção (SAPO). O governo argumenta que a medida elimina suposta “influência russa” nas instituições, embora não tenha apresentado evidências concretas.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, negou qualquer infiltração em órgãos ucranianos.
Negociações de paz seguem em meio a crise interna
Enquanto enfrenta protestos domésticos, a Ucrânia enviou uma delegação a Istambul, na Turquia, para uma nova rodada de negociações de paz com a Rússia. As conversas estavam previstas para a tarde desta quarta-feira, embora sem grandes expectativas de avanços imediatos.
O Kremlin confirmou o envio de seus representantes e classificou o encontro como “muito complexo”. Segundo o porta-voz Dmitri Peskov, o foco das discussões está em rascunhos de memorandos que expressam as exigências e visões de cada lado sobre um possível acordo.
A delegação russa é liderada pelo ex-ministro da Cultura e historiador Vladimir Medinski, enquanto a equipe ucraniana é chefiada por Rustem Umerov, atual secretário do Conselho de Segurança Nacional e ex-ministro da Defesa. Ambas as partes já se reuniram anteriormente em Istambul, nos meses de maio e junho.
(Com agências internacionais)
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