Quase 800 corpos de bebês enterrados em lar católico serão exumados para acerto de contas
Mais de uma década após a descoberta, o país se prepara para a exumação dos corpos; entenda

Autoridades irlandesas iniciaram nesta segunda-feira (16), dez anos após a descoberta, os trabalhos de exumação dos restos mortais de 796 bebês e crianças que morreram em um antigo lar para mulheres solteiras e seus filhos, administrado pela Igreja Católica.
As escavações, que serão realizadas no abrigo Santa Maria do Bom Socorro de Tuam, na cidade de Tuam, no condado de Galway, oeste da Irlanda, fazem parte de um acerto de contas em um país predominantemente católico, marcado por um histórico de abusos em instituições administradas pela Igreja.
O lar, gerido por uma ordem de freiras católicas e fechado em 1961, foi uma das muitas instituições do tipo que abrigaram milhares de órfãos e mulheres grávidas solteiras, forçadas a entregar seus filhos durante grande parte do século XX.
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Historiadora destacou episódio sombrio
Em 2014, a historiadora irlandesa Catherine Corless trouxe à tona um dos episódios mais sombrios da história recente do país. Após anos de pesquisa, ela conseguiu comprovar que dezenas de crianças — de recém-nascidos a nove anos — morreram no abrigo Santa Maria do Bom Socorro, localizado na cidade de Tuam, a cerca de 200 quilômetros a oeste de Dublim.
As investigações de Corless revelaram que os corpos dessas crianças foram enterrados em uma antiga fossa séptica do local, usada como cemitério clandestino. Restos mortais começaram a ser encontrados entre 2016 e 2017, durante as primeiras escavações realizadas na área.
O trabalho da historiadora foi fundamental para a criação de uma comissão nacional de inquérito sobre os maus-tratos sofridos por mães e crianças nos chamados Mother and Baby Homes — instituições que funcionaram em parceria entre o Estado irlandês e a Igreja Católica.
Um retrato da negligência institucional
O relatório final da comissão, divulgado em 2021, apontou índices “alarmantes” de mortalidade infantil nessas instituições. Estima-se que cerca de 9 mil crianças tenham morrido nesses locais. Entre 1922 e 1988, aproximadamente 56 mil mulheres solteiras e 57 mil crianças passaram por 18 desses abrigos em todo o país.
“Quando comecei esse projeto, ninguém queria me escutar (...). Eu suplicava: tirem os bebês dessas tubulações, vocês têm que oferecer a eles o enterro cristão digno que lhes foi negado”, relatou Catherine Corless, hoje com 71 anos, à agência AFP.
Na época, mulheres grávidas fora do casamento eram internadas compulsoriamente nesses abrigos, sob ordens do governo irlandês e da Igreja Católica. Após o parto, muitas eram separadas dos filhos, que frequentemente eram entregues para adoção — muitas vezes sem o consentimento das mães.
(Riulen Ropan, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web de oliberal.com)
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