Pedido de divulgação de documentos do caso Epstein deve decepcionar, dizem ex-promotores
Juristas afirmam que liberação de transcrições no caso Epstein deve trazer pouco conteúdo novo e pode ameaçar o sigilo de vítimas

Um pedido do Departamento de Justiça dos Estados Unidos para liberar as transcrições do grande júri que resultaram nas acusações contra Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell dificilmente trará novas revelações relevantes sobre os crimes do financista, segundo ex-promotores federais ouvidos pela imprensa americana.
A solicitação, feita na última sexta-feira (18) pelo procurador-geral adjunto Todd Blanche, busca liberar os registros sob o argumento de que “a transparência com o povo americano é de máxima importância para esta administração”. O pedido ocorre após o governo recuar da promessa de divulgar novos documentos sobre o caso, gerando críticas públicas.
Para a advogada Sarah Krissoff, ex-promotora assistente em Manhattan entre 2008 e 2021, a medida é apenas uma tentativa simbólica de resposta. “O presidente está tentando parecer que está fazendo alguma coisa aqui, mas na verdade não é nada”, disse à Associated Press.
Jeffrey Epstein morreu por suicídio em uma prisão federal em 2019, enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual. Ghislaine Maxwell, sua ex-namorada, foi condenada em 2021 por atrair menores para serem abusadas por Epstein e cumpre pena de 20 anos de prisão.
Especialistas afirmam que o conteúdo das transcrições tende a ser limitado. Joshua Naftalis, outro ex-promotor do Distrito Sul de Nova York, explicou que os promotores geralmente apresentam ao grande júri apenas o mínimo necessário para garantir uma acusação formal. “Não será tudo o que o FBI descobriu sobre o caso. Talvez algumas centenas de páginas”, estimou.
Sarah Krissoff concorda. “A prática é apresentar o mínimo de informação possível. Não acho que haverá algo novo.”
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Os dois ex-promotores explicam ainda que, ao contrário de outros casos em que testemunhas são convocadas a depor diante do grande júri, no Distrito Sul de Nova York é comum que agentes federais resumam depoimentos de vítimas e testemunhas, mantendo o sigilo.
Outro ponto destacado por Sarah é a sensibilidade do caso, que envolve vítimas menores de idade e ainda está juridicamente em aberto. “No caso de Ghislaine, há um recurso pendente na Suprema Corte. No de Epstein, há questões relacionadas à privacidade das vítimas, que permanecem anônimas”, afirmou.
Cheryl Bader, professora de direito penal da Fordham Law School e ex-promotora federal, destacou que o sigilo do grande júri é uma tradição respeitada no sistema judicial americano. “Promotores experientes valorizam esse sigilo. Pedidos como esse, vindos da cúpula do Departamento de Justiça, geram desconforto”, afirmou.
Bader e outros juristas também alertaram para o risco de interferência política. O advogado Mitchell Epner, ex-promotor federal, classificou como “extraordinariamente incomum” o envolvimento direto de autoridades como o procurador-geral e o procurador-geral adjunto em um caso do Distrito Sul de Nova York. Segundo ele, a situação se agravou com a recente saída de Maurene Comey, procuradora que atuou no caso Epstein.
“Estamos vendo uma mudança no funcionamento do Departamento de Justiça. Isso causa insegurança entre promotores e servidores”, disse Sarah Krissoff.
A expectativa é de que os juízes responsáveis pelo caso levem semanas ou até meses para decidir se as transcrições serão, de fato, liberadas.
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