Mortes de atrizes pornô reacendem discussão sobre indústria de filmes adultos

Desde janeiro, já foram registradas três mortes de profissionais da pornografia, todas mulheres. Suicídio e overdose estão entre as suspeitas.

O Liberal
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Nas últimas semanas, mortes de atrizes da indústria pornográfica têm reacendido uma discussão sobre a produção de conteúdo erótico. Na quinta-feira (15), Kagney Linn Karter faleceu aos 36 anos nos Estados Unidos, sob suspeita de suicídio. No dia 24 de janeiro, Jesse Jane foi encontrada morta ao lado do namorado, em Oklahoma, EUA – a perícia investiga se foi uma overdose. No dia 6 de janeiro, a peruana Thaina Fields morreu depois de ter feito críticas à indústria de filmes adultos, sem causa da morte definida.

A possível relação de mortes prematuras de profissionais da pornografia com a indústria de conteúdo erótico já foi questionada em 2012, quando um estudo publicado no "Journal of Sex Research" indicou não haver indícios de que estrelas pornô estejam mais propensas ao abuso sexual infantil e a problemas psicológicos, quando se compara a realidade de mulheres em outras profissões.

A pesquisa  fez uma comparação entre 117 atrizes pornô com mulheres da mesma idade, etnia e estado civil. À época, a conclusão foi de que profissionais do ramo estão mais expostas à ingestão de pelo menos 10 tipos de droga, além da probabilidade de terem começado a vida sexual de maneira precoce.

Quando a morte de cinco atrizes da pornografia foram registradas no intervalo de três meses, em 2018, denúncias e críticas sobre a indústria ganharam repercussão mundial. Ruby, uma atriz que concedeu entrevista à revista Rolling Stone, disse: "Na minha opinião, [os produtores e empresários] realmente não se importam se morremos ou não. Provavelmente vou pegar um pouco pesado aqui, mas esta é a verdade: eles preferem que morramos, porque assim podem ganhar dinheiro conosco para sempre".

Em 2021, a ex-atriz pornô Lana Rhoades revelou ao podcast "Girls 1 Kitchen" que desistiu da profissão por ter desenvolvido depressão e pensamentos suicidas. "[Os agentes] não se importam com as garotas, só querem agradar os produtores e as agências. São homens de 40 a 60 anos que estão na indústria há 20 ou 30 anos. Eles sabem como manipular meninas de 18 a 20 anos para que façam as coisas", declarou.

Em 2018, estrelas brasileiras do setor pornográfico falaram ao g1 nacional sobre a questão. A hipótese de que a profissão provoca uma "epidemia de depressão" e uma "onda de suicídios" foi rejeitada; por outro lado, as profissionais assumiram haver possíveis efeitos no estado psicológico de quem atua nessas produções, principalmente nas iniciantes.

"O suicídio não tem nada a ver com ser atriz. Tem mais a ver com o psicológico da pessoa. Tem pessoas de outros ramos que também se suicidam, têm problemas e depressão. Tudo depende", disse Fabi Thompson. As entrevistadas também se opuseram ao estereótipo de que há excesso de drogas e violência neste mercado.

Estudo brasileiro sobre a cultura pornográfica

A dissertação de mestrado "(Des)construindo performances: O feminino como sujeito na pornografia feminista" foi assinada por Thais Castro em 2015. O trabalho concluiu que os filmes pornográficos mais famosos reproduzem e contribuem para a "manutenção do machismo, da hegemonia masculina". A autora percebeu, ainda, a "desumanização das pessoas que trabalham com pornografia", o que pode ter efeitos nocivos à saúde dessas atrizes.

Castro acrescenta que "a precarização vai gerar esse contexto de violência, que vai 'matando' essas pessoas. [...] E, se não mata através do suicídio, vai matando através de outros fatores: privação do convívio social, da afetividade, da saúde. É uma falta de segurança de acesso à humanidade, por isso chega a situações tão extremas, como o suicídio".

A dissertação pode ser acessada neste link.

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