Irã acusa Trump de traição, descarta diplomacia e ameaça rota de petróleo
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou uma reunião emergencial para discutir o ataque americano

O governo do Irã acusou neste domingo, 22 de junho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de traição e declarou que os americanos optaram por destruir a diplomacia ao bombardear instalações nucleares no país. Em resposta, Teerã ameaçou bloquear o Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% da produção global de petróleo. A crise provocou uma alta no preço do barril, que chegou a US$ 80 pela primeira vez em um ano.
Na TV estatal, um comentarista afirmou que "todo cidadão americano ou militar na região é agora um alvo legítimo". Logo após o bombardeio, o Irã lançou novos mísseis balísticos contra Israel, deixando ao menos 11 feridos em Tel-Aviv.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, declarou que o país possui "muitas opções" para responder ao ataque. Sem detalhá-las, levantou-se o temor de retaliações contra bases americanas no Golfo Pérsico. O Bahrein, por exemplo, elevou o nível de alerta e recomendou trabalho remoto aos servidores públicos.
Araghchi classificou o ataque como traição de Trump, destacando que a ofensiva ocorreu enquanto os dois países negociavam um acordo sobre o programa nuclear iraniano, que Teerã afirma ter fins pacíficos. Segundo ele, Trump também teria enganado seus eleitores ao prometer acabar com guerras. “Neste momento, meu país está sob ataque, sob agressão, e temos o direito legítimo de autodefesa”, afirmou em entrevista coletiva.
O governo iraniano qualificou o ataque como uma "violação grave e sem precedentes" do direito internacional. Araghchi afirmou que a resposta será "com toda a força e meios" e alertou que o silêncio internacional diante da agressão pode levar o mundo a um cenário de "perigo e caos sem precedentes".
Após a coletiva, o chanceler iraniano viajou a Moscou para se reunir com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. “A Rússia é amiga do Irã. Temos uma parceria estratégica e sempre nos consultamos e coordenamos nossas posições”, declarou.
Parlamento aprova recomendação para bloquear Ormuz
No Parlamento iraniano, a Comissão de Política Externa aprovou uma resolução que recomenda o bloqueio do Estreito de Ormuz como retaliação. A proposta foi encaminhada ao Conselho Supremo de Segurança Nacional e ainda precisa do aval do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.
A simples ameaça causou nova alta de 3,9% no preço do petróleo, com o barril atingindo US$ 80 — o maior valor desde julho do ano passado. Desde o início da crise, há 11 dias, o preço do barril já subiu mais de 10%.
Embora o Irã já tenha bloqueado parcialmente o Estreito de Ormuz em ocasiões anteriores, analistas apontam que os ataques israelenses recentes podem ter afetado a capacidade do país de realizar tal operação com eficácia.
VEJA MAIS
EUA e Israel reagem com novas ameaças
Em entrevista à Fox News, o senador Marco Rubio afirmou que um ataque de retaliação por parte do Irã “seria o pior erro que eles poderiam cometer” e indicou que os EUA estariam prontos para agir. “Podemos voar para dentro e para fora do Irã à vontade”, disse.
Trump, por sua vez, voltou a sugerir uma possível mudança de regime no país. “Se o regime do Irã não é capaz de tornar o IRÃ GRANDE NOVAMENTE, por que não haveria uma mudança de regime?”, escreveu em sua rede social.
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, elogiou a ação americana e disse que as operações no Irã só terminarão quando “a ameaça nuclear e de mísseis balísticos” for eliminada. Um dos bombardeios israelenses atingiu uma ambulância na cidade de Najafabad, matando várias pessoas.
Khamenei é levado a local seguro; Irã já esperava ataque
Desde o início da escalada, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, foi transferido para um local seguro para evitar possíveis operações secretas dos EUA ou de Israel. Ele também nomeou sucessores, em caso de ataque fatal.
Imagens de satélite divulgadas pela Maxar Technologies indicam que Teerã já esperava um ataque à central nuclear subterrânea de Fordow. Três dias antes do bombardeio, caminhões e escavadeiras atuavam intensamente no local, possivelmente em preparativos defensivos.
Segundo Mahdi Mohammadi, assessor do presidente do Parlamento, “o local foi esvaziado há muito tempo e não sofreu danos irreversíveis”.
AIEA convoca reunião de emergência
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou uma reunião emergencial para discutir o ataque americano. A entidade afirmou que, até o momento, não há registro de vazamentos de radiação nas centrais atingidas.
As instalações bombardeadas incluem Fordow e Natanz, alvos das bombas “bunker buster” lançadas por aviões B-2 dos EUA, capazes de penetrar estruturas subterrâneas.
(Com agências internacionais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.)
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA