Arquiteto da Guerra do Iraque, Donald Rumsfeld morre aos 88 anos
O ex-secretário de Defesa dos EUA ambém foi um ardente defensor da invasões americana do Afeganistão
Donald Rumsfeld nunca escondeu que era obcecado pela geopolítica do petróleo. Como secretário de Defesa, era um dos que cochichavam conselhos no ouvido do presidente George W. Bush. Na Casa Branca, ao lado do vice-presidente Dick Cheney, ele se debruçava sobre os mapas do Iraque, imaginando como garantir a segurança dos EUA ditando o ritmo da produção. Rumsfeld morreu ontem, aos 88 anos, em sua casa em Taos, no Novo México, de um mieloma múltiplo, segundo o porta-voz da família, Keith Urbahn.
Além de arquiteto da guerra do Iraque, Rumsfeld também foi um ardente defensor da invasões americana do Afeganistão, após os atentados de 11 de setembro de 2001. Republicano de quatro costados, foi a única pessoa a servir duas vezes como secretário de Defesa, tornando-se o mais jovem chefe do Pentágono, em 1975, aos 43 anos, e o mais velho quando voltou ao cargo, em 2001, com 74. À frente do Departamento de Defesa dos EUA, ele enfrentou tanto a ameaça nuclear dos soviéticos quanto as ações furtivas dos terroristas islâmicos.
Aliado fiel de Cheney, um velho amigo, Rumsfeld defendia com unhas e dentes a guerra contra congressistas, jornalistas, militares e até membros do próprio gabinete. Na sua segunda passagem pelo Pentágono ele foi comparado ao mais influente secretário de Defesa da história dos EUA, Robert McNamara, que conduziu o país na Guerra do Vietnã.
Como aconteceu com McNamara, a guerra prejudicou a imagem de Rumsfeld. Mas, ao contrário de McNamara, que fez um mea culpa no documentário "The Fog of War", de 2003, Rumsfeld nunca deu o braço a torcer e advertiu que abandonar o Iraque seria um erro terrível, mesmo que a guerra tenha sido travada com a falsa premissa de que Saddam Hussein, o ditador iraquiano, tinha armas de destruição em massa.
Em "Known and Unknown", suas memórias publicadas em 2011, Rumsfeld não expressou arrependimento pela decisão de invadir o Iraque, que custou aos EUA US$ 700 bilhões e 4,4 mil soldados, insistindo que a queda de Saddam justificou o esforço. "Livrar a região do regime brutal de Saddam Hussein criou um mundo mais estável e seguro", escreveu.
Rumsfeld trabalhou para quatro presidentes, migrando do Capitólio para o Escritório de Oportunidades Econômicas e para o posto de embaixador na Otan, no governo de Richard Nixon, depois como chefe de gabinete da Casa Branca de Gerald Ford. Antes de chegar ao Pentágono, ele foi enviado especial do presidente Ronald Reagan ao Oriente Médio e fez fortuna como executivo de empresas farmacêuticas, eletrônicas e de biotecnologia.
Como secretário de Defesa de Bush, Rumsfeld tinha planos de modernizar o antiquado aparato militar americano e a inchada burocracia do Pentágono, simplificando os sistemas de armas, desenvolvendo um escudo de defesa antimísseis e criando forças menores, mais móveis e letais, que pudessem se mover rapidamente ao redor do mundo.
Seus planos, porém, foram engavetados na manhã de 11 de setembro de 2001, quando terroristas lançaram jatos comerciais sequestrados nas torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e no Pentágono, matando quase 3 mil pessoas. Naquele dia, Rumsfeld estava no prédio e ajudou a carregar dezenas de feridos para as ambulâncias.
No dia seguinte, quando os americanos acordaram, Bush declarou guerra ao terrorismo e Rumsfeld tornou-se o executor dos planos estratégicos. Em outubro, forças americanas invadiram o Afeganistão para derrubar o regime do Taleban, que abrigava terroristas, incluindo Osama bin Laden, que planejou os ataques do 11 de Setembro.
Em retrospectiva, os especialistas militares dão a Rumsfeld notas altas por sua primeira passagem pelo Pentágono e por tentar modernizar as Forças Armadas em seu segundo mandato. Mas eles o responsabilizam pelos erros cometidos no Iraque, incluindo maus tratos de prisioneiros em Abu Ghraib.
Ontem, seus colegas de governo lamentaram sua morte. "Rumsfeld foi um servidor público notável e muito comprometido", disse a ex-secretária de Estado dos EUA Condoleezza Rice. "Ele também foi um bom amigo e uma presença constante durante as muitas provações do mundo pós-11 de Setembro. Sentirei falta dele como colega e amigo."
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