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Linn da Quebrada promove visibilidade Trans no BBB 22

Participação da artista tem promovido discussões político-sociais importantes sobre identidade

Alexandra Cavalcanti
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Cantora, atriz e travesti, como prefere ser identificada, Lina Pereira, conhecida pelo nome artístico de "Linn da Quebrada" está fazendo história no Big Brother Brasil (BBB 22). Isso porque apesar de não ser a primeira trans a participar do programa - antes dela, Ariadna Arantes, esteve na 11ª edição do reality, em 2011 -, Linn se identifica como travesti e faz questão de deixar isso claro.

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Durante a exibição do Big Brother Brasil 22, na noite de domingo, 23, a cantora Linn da Quebrada respondeu ao questionamento do apresentador Tadeu Schmidt e explicou a origem de sua tatuagem “Ela” acima da sobrancelha esquerda. “Não sou homem, nem sou mulher, sou travesti”, respondeu a sister. A participação dela no programa tem gerado debates sobre gênero e diversidade.

Sua presença tem gerado debates e desnudado preconceitos, por isso, está sendo visto por muitos como uma oportunidade de jogar luz às questões comumente deixadas de lado, como à presença dessas pessoas na cultura, na arte e no entretenimento, uma das discussões, inclusive, levantadas pelo Dia da Visibilidade Trans e Travesti, celebrado neste sábado (29).

A despeito de alguns percalços - como atos de transfobia praticados por outros participantes do programa que afirmam sentir dificuldade para se referir à artista apesar da palavra “ela” estar tatuada em sua testa - Linn diz ao que veio. E não fez por menos: já entrou na casa com uma camisa estampada com a imagem de Anastácia - uma das mais importantes figuras femininas da história negra, vista como santa e heroína em várias regiões do Brasil.

Em seu primeiro discurso no confinamento, deu outra prova de que está totalmente ciente da importância política e social de sua participação no reality. “Não sou homem nem mulher, sou travesti”.

Jornalista e presidente de uma das maiores organizações pelos direitos LBGTIs da América Latina, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos, (ABGLT) e jornalista, Symmy Larrat vê como positiva a chegada desse público em locais de grande visibilidade, como o que está acontecendo com Linn. “Quando programas levam pessoas e muitas vezes não precisa ser nem para falar sobre esse assunto, mas convidam essas pessoas que são artistas, economistas, professoras, enfim, para falar e isso chega até a casa da família brasileira, isso é muito importante, porque faz com que elas olhem e se identifiquem, porque na minha opinião, as armas mais pesadas contra o preconceito ainda são a convivência e a informação”, afirma.

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O evento alusivo ao Dia da Visibilidade Trans tem transmissão on line pela plataforma Sala Maniva.

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No BBB 22, Linn da Quebrada traz de volta a discussão sobre representatividade. Na noite de domingo, 23, ela explicou como quer ser chamada durante a transmissão ao vivo.

Especificamente sobre a participação de Linn da Quebrada no BBB e a visibilidade que essa presença está dando para trans e travestis, Symmy é taxativa. “Isso é fenomenal, porque coloca dentro de um programa que é o programa que pauta desde conversas de bar, de elevador até os assuntos das redes sociais, das hashtags, enfim, é o que mobiliza o país durante os primeiros meses do ano e isso repercute o ano inteiro. Então eu acho essa participação muito importante”, opina.

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A multiartista precisou explicar inúmeras vezes que é travesti.

Reafirmação

Para a jornalista, essa reafirmação ainda é necessária porque persiste em vários setores, como é o caso da cultura, das artes, onde trans e travestis ainda são invisibilizadas. “Há muita divulgação na mídia de performances de cultura promovida por pessoas LGBTQIA+. Mas quando a gente fala das artistas, mulheres trans, trans masculines, a gente pouco vê, com essa mesma força, com esse mesmo ímpeto. Talvez isso aconteça porque as pessoas ainda sentem incômodo ao ver o corpo de uma pessoa transgênera. Isso ainda incomoda”, avalia.

Para que artistas trans e travestis tenham mais visibilidade, Symmy afirma ser necessário a indústria da cultura brasileira começar a promover esse lugar. “É preciso chamar essas pessoas. A gente não quer trabalhar apenas nos bastidores, preparando, queremos aparecer com a nossa arte”, garante. “Por isso, se eu tivesse que pedir alguma coisa neste Dia da Visibilidade Trans e Travestis seria para que a gente não precisasse de um dia para ter visibilidade. A gente não quer ter um dia. A gente quer naturalizar as nossas relações, com respeito e humanidade”, completa.

Oportunidade é fundamental

Designer, costureira, modelo, maquiadora e cabeleireira, Isabella Pamplona é uma transativista paraense, que atualmente conta com quase 5 mil seguidores em seu perfil @bellaprajesus. Para ela, ainda falta oportunidade para trans mostrarem seus trabalhos e se mostrarem sob uma outra ótica, como vem ocorrendo com Linn no BBB.

“Precisamos de oportunidades reais e dignas, oportunidade de trabalho remunerado, oportunidades em editais de cultura, já que a grande maioria de nós vive da arte, não apenas pela preferência à arte, mas pela exclusão do mercado de trabalho formal. Precisamos oportunizá-las para que outras travestis se vejam e se sintam no direito de estar em outros lugares”, acredita.

Neste Dia da Visibilidade Trans e Travesti, Isabella reafirma seu desejo. “Gostaria que os órgãos responsáveis pela segurança tornassem mais sérias as denúncias de transfobia e crimes por esse ódio. Todo mês travestis são brutalmente assassinadas e precisamos estar vivas para agarrar as oportunidades, vivas e com dignidade”, diz.

Representatividade

image O artesão Sebastian Santos acredita que visibilidade precisa estar associada à representatividade. (Reprodução Instagram.)

Sebastian Santos é empreendedor artesão e homem trans. Para ele, a palavra visibilidade precisa estar associada à representatividade. Uma não pode existir sem a outra, especialmente quando o assunto é cultura.

“Acho que representatividade mesmo deve ser sentida quando nós estivermos ocupando todos os lugares, de forma igual como as outras pessoas, com as mesmas possibilidades, sendo respeitados pela sociedade, nas escolas, universidades, no mercado de trabalho formal e informal. Enquanto isso não acontecer é improvável me considerar completamente representado”, avalia.

Ser reconhecido e bem sucedido em sua área de trabalho, como é o caso dele, e ocupar um bom lugar social, ainda não são o suficiente para que uma outra pessoa trans se sinta representada. “Se ela não tiver as mesmas possibilidades, as necessidades são outras e são reais. Precisamos ver coletivamente que nossos sonhos também são possíveis, porque só representatividade não coloca comida na mesa. Não quero ser a exceção, quero ser a regra”, afirma.

Por isso, ao entrar em um programa com o alcance do BBB, Linn da Quebrada está fazendo história na televisão brasileira e “da melhor forma possível”. “Ela é a primeira travesti politizada a ocupar um reality nacional e isso é um marco na história do programa, e nas nossas também. Ela leva consigo nossa existência para dentro do programa e consegue debater de forma simples e didática sobre o respeito que precisamos”, acrescenta.

Neste dia de visibilidade, Sebastian deseja exatamente que essas pessoas deixem de ser invisíveis para a sociedade. “O meu maior desejo é ver meus semelhantes ocupando os lugares, com suas lojas, restaurantes, nas salas de aula, nos teatros e novelas. O meu maior desejo é ver a gente vivo e vivendo tudo de melhor que essa vida tem a oferecer”, conclui.

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