Da crise ao acesso: como o Remo virou ano caótico em sua maior campanha na Série B
Eliminações, três técnicos, a chegada bombástica de Marcos Braz e uma arrancada improvável explicam a campanha que mudou o destino azulino
A campanha que levou o Remo de volta à Série A depois de 32 anos não foi linear, tranquila ou previsível. Pelo contrário: começou sob desconfiança, passou por eliminações vexatórias, trocas de técnicos, pressão da torcida e momentos em que o acesso parecia impossível. No meio do caos, porém, surgiram decisões que mudaram o destino azulino — das chegadas de Daniel Paulista e depois Marcos Braz, da instabilidade com António Oliveira ao choque de realidade imposto por Guto Ferreira na reta final. Cada fase da temporada marcou uma virada, um recomeço e um novo desafio. A seguir, numa linha do tempo detalhada, estão os passos que construíram a campanha mais surpreendente do futebol paraense em décadas: dos erros do início à arrancada decisiva, até o dia histórico em que o Mangueirão explodiu e o Leão reencontrou seu lugar entre os grandes do País.
VEJA MAIS
Cronologia do acesso:
Fevereiro — O início turbulento
Eliminado pelo modesto São Raimundo-RR, nos pênaltis, dentro do Baenão, o Remo começou o ano sob forte pressão. Rodrigo Santana, que havia conquistado o acesso da Série C, estava suspenso, mas foi um dos principais alvos das críticas. A frustração cresceu semanas depois, com a queda para o Criciúma na primeira fase da Copa do Brasil, novamente em casa. Já eram duas eliminações seguidas, somadas a derrotas no Parazão, e a torcida perdia a confiança de que o time conseguiria sequer lutar pela permanência na Série B.
Abril — Fim da era Rodrigo Santana
A derrota para o Cametá no Parazão, somada às eliminações da Copa Verde e da Copa do Brasil, e a falta de evolução do time selaram o destino de Santana. Em abril, ele foi desligado, encerrando um ciclo que nunca teve consenso entre os torcedores.
Abril/Maio — A virada com Daniel Paulista
Daniel Paulista chegou cercado de desconfiança, mas rapidamente mudou a cara da equipe. Aproveitando a paralisação do Parazão e as eliminações que abriram espaço na agenda, o treinador conseguiu treinar intensamente o elenco e transformou o estilo de jogo do Remo: mais ousadia, postura agressiva e novos reforços. Era o primeiro sinal de que a campanha poderia tomar rumos inesperados.
Final de maio — Marcos Braz desembarca em Belém
O movimento que mudaria o patamar do clube começou nos bastidores. Marcos Braz chegou trazendo peso político, experiência de campeão Brasileiro e da Libertadores com o Flamengo e reforços de nível superior para a realidade do Remo. O elenco ganhou profundidade, técnica e competitividade, reforçando a convicção de que era possível mirar mais alto.
Início de junho — O baque da saída de Daniel
Justo quando o time encaixava, Daniel Paulista recebeu uma proposta do Sport, lanterna da Série A. Aceitou. A saída abalou o ambiente e reacendeu o temor de instabilidade. Mas a reação de Braz foi imediata.
Junho — A aposta em António Oliveira
Para substituir Daniel, Marcos Braz trouxe o português António Oliveira. O técnico manteve algumas virtudes da equipe, mas pecou nos jogos em casa: muitos empates, poucos resultados de afirmação e desgaste crescente com a torcida. A competitividade inicial se transformou em impaciência e a demissão veio após derrota para o Volta Redonda, após uma atuação pífia da equipe.
Setembro — A queda de António e a chegada de Guto Ferreira
Após perder para o Volta Redonda, Oliveira foi demitido. E começou então o capítulo decisivo da campanha. Guto Ferreira assumiu e, logo na estreia, aplicou 4 a 1 no CRB — primeira vez que o Remo marcava quatro gols num jogo da Série B. Era um sinal claro: o estilo mudaria novamente.
Setembro/Outubro — A arrancada
Com intensidade, pressão alta e uso dos reforços contratados por Braz, o Remo engatou seis vitórias seguidas: CRB, Operário, Athletico-PR, Paysandu, Athletic-MG e Cuiabá. Depois, vieram empates contra Chapecoense e Novorizontino, e a derrota para o Avaí, que devolveu a pressão e tirou o Leão do controle da própria sorte.
Novembro — Última rodada: depender de si virou depender dos outros
O Remo chegou ao duelo contra o Goiás precisando vencer e torcer para o Criciúma perder — ou para a Chape não vencer. O cenário parecia tenso demais para uma tarde só. E foi.
23 de novembro — A tarde que entrou para a história
O Goiás abriu o placar, o Mangueirão ficou apreensivo, mas Pedro Rocha empatou com um golaço antes do intervalo. No segundo tempo, João Pedro virou e ampliou, enquanto, quase ao mesmo tempo, o Cuiabá marcou contra o Criciúma. A combinação perfeita: vitória azulina e derrota catarinense.
Depois de 32 anos, o Remo voltou à Série A. A campanha que começou com eliminações vexatórias terminou em festa, gramado invadido e um acesso construído em capítulos dramáticos, decisões certeiras e personagens improváveis.
Palavras-chave