Como o Remo prepara jogadores de fora para 'sobreviver' ao clima da Amazônia
Chuvas, calor extremo e umidade exigem protocolos especiais e atrasam a adaptação de quem chega de fora
A pré-temporada do futebol paraense chega junto com um velho conhecido de quem vive na região: o inverno amazônico. Chuvas frequentes, umidade elevada e variações bruscas de temperatura impõem desafios físicos e fisiológicos aos atletas, cenário que tende a se intensificar em 2026, com a previsão de mais dias de calor extremo, efeito das mudanças climáticas. Na Amazônia, o clima não é um mero detalhe, ele desafia qualquer um que vem de fora, interferindo diretamente no rendimento dentro de campo. Quem não se prepara, acaba sucumbindo e pedindo pra sair.
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No Remo, que vai disputar a Série A após mais de 30 anos, a adaptação às condições climáticas faz parte do planejamento desde o início do trabalho, e agora mais do que nunca, pois o Campeonato Brasileiro começa em pouco mais de um mês. O fisiologista do clube azulino, Eric Nunes, explica que os impactos são desafiadores e variam conforme o período do ano, exigindo estratégias diferentes da equipe de profissionais.
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“No inverno amazônico, o transtorno maior é a condição do campo. O terreno de jogo sofre muito com a chuva, principalmente quando o gramado não tem um processo de drenagem adequado. Isso provoca uma sobrecarga maior no atleta, exige um conceito de força mais ampliado e acaba prejudicando tanto a performance física quanto a técnica”, afirma.
Já no calor intenso e período de chuvas reduzido, a preocupação é outra. “Quando a gente fala de calor, muda completamente de figura. Entra a questão fisiológica, que é o controle da temperatura corporal. Isso influencia muito no rendimento, porque pode provocar hipertermia, desidratação e fadiga. O organismo entra num processo natural de precaução, de se proteger, e o rendimento cai, em qualquer atleta”, explica Eric.
Embora quem nasce e cresce na região esteja mais habituado ao clima, a maior parte dos jogadores que chega ao futebol paraense vem de fora — e sente o impacto, sendo necessário um trabalho especial de adaptação. “A gente chama isso de aclimatação. Esse processo adaptativo aqui na região amazônica é muito grande. O atleta que chega até consegue performar nos três primeiros dias, mas depois começa a entrar em queda. O corpo sofre com a umidade muito alta, que provoca uma desidratação acentuada”, relata.
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Segundo o fisiologista remista, a adaptação completa não é rápida. “Não tem jeito, é um processo que leva tempo. Para o atleta estar realmente adaptado, isso envolve algo entre 30 e 40 dias, e ainda assim não é simples”, diz.
Para reduzir os riscos, o clube adota protocolos específicos. Um dos principais é o de hidratação, feito de forma individualizada. “Temos um protocolo comandado pela nutrição, que acompanha o atleta ao longo da semana, controlando a perda hídrica, repondo minerais e água. Aqui na região Norte isso é diferente, porque a perda é muito grande e a reidratação precisa ser interna, constante”, detalha.
Os horários de treino também são ajustados, tudo de acordo com o clima paraense. “A gente trabalha em horários distintos, dentro de faixas mais confortáveis para o rendimento. Em Belém, a gente conhece bem os picos de chuva e de calor, então tentamos controlar esse eixo ao máximo”, explica.
Além do desgaste físico, o inverno amazônico traz outro alerta: a saúde. “Nesse período aumenta muito a incidência de viroses. O atleta vive em carga alta, a janela imunológica fica aberta, e muitas vezes essas viroses afastam o jogador dos treinos. A gente tenta controlar isso com monitoramento e ajuste de carga”, completa Eric.
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