A matemática do futebol: conheça quem calcula o destino de Remo e Paysandu na Série B
Criado na UFMG, o projeto “Probabilidades no Futebol” faz milhões de simulações para medir as chances de acesso e rebaixamento e se tornou referência entre torcedores e analistas
Enquanto Remo e Paysandu vivem realidades opostas na Série B do Brasileirão, uma equipe de matemáticos da UFMG traduz em números o que cada rodada representa para os clubes paraenses. São milhões de simulações que apontam, com base no desempenho das equipes, as chances de acesso ou de rebaixamento, dados que se tornaram referência no noticiário esportivo e ajudam torcedores e analistas a entender o tamanho do desafio de cada time até o fim do campeonato.
O levantamento, que ficou conhecido nacionalmente como Projeto Probabilidades no Futebol, é desenvolvido pelo Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A equipe, formada por quatro professores e dois alunos de graduação, é responsável por projetar as probabilidades de classificação, título, rebaixamento e outras projeções dos clubes das Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro.
“Com os jogos realizados, estimamos os perfis de cada time, jogando como mandante e visitante, e esses perfis são projetados nos jogos não realizados por meio de milhões de simulações independentes”, explica o professor Gilcione Nonato Costa, titular do departamento e coordenador do projeto.
Segundo ele, a metodologia permite identificar o comportamento das equipes em diferentes contextos. “Depois, contamos o número de vezes que um dado time foi campeão, classificado ou rebaixado. Esse número, dividido pelo total de simulações, fornece as probabilidades finais”, detalha.
Diagnóstico, não previsão
Apesar de as projeções terem se tornado uma das fontes mais citadas pela imprensa esportiva, Gilcione faz questão de lembrar que os cálculos da UFMG não são uma previsão de futuro.
“Em geral, não devemos confundir diagnóstico com prognóstico. As probabilidades são um diagnóstico da situação, não uma previsão. Cerca de 60% das vezes, o resultado mais provável acontece. Mas o futebol é um esporte muito suscetível a fatores externos, erros de arbitragem, falhas de jogadores, lesões, que podem determinar um resultado inesperado, a famosa zebra”, explica o pesquisador.
O modelo considera o desempenho das equipes como mandante e visitante, levando em conta a força dos adversários, mas não há favoritismo inicial. “Por uma questão de impessoalidade, todos os times são tratados como iguais no começo do campeonato. São necessárias algumas rodadas para que o modelo module a força real de cada equipe”, afirma.
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Trabalho voluntário e referência nacional
O projeto é mantido de forma voluntária, como parte de um programa de extensão da UFMG. “Não temos patrocínio e já recusamos propostas de sites de apostas por uma questão ética”, revela Gilcione. Apesar disso, o trabalho ganhou reconhecimento e se tornou uma das principais referências de estatística aplicada ao futebol no Brasil.
O grupo também é constantemente procurado por jornalistas, técnicos e até apostadores interessados nos cálculos. “Eu mesmo já fui contactado por alguns treinadores perguntando sobre as pontuações necessárias para evitar o rebaixamento ou buscar o acesso”, contou.
Torcida que acompanha os números
Em Belém, os dados da UFMG se tornaram presença constante nas análises de desempenho de Remo e Paysandu ao longo da Série B, em especial nos textos do Núcleo de Esportes de O Liberal. As projeções ajudam a dimensionar o desafio de cada rodada e, em muitos casos, servem como combustível para a fé do torcedor.
O Remo, por exemplo, chegou a ter menos de 5% de chances de acesso antes da sequência de vitórias sob o comando de Guto Ferreira, mas já viu o número subir para 31% após a vitória no clássico Re-Pa. O Paysandu, em contrapartida, viu o percentual de permanência cair rodada após rodada, chegando a menos de 1% de chance de escapar do rebaixamento, segundo o levantamento mais recente.
*(Iury Costa, estagiário de jornalismo sob supervisão de Caio Maia, coordenador do Núcleo de Esportes)
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