Turismo feminino cresce no Pará e impulsiona experiências seguras e personalizadas para mulheres
Empreendedoras contam como suas ideias de negócio voltadas para as mulheres estão conquistando o Estado
O turismo voltado exclusivamente para mulheres tem ganhado força no Brasil e começa a se consolidar também no Pará. Em um cenário em que segurança, acolhimento e empoderamento se tornaram palavras-chave para o público feminino, projetos que promovem novas experiências e viagens seguras têm se destacado entre as mulheres paraenses.
Um refúgio para mulheres na amazônia paraense
Criado em 2022, um projeto surgiu com o propósito de oferecer momentos de relaxamento em meio à natureza, nas ilhas da região metropolitana de Belém. Inicialmente voltado para o público misto, os idealizadores perceberam rapidamente que a maior demanda vinha das mulheres. Eram elas que buscavam, organizavam e sugeriam os encontros. Foi então que, em fevereiro de 2024, a empreendedora Suany Rodrigues e seu sócio Felipe Marujos decidiram oficializar o reposicionamento da marca: tornaram-se a primeira agência de turismo de experiências voltada exclusivamente para mulheres no Pará.
“O nosso maior objetivo é fazer com que essas mulheres se conectem não só com a cultura da nossa região, mas entre elas também, criando um lugar seguro e acolhedor”, explica Suany.
O projeto funciona no formato bate-e-volta, com roteiros para a ilha das Onças, Combú e Cotijuba, oferecendo atividades como café da manhã, yoga, massagens e experiências de spa. Os pacotes variam entre R$ 180 e R$ 398, e todo o atendimento é personalizado com base em um formulário preenchido pelas participantes. Intolerâncias alimentares, restrições físicas e até o estado emocional de cada mulher são considerados na montagem da experiência.
(Arquivo pessoal / Felipe Marujos)
Suany conta que o projeto se tornou um espaço de fortalecimento feminino. “Muitas mulheres participam sozinhas. Umas porque são de fora do Estado e estão de passagem por Belém, outras porque não têm com quem sair. Algumas são mães que se dedicam apenas à família e não tiveram tempo de criar amizades. E ali, entre uma atividade e outra, elas se reconhecem, criam laços e voltam para casa transformadas”.
O sentimento de pertencimento e segurança é parte central da proposta. Cada participante é inserida em um grupo exclusivo, onde recebe todas as informações da atividade e interage com outras mulheres. Ao final de cada edição, muitas seguem conectadas e até passam a explorar outros eventos juntas, com incentivo da própria equipe do projeto.
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Da experiência pessoal ao negócio
Outro nome que tem contribuído para impulsionar o turismo feminino na região é o da jornalista Izabelle Aguiar, fundadora de uma agência de viagens voltada para mulheres. Criada em 2021, a agência nasceu do desejo de proporcionar segurança e suporte para mulheres que, como ela, decidiram desbravar o mundo sozinhas.
“A ideia surgiu da minha própria necessidade quando fiz minha primeira viagem sozinha, ao Chile. A insegurança é um sentimento real e comum entre mulheres que desejam viajar, por isso decidi criar uma agência com foco em oferecer experiências seguras”, relembra Izabelle.
A agência dela atua com roteiros personalizados, cuidando de cada etapa da viagem, desde passagens e hospedagens até passeios e dicas culturais. Com uma base de clientes crescente, a agência percebe que as mulheres têm se tornado cada vez mais independentes nas escolhas de lazer e consumo.
O perfil da mulher viajante
De acordo com Izabelle, a crescente presença das mulheres no mercado de trabalho e a maior concentração de renda em mãos femininas têm impulsionado esse nicho. “Muitas mulheres têm preferido investir em experiências pessoais, como viagens, em vez de priorizar relacionamentos ou casamento. É uma mudança de mentalidade da nossa geração”, observa.
Além disso, a agência identifica um movimento coletivo entre as viajantes: novas amizades surgem durante os roteiros, e muitas continuam viajando juntas após isso. "Novas amizades surgem e muitas outras viagens junto com essas novas amigas são planejadas", finaliza.
Ainda que o turismo feminino esteja em expansão, os desafios persistem. A ausência de incentivos financeiros e a estrutura limitada foram entraves iniciais tanto para Suany quanto para Izabelle.
Hoje, as idealizadores de ambos os projetos acreditam que o turismo voltado para mulheres tem potencial não apenas econômico, mas social e cultural. Ele permite que mais mulheres ocupem espaços de lazer com segurança, fortalece a autoestima, cria redes de apoio e movimenta a economia local.
Incentivo governamental
Com o objetivo de incentivar ainda mais o turismo feminino, o Ministério do Turismo, em colaboração com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), lançou uma campanha que concede 15% de desconto em hospedagens para mulheres que viajam sozinhas. A ação é válida até março de 2026 e tem como principal meta incentivar o turismo de mulheres que viajam sozinhas, oferecendo mais segurança, conforto e economia.
O desconto é aplicado diretamente nas centrais de reserva dos hotéis participantes, mediante declaração no momento da solicitação. A tarifa promocional é válida para acomodações na categoria “single”, inclusive durante feriados e grandes eventos, respeitando a disponibilidade dos estabelecimentos.
De acordo com o ministro do turismo, Celso Sabino, a iniciativa também busca movimentar o setor ao longo de todo o ano. “Essas ações fortalecem o turismo e ampliam as oportunidades para as mulheres que trabalham no segmento, além de encorajar aquelas que desejam viajar sozinhas a explorar o Brasil com condições especiais”, afirma.
Além disso, o Mtur tem adotado medidas para apoiar mulheres empreendedoras do setor. Por meio do Novo Fungetur (Fundo Geral de Turismo), foram criadas condições especiais de crédito para empresárias que se tornaram mães recentemente.
O benefício é voltado para empresárias individuais, microempreendedoras ou sócias de sociedades limitadas unipessoais constituídas até seis meses após o nascimento ou adoção de um filho. Entre as facilidades estão a possibilidade de suspensão de pagamentos por até seis meses em financiamentos já contratados e carência ampliada para novos empréstimos. As novas regras tornam o acesso ao crédito mais acessível, ajudando as mães a equilibrar os cuidados com os filhos e a gestão dos seus negócios na área.
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