VÍDEO: Ribeirinhos contam como as suspeitas de casos afetam a vida

O rio, que antes era fonte de renda, agora traz o peixe apenas para consumo

Ândria Almeida / O Liberal
fonte

A síndrome de Haff pegou de surpresa uma população que ainda convive com a pandemia de covid1-19. Além da saúde, a doença da urina preta afetou também a cultura de um povo. Afinal, o peixe, historicamente protagonista na gastronomia e no comércio de proteína anila, tem sido visto com desconfiança por algumas poucas espécies estarem associadas à toxina. A equipe do Grupo Liberal viajou até a comunidade de Igarapé Açu, que fica a 20 minutos de Santarém, no oeste do Pará, com acesso pelo rio, para falar com os ribeirinhos sobre os impactos causados pela baixa procura por peixes, já que a pesca é a principal fonte de renda de sua população.

Ao abrir a porta de madeira de sua casa, o pescador Genivaldo Ferreira, morador da comunidade há 15 anos, tem diante de si a imensidão do rio que antes dos casos suspeitos da doença da urina preta era apenas fonte de alimento diário e renda. Ele conta que vendia até 100 quilos de peixe em 4 horas. Hoje está pescando apenas para consumo próprio, pois o pescado está sendo rejeitado na cidade.

Gerações

O pescador lembra com nostalgia que começou na atividade ainda criança. O ofício foi repassado por gerações na família. Como alguém que conviveu com a pesca durante toda a vida, nunca presenciou tamanha crise. O ribeirinho encara o rio como se dele esperasse uma resposta.

image Genivaldo Ferreira olha para o rio e espera que ele dê uma resposta para a crise (Ândria Almeida / O Liberal)

"A malhadeira está aqui, mas não foi para a água porque não podemos mais vender o peixe. A gente consome peixe e não sente nada. Estamos sofrendo, pois, a única fonte de renda é a pesca. Minha única solução, em vez de estar no rio pescando, é ficar olhando para ele, de onde nós tiramos nosso sustento, só esperando que, ao olhar para o rio, ele me dê a solução. Me passa uma grande tristeza, tristeza aqui dentro do peito. Um rio desse lindo e a gente não pode pescar para o garantir o nosso sustento. O povo ribeirinho é sofredor, precisa ser olhado com mais carinho. Continuamos com a esperança de que aquele lá de cima, Deus, nos abençoe para que não dê nada de pior e possamos voltar a pescar para sobreviver", disse.

Sem saída

Esperança essa que para o pescador José Gilberto Pereira, está difícil de se concretizar. Ele relata que é pescador desde que "se entende por gente", mas que precisou parar com a atividade, pois o produto (peixe) ficou sem saída.

“Na primeira semana depois da notícia, eu ainda pesquei, mas depois não consegui mais vender nada. Tive que parar de pescar”, diz José, que não acredita que a doença exista. Assim como a maioria dos ribeirinhos que têm a pesca passada de pai para filho, ele enxerga a doença com certa desconfiança. “Comi peixe a vida toda e nunca senti nada, se é que essa doença existe, não deve ser do peixe, não acredito nisso. Hoje, o peixe só para o nosso consumo mesmo. Para a gente que mora no interior e se criou sobrevivendo do peixe, a gente acredita que não existe isso, não existe essa doença. O que acontece é que todo ano, nessa época, quando chega o verão, aparece a malária, sabemos que não é o caso. Mas o povo, não sei como, surgiu com a conversa dessa doença que atrapalhou todo mundo; os que pescam, os atravessadores, donos de restaurantes. Eu não acredito que essa doença exista", reforçou.

Para os ribeirinhos, o pescado vai além de uma fonte de nutrientes: ele representa vida, e teve esse significado reforçado por gerações, onde a paixão pela pesca é passada como herança de pai para filho.Na vida às margens do rio o peixe é a bênção  que os ribeirinhos pretendem continuar recebendo. “Espero que tudo isso passe logo e que Deus continue nos abençoando”, desejou o ribeirinho.

Sespa

A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) informou na terça-feira (28), que investigava o nono caso suspeito da síndrome de Haff no município de Santarém. Ainda de acordo com a nota, o número total de casos suspeitos no Estado é de 16.

Desses, dois são em Belém, 9 em Santarém, três em Juruti, um em Trairão, um Castanhal e um em Almeirim. Outro caso que havia sido notificado em Belém foi descartado pelo Laboratório Central do Estado (Lacen-PA) após amostra ter dado positivo para leptospirose.

Os exames sanguíneos e de urina dos casos suspeitos foram encaminhados, por meio do Lacen, para laboratório de referência e não há ainda previsão de resultado. Nenhum caso foi confirmado até o momento.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Economia
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM ECONOMIA

MAIS LIDAS EM ECONOMIA