Mineração, tecnologia, bioeconomia: saiba quais profissões no Pará devem ficar em alta para 2026
Com avanços em infraestrutura, bioeconomia, mineração legalizada e tecnologia, o mercado paraense deve consolidar a geração de empregos técnicos e digitais
O Pará entra em 2026 com perspectivas de expansão no mercado de trabalho, ancoradas por grandes obras públicas e privadas, fortalecimento da economia verde, digitalização acelerada e consolidação de setores tradicionais como mineração e agroindústria. De acordo com membros da Associação Brasileira de Recursos Humanos – Seccional Pará (ABRH-PA) ouvidos pelo Grupo Liberal, o estado deve se manter entre os líderes na criação de empregos técnicos e operacionais no país, com destaque para áreas ligadas à infraestrutura, tecnologia, sociobiodiversidade e mineração sustentável.
Economistas consultados reforçaram o otimismo com o mercado paraense em 2026, destacando o crescimento do PIB, a expansão industrial e a interiorização de oportunidades. Nélio Bordalo apontou que a alta nos setores agropecuário e industrial tem refletido na criação de empregos formais, enquanto Genardo Oliveira ressaltou a demanda crescente por profissionais qualificados em mineração, logística e bioeconomia. Ambos indicaram que a diversificação econômica e os investimentos em setores estratégicos devem fortalecer a geração de vagas técnicas e especializadas em todo o estado, promovendo desenvolvimento econômico mais equilibrado e sustentável.
Everson Costa, do Dieese/PA, também disse que o mercado de trabalho paraense deve manter ritmo positivo no ano que vem, com destaque para empregos formais e setores estratégicos como mineração, agronegócio, serviços e turismo. Ele observa que, apesar da informalidade ainda presente e de salários médios baixos, os investimentos previstos e a transição para uma economia digital e sustentável devem gerar oportunidades reais de emprego, exigindo, porém, qualificação técnica e adaptação às novas demandas do mercado.
Infraestrutura segue forte após COP 30
A realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em Belém neste ano deixou um legado que continua movimentando o mercado. Obras de mobilidade urbana, saneamento, energia renovável e centros de convenções seguem em execução ou expansão — e devem manter o ritmo de contratações em 2026.
“As obras de infraestrutura devem manter o ritmo acelerado de contratações, especialmente para funções como pedreiros, encarregados, técnicos e engenheiros civis”, afirma Anna Padinha, gerente de RH e diretora da ABRH-PA .
Segundo ela, 2025 já havia mostrado esse avanço, impulsionado pela ampliação dos corredores logísticos e pelo aumento do fluxo de cargas no estado.
A vice-presidente da entidade, Vanessa Mendes, reforça que a demanda agora se volta também para competências voltadas à sustentabilidade.
“A infraestrutura verde e a mobilidade sustentável serão prioridades, com maior procura por engenheiros civis especializados em sustentabilidade, técnicos em energias renováveis e gestores de projetos ESG”, destacou.
Mineração legalizada amplia vagas técnicas e ambientais
A mineração — um dos pilares econômicos do Pará — continuará relevante, mas com um perfil de contratação cada vez mais qualificado.
Padinha destaca que, em 2025, já houve aquecimento para operadores, técnicos de manutenção, profissionais de segurança e especialistas em meio ambiente.
“O setor está mais exigente em práticas de responsabilidade socioambiental, por isso cresce a busca por profissionais com visão integrada da atividade”, diz.
Para 2026, a projeção segue positiva. “A mineração legalizada deve ampliar vagas técnicas e de engenharia, com foco em segurança, automação e sustentabilidade”, observa Junior Lopes, presidente executivo da ABRH-PA.
Vanessa Mendes complementa que práticas de rastreabilidade e auditorias ambientais também ganham espaço:
“Profissões ligadas a licenciamento ambiental, auditoria de carbono e gestão de resíduos serão essenciais para atender às novas regulações do mercado global.”
Tecnologia e dados avançam com expansão da IA e modernização digital
Se 2025 marcou o avanço de data centers e da inteligência artificial no Pará, 2026 promete consolidar essa transformação.
“A procura por profissionais capazes de operar, integrar e dar suporte a sistemas automatizados só aumenta”, aponta Anna Padinha. Ela destaca o crescimento de funções como suporte técnico, análise de dados e desenvolvimento de soluções integradas.
Para Vanessa Mendes, essa evolução é inevitável diante da digitalização das cadeias produtivas e do monitoramento ambiental.
“Especialistas em inteligência artificial, big data, cibersegurança e computação em nuvem estarão entre os mais demandados. Profissionais como cientistas de dados, engenheiros de IA e analistas de georreferenciamento serão estratégicos para rastrear desmatamento e garantir compliance climático”, explicou.
Lopes reforça essa tendência: “Tecnologia, dados, automação e marketing digital serão áreas-chave no varejo e nos serviços, que estão passando por uma transformação acelerada.”
Bioeconomia cresce e abre novos mercados no interior
O setor da sociobiodiversidade, que já movimenta cerca de R$ 9 bilhões no Pará, segundo Vanessa Mendes, deve ganhar mais relevância regional.
“A bioeconomia está avançando com novos projetos produtivos e tecnológicos, aumentando a demanda por manejo florestal, gestão ambiental e pesquisa aplicada”, explica Anna Padinha.
Vanessa acrescenta que os investimentos previstos em 13 cadeias produtivas — incluindo açaí, castanha, borracha, mel e cupuaçu — podem gerar 6,6 mil novos empregos.
“Negócios de biotecnologia, reaproveitamento de resíduos e bioativos para cosméticos, alimentos e fármacos devem crescer fortemente, ampliando a oferta de vagas qualificadas”, destaca.
Junior Lopes segue a mesma linha: “Profissões verdes e ESG vão ganhar tração, especialmente por sermos a Amazônia. Técnicos, pesquisadores e gestores de cadeias produtivas serão cada vez mais valorizados.”
Varejo e serviços seguem impulsionados pela urbanização e consumo
O setor de serviços, que liderou admissões em 2025, deve continuar em crescimento em 2026 — especialmente nas regiões metropolitanas e polos do interior.
“Vendedores, atendentes, profissionais de logística, marketing digital e experiência do cliente estão entre as funções que mais cresceram e devem seguir aquecidas”, afirma Junior.
Vanessa Mendes lembra que, mesmo após a COP 30, turismo, gastronomia e hotelaria ganharam maior visibilidade. “O estado se consolidou como destino e polo de eventos, o que mantém ativa a demanda por serviços qualificados”, diz.
Competências híbridas serão decisivas
Os especialistas são unânimes: não basta ter domínio técnico. É preciso saber comunicar, resolver problemas e adaptar-se rapidamente.
“O mercado está valorizando habilidades digitais e capacidade de adaptação”, afirma Anna.
Vanessa completa: “Hoje, 43% das vagas já exigem competências socioemocionais. Comunicação, pensamento crítico e inteligência emocional são diferenciais decisivos.”
Para Junior, essa tendência reforça o novo perfil profissional do Pará:
“Estamos entrando numa fase em que o valor está na combinação entre técnica, digital e visão sustentável. Quem se qualificar nesse tripé terá as melhores oportunidades em 2026.”
Especialização na construção civil é tendência para 2026, indica Acomac
A construção civil no Pará, além de ser um dos motores do crescimento do estado, também apresenta demandas específicas de qualificação, especialmente no que tange à especialização em áreas técnicas e práticas sustentáveis.
Herivelto Bastos, presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção do Estado do Pará (Acomac-PA), observa que a necessidade de especialização tem sido crescente, principalmente com o surgimento de novas tecnologias e materiais.
“Na construção civil, há uma grande demanda por profissionais especializados em cada segmento, dado o surgimento constante de novas tecnologias e produtos no setor”, destaca Bastos.
Ele também observa uma lacuna significativa no mercado quando se trata da formação técnica voltada à gestão de obras e práticas de sustentabilidade.
“Os cursos técnicos não preparam os alunos para serem gestores, mas sim técnicos, o que dificulta a aplicação de práticas como eficiência energética e gestão de resíduos na construção”, afirma.
Bastos ainda menciona que iniciativas estaduais e nacionais, como o programa “Sua Casa” e a “Reforma Casa Brasil”, têm impulsionado o consumo de materiais de construção e fortalecido o varejo na região.
“Esses programas aumentaram bastante a demanda por materiais de construção, especialmente em Belém, Marabá e Parauapebas, o que tem pressionado o setor a investir em qualificação e especialização”, explica.
Economistas destacam crescimento do PIB e novas oportunidades de emprego
O Pará fecha 2025 com indicadores econômicos robustos, projetando um cenário favorável para profissionais técnicos e especializados em 2026.
Segundo Nélio Bordalo, economista e membro do Corecon/PA-AP (Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá), “o PIB do Pará cresceu 5,36% no primeiro trimestre de 2025, impulsionado por ganhos de 12,3% no setor agropecuário e 22,7% na indústria”. No segundo trimestre, o valor adicionado estadual atingiu R$ 72,2 bilhões, com alta de 5,72% em relação ao mesmo período de 2024.
Para o economista, esses números refletem diretamente no mercado de trabalho: “Entre janeiro e outubro de 2025, o estado registrou saldo positivo de 49.043 novos empregos formais, com destaque para serviços, comércio, indústria e construção civil. A projeção do Senai indica que o Pará precisará qualificar aproximadamente 286 mil profissionais até 2027, entre novos trabalhadores e requalificação dos já atuantes”.
Genardo Oliveira, economista, reforça: “O crescimento industrial, especialmente em mineração, transformação mineral e alimentos, aumenta a demanda por engenheiros, técnicos em mineração, operadores de máquinas e profissionais de logística. O dinamismo econômico do estado está criando oportunidades concretas em diversas áreas.”
Interiorização do desenvolvimento
O fortalecimento da bioeconomia também é destaque na projeção de empregos.
“A diversificação econômica, com expansão da bioeconomia e do varejo, tende a criar uma base de empregos mais ampla e resiliente. A consolidação do setor pode gerar ocupação fora dos polos mineradores tradicionais, impulsionando regiões como Santarém e Barcarena”, observa Bordalo.
Oliveira destaca que “em 2021, a bioeconomia movimentou R$ 13,5 bilhões no Pará e tem grande potencial de crescimento, com cadeias em fitoterápicos, cosméticos naturais, alimentos funcionais e manejo florestal sustentável. Além de aumentar a formalização de atividades antes informais, esse setor eleva salários médios e valoriza saberes tradicionais em regiões que atraem investimentos em logística e biotecnologia."
Mercado de trabalho paraense deve manter ritmo positivo em 2026, segundo Dieese
O mercado de trabalho no Pará deve seguir em expansão no ano que vem, com destaque para a geração de empregos com carteira assinada.
“O Pará tem hoje quase 4 milhões de trabalhadores no mercado de trabalho, um crescimento de cerca de 3% em relação a 2024. Pode parecer pouco, mas foi impulsionado justamente pela geração de empregos formais”, ressaltou Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Costa ressalta que o estado se consolida como um dos líderes na geração de empregos no Brasil: “Hoje, o Pará é um dos estados que mais gera empregos no país. Apesar da informalidade ainda significativa, a economia segue criando oportunidades com impacto real na renda.”
Investimentos estratégicos e setores em expansão
A expectativa para 2026 é de continuidade no aquecimento do mercado, impulsionada por investimentos em mineração, agronegócio e indústria.
“A Fiepa projeta R$ 50 bilhões em infraestrutura, logística e serviços, e a Faepa coloca o Pará entre os 10 estados que mais exportam no agronegócio nacional. Na mineração, cidades como Canaã dos Carajás, Parauapebas e Marabá devem receber bilhões em investimentos”, explica Costa.
O supervisor técnico do Dieese/PA também aponta a importância do turismo e do setor de serviços:
“As atividades turísticas estão fortalecendo o estado, seja no turismo ambiental, religioso ou de negócios. Além disso, o futebol paraense entrando na Série A atrai milhares de visitantes, gerando investimentos e eventos. Esses setores devem seguir crescendo em 2026.”
Desafios salariais e transição para empregos sustentáveis
Apesar do crescimento, a realidade salarial ainda preocupa.
“O Pará é a 10ª maior economia brasileira, mas ocupa a 17ª posição em renda per capita. O rendimento médio do paraense gira em torno de R$ 2.000 a R$ 2.200, e cerca de 2 milhões de pessoas ganham até um salário mínimo por mês”, destacou Costa.
Ele enfatiza que a transição energética, digital e ecológica traz oportunidades de emprego verde e sustentável.
“O financiamento climático é fundamental para gerar empregos economicamente viáveis e sustentáveis. Precisamos internalizar os resultados dessa nova economia, mas ainda enfrentamos desafios estruturais como informalidade, baixo nível de instrução e falta de qualificação”, disse.
Saldo de emprego formal no Pará por setores econômicos em 2025 (janeiro a setembro)
Setor econômico | Saldo
- Serviços | 24.519
- Comércio | 11.353
- Indústria | 9.671
- Construção | 5.040
- Não identificado | 14
- Agropecuária | -1.554
Fonte: Ministério do Trabalho/CAGED
Análise e Elaboração: Dieese/PA
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