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Variação no preço do açaí entre os bairros pode superar 100%

Entressafra do fruto e custos dos pontos comerciais são apontados como maiores influencias pela elevação do produto

Fabrício Queiroz

Um dos principais produtos da base alimentar dos paraenses é também um dos que têm maior variação de preços no mercado local. O açaí costuma ser consumido nas refeições por públicos das diferentes classes sociais e devido a grande demanda não é difícil encontrar pontos de vendas nos diversos bairros de Belém. Apesar dos preços seguirem uma certa tendência de acordo com os períodos de safra e entressafra, é possível verificar uma grande disparidade no valor da bebida, que em alguns casos pode superar os 100% dependendo do bairro.

As distorções são evidentes principalmente na comparação entre os bairros nobres e os periféricos. Na feira da 25, no bairro do Marco, o litro do açaí pode ser adquirido com preços que variam de R$ 20 a R$ 22. Do outro lado da cidade, no bairro da Condor, o açaí chega a custar menos da metade, sendo vendido por até R$ 10 em alguns estabelecimentos, o que significa uma variação de 120%.

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Mas a precificação distinta é notada ainda em distâncias menores. Na avenida Roberto Camelier, que se estende por cerca de 2,2 km cortando os bairros de Batista Campos, Jurunas e Condor, por exemplo, há valores díspares mesmo em perímetros próximos. Em alguns pontos os preços praticados giram em torno de R$ 16, porém, à medida que aumenta a concorrência, as placas exibem valores de R$ 10, R$ 12 ou R$ 14 a poucos metros de distância.

A consultora financeira Alice Martins, 25 anos, integra o grupo de pessoas que não dispensa consumir açaí diariamente, mas esse hábito tem custado caro e as diferenças por onde ela costuma transitar estão cada vez mais evidentes. “A divergência de preço e qualidade entre os bairros é bem agressiva. Um exemplo é o valor cobrado no bairro da Pedreira, onde existe um padrão a partir de R$16 quando a fruta está dentro da safra, enquanto no Jurunas o valor é a partir de R$8, ou seja, conforme muda as condições de bairro o valor sofre alterações significativas acompanhando o padrão de vida”, comenta ela, que diz que tem optado por diminuir a quantidade do consumo diário para não deixar alimento fora do cardápio.

No mesmo sentido, um levantamento realizado em dezembro pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA) atestou a percepção do público. Segundo a pesquisa, o litro do açaí do tipo médio foi encontrado com preços de R$ 12 a R$ 16 nas feiras livres; enquanto nos supermercados da cidade girava em torno de R$ 20. Apesar disso, a inflação sobre o produto ao longo do ano passado foi calculada em 3,38% entre janeiro e dezembro.

De acordo com Leoclides Andrade, que já atua no segmento a cerca de 27 anos com uma loja no bairro do Marco, diante da inflação é cada vez mais a compra de menor quantidade por cliente, bem como os pedidos para complementar a polpa com água. “O cliente reclama porque o açaí ficou mais, mas ainda é o alimento número um no Norte do Brasil. Aquelas pessoas que querem tomar açaí todo dia muitas vezes vem comprar meio litro e pedem uma água. Então, a gente prepara uma 'água bem grossa', aí a pessoa mistura e faz um litro pra satisfazer a vontade”, conta.

Vendedores dizem que valor alto do fruto influencia no preço

Para quem atua no ramo como batedor artesanal de açaí é preciso entender os diversos custos que influenciam a definição do preço cobrado ao consumidor. Entre eles estariam o encarecimento do fruto no período da entressafra que se estende até o próximo semestre. Os custos de manutenção dos pontos, como energia elétrica, água, empregados e aluguel são também mencionados por empreendedores.

image Leoclides Andrade diz que valor do fruto na entressafra contribuiu para o encarecimento (Thiago Gomes / O Liberal)

Leoclides Andrade diz que atualmente a lata do fruto – medida que equivale a cerca de 14 kg – custa R$ 100, impactando de forma decisiva na precificação. “A oferta do açaí está pequena devido a entressafra. Todas as feiras de Belém estão vendendo o produto mais caro, então a gente vai aumentando o preço gradativamente para não fechar as portas porque não é possível segurar o preço”, conta o vendedor, que destaca ainda que os custos se elevaram também devido às exigência para manipulação do fruto e extração da polpa segundo as normas sanitárias.

Da mesma forma, Heron Amaral enumera quais fatores têm sido levados em consideração na definição dos preços. “Quem faz as boas práticas tem uma série de exigências, até o papel e pano de uso tem que ser apropriado. E agora estamos na entressafra, ou seja, nós temos uma oferta a menos de fruto e por conta disso os preços disparam. Hoje, uma lata de açaí está custando em média R$ 100. Os chamados açaí da ilha tem preço ainda mais elevado, custando de R$ 230 a R$ 250 a lata”, pontua o empresário que mantém um box no mercado da Pedreira.

Para ele, que tem experiência de 29 anos no ramo, a disparidade é evidente, no entanto, ele chama atenção para o fato de que aspectos como a densidade da polpa, que determina se o produto será do tipo popular, médio ou grosso, também deve ser analisada. “A questão da localização e dos clientes influencia também, mas o principal é transmitir para o seu cliente a qualidade que você tem. Assim, as pessoas vão ver a textura do açaí e tudo isso implica na questão do preço”, acrescenta Heron.

image O vendedor Heron Amaral diz que qualidade também influencia nos preços cobrados pelo açaí (Thiago Gomes / O Liberal)

Em bairros periféricos, outro fator adicionado à conta é a concorrência. Augusto Cezar, mais conhecido como Buiu, tem duas lojas de venda de açaí na região, sendo que uma funciona em sua casa e outra em um ponto comercial, onde o valor do aluguel implica em custo mais elevado. No local alugado, atualmente o litro é vendido a R$ 14, enquanto na casa dele o valor é de R$ 12.

“Dentro do bairro do Jurunas, da Condor, da Cremação e outros não tem como vender muito mais alto que isso devido a renda das pessoas. É complicado porque são vários pontos de açaí, só aqui perto tem de 10 a 15 máquinas, então não tem como elevar muito porque o concorrente coloca um preço mais baixo”, diz o batedor artesanal, que afirma que apesar do valor inferior preza pela qualidade assim como os vendedores de outros bairros.

Confira o valor médio do açaí em alguns bairros de Belém

  • Marco – R$ 20 a R$ 22 (tipo médio)
  • Pedreira – R$ 20 (tipo médio)
  • Nazaré – R$ 16 a R$ 20 (tipo médio) / R$ 25 a R$ 35 (tipo grosso)
  • Jurunas – R$ 10 a R$ 14 (tipo popular)
  • Condor – R$ 10 a R$ 14 (tipo popular)
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