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Açaí na entressafra, com pouca oferta e preço alto, na faixa de R$ 25,00, e agora?

Confira dicas sobre como consumir e a trajetória do produto em 2021/2022

Eduardo Rocha
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A filha de 7 anos de idade da assistente contábil Edelyze Ferreira, no Distrito de Icoaraci, em Belém, costuma consumir uma porção de açaí no almoço e outra no jantar. No entanto, o produto está na entressafra e, então, o preço dispara -- já está na faixa dos R$ 25,00 -- e o fruto escasseia para venda, o que complica a vida do consumidor, como dona Edelyze. "Os preços já estão aumentando; até o mês passado, o litro do açaí médio custava R$ 20,00 e agora custa R$ 25,00; o do grosso era R$ 25,00 e custa agora R$ 30,00, e o popular era vendido a R$ 13,00 e agora custa R$ 16,00"; na entressafra, eu vou atrás do preço mais em conta e da qualidade, mas não deixo de comprar", destaca a consumidora, observando que os valores não são fixos na venda desse artigo típico do paraense.

Segundo levantamento feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), ao longo de 2022 o preço do açaí tipo médio e grosso vendido em Belém cresceu -- somente em dezembro,o aumento de mais de 15% em dezembro último -- e "de acordo com as novas pesquisas do DIEESE/PA, a tendência para este mês de janeiro de 2023 é de novas altas no preço do produto".

O Dieese/PA aponta, a partir de pesquisas semanais em feiras livres, supermercados da capital paraense e outros pontos de vendas na cidade, que a trajetória de preço do litro de açaí de janeiro a dezembro de 2022 não foi uniforme. Ela se apresentou assim: o açaí do tipo médio (o mais consumido), por exemplo, em dez/2021 foi comercializado em média a R$ 18,65; iniciou o ano passado (jan/2022) sendo comercializado em média a R$ 22,04; em nov/2022 foi comercializado em média a R$ 16,65 e fechou o ano passado (dez/2022) sendo comercializado em média a R$ 19,28.

"Com isso, o preço do litro de açaí do tipo médio comercializado na Grande Belém ficou quase 16,00% mais caro no mês passado (dez/2022) em relação ao mês de nov/2022; ainda de acordo com as análises do Dieese, este tipo de açaí encerrou o ano passado (jan-dez/2022) com alta acumulada de 3,38%", comunica o Departamento.

Diferenciados

Como verifica o DieesePA, os preços do litro de açaí são diferenciados em função dos vários locais de vendas; portanto, existem diferenças de preços entre as várias feiras e pontos de vendas espalhados pela cidade, bem como entre os supermercados que comercializam o produto. Na última semana de dezembro de 2022, o litro do açaí do médio foi encontrado pelo Dieese/PA com os seguintes preços: nas feiras livres os preços do litro do produto variaram entre R$ 12,00 a R$ 16,00; já nos supermercados, o preço encontrado girou em torno de R$ 20,00.  

O açaí do tipo Grosso também encerrou o ano mais caro e apresentou a seguinte trajetória de preços nos últimos 12 meses: Em dez/2021 o preço médio do litro deste produto foi comercializado na Grande Belém a R$ 28,60. Iniciou o ano passado (jan/2022) sendo comercializado em média a R$ 31,29; em nov/2022 foi comercializado em média a R$ 24,73 e no mês passado (dez/2022) foi comercializado em média a R$ 29,27 (tabela 1). Oo preço médio do litro de açaí do tipo grosso apresentou alta no mês passado (dez/2022) de 18,36% em relação ao mês de nov/2022. No balanço comparativo de preços do ano passado (jan-dez/2022), o produto também ficou mais caro e apresentou alta acumulada 2,34%.

O preço do litro do açaí do tipo Grosso foi encontrado na última semana do mês passado (dez/2022) nas feiras Livres e supermercados com preços que girando em torno de R$ 28,00. 

Em alta

O economista Nélio Bordalo, ex-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-PA AP), observa que "o Pará está entrando no período entressafra do açaí de janeiro a junho, reduzindo a produção do fruto nos municípios do Estado, que tradicionalmente fornecem para batedores e industrias; a safra inicia em julho e se estende até dezembro, nesse período a produção aumenta e o preço para oconsumidor final, reduz; é na entressafra que o retorno financeiro ao produtor rural é maior, especialmente para aqueles que já utilizam a irrigação nos plantios de terra firme".

Bordalo destaca que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária   (Embrapa Amazônia Oriental) vem desenvolvendo pesquisas com o melhoramento genético e práticas de irrigação e adubação de açaizeiro de terra firme para produção na entressafra, o que irá impactar a comercialização em futuro próximo. "O perido de entressafra reduz em até 70% produção do açaí e faz subir o preço do produto nos pontos de venda, pois os batedores que compram o fruto na feira do açai, pagam mais  caro e repassam esse aumento de preços aos seus clientes", assinala o economista.

O Pará responde por cerca de 90% da produção estadual, contudo a grande demanda de outros estados é até de outros países gera uma demanda insatisfeita nesta época a do ano dado a falta do produto; isso ocorre porque cerca de 80% da produção é oriunda de plantios nativos via extrativismo; hoje, o plantio em terra firme com uso de irrigação, sementes selecionadas, espaçamento adequado vem reduzindo este déficit, já que com uso da irrigação se consegue produzir açaí o ano todo, como ressalta Geraldo Tavares, gerente de e Fruticultura da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap).

Geraldo pontua que o Governo do Estado vem desenvolvendo ações para reduzir essa diferença de produção, o que somente é possível a longo prazo. Hoje, por exemplo, se tem a prática do manejo adequado do açaí, que treina o extrativista a não depredar a mata e torná-la produtiva não só o açaizal mas também outras plantas - esse é um curso feito pela Embrapa e Emater-PA, com recursos do Governo do Estado. Para 2023, mais de mil produtores deverão ser capacitados em 26 municípios.

Por 6 anos, o Governo Estadual financiou o desenvolvimento de cultivar açaí com alta produtividade e rendimento, o BRS Pai d'Égua,  encontrado hoje na praça para venda, e há cessão de equipamentos para cooperativas 

Alerta com fraudes 

Geraldo Tavares orienta os consumidores a ficarem atentos a frauds na venda do açaí na entressafra. "Existe mistura de produtos, como goma, farinha até outros produtos ilegais para dar robustez do açaí, deixá-lo mais grosso; essa práticas são ilegais e, quando constatadas, devem ser denunciadas para a Vigilância Sanitária Municipal; o consumidor deve procurar pontos de venda com equipamentos, como tanque de branqueamento e selo de qualidade da Prefeitura", enfatiza o gerente da Sedap.

image Consumo de açaí requer cuidados na entressafra (Foto: Carmen Helena / O Liberal)

Várzeas

Com 20 anos no ramo do produto, o engenheiro agrônomo Lael Almeida Júnior, 55 anos, atua em um ponto de venda no bairro do Marco. Lael destaca que na entressafra, as chuvas fazem com que o açaí de várzea baixa (Marajó e Região das Ilhas) fica alagado, e, então, os vendedores trabalham somente com o fruto de várzea alta e de terra firme (na frente de Belém e região de Cametá, Baião, Mocajuba). "Em fevereiro e março, as chuvas se intensificam mais, o açaí fica molhado, então não tem como estar tirando o açaí molhado porque ele apodrece rapidamente", diz. Nessas condições, o produto azeda. Tem que se esperar por alguns dias de sol para poder secar e fazer a retirada do fruto.

No verão, como ressalta Lael Almeida, 80% da produção são oferecidos ao mercado, e, no inverno, 20% somente. "Oitenta por cento some e o preço aumenta; no verão, em média, se tem R$ 60, 00, R$ 70,00 em um paneiro de 14 quilos, e, no inverno, esse paneiro vai para R$ 110,00, R$ 120,00", exclama o vendedor. Lael pontua que no verão o litro do açaí custa R$ 14,00 e, na entressafra, sobe para até R$ 25,00. 

  Confira dicas e aspectos para adquirir o açaí na entressafra:

- Someente adquira o produto em pontos com selo de qualidade e 
  que utilizam equipamentos como tranque de branqueamento contra 
  proliferação da Doença de Chagas

- Pesquise preços e priorize a qualidade 

- Entressafra do açaí no Pará vai de de janeiro até junho

- Chuvas deixam açaí molhado e sem poder ser batido para 
  venda e consumo 
 
- Apenas 20% da produção são ofertados ao consumo no inverno

- Governo do Estado e Embrapa pesquisam alternativas para equalizar
  produção no verão e no inverno

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