Setor agrícola deve bater recorde de produção no Pará em 2022

Nova safra deve gerar faturamento de quase R$ 27 bilhões ao Estado, com destaque para soja

Elisa Vaz
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A produção agrícola paraense deve bater recorde neste ano, de acordo com as projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a safra 2021/2022, que se encerra entre julho e agosto deste ano. Os dados apontam que a produção deve ficar em torno de 3,57 milhões de toneladas, uma alta de 0,9% em relação à safra anterior, 2020/2021, fechada em 3,53 milhões de toneladas. A área a ser colhida também deve ter crescimento no Estado, passando de 1,18 milhão de hectares para 1,2 milhão de hectares, uma alta de 2,1% entre uma safra e outra. Porém, com a invasão da Ucrânia por tropas russas, um dos principais itens importados da Rússia e da Belarus (parceira da Rússia na guerra) vai deixar de chegar ao Brasil. E os efeitos nos preços já podem ser notados, segundo o setor agrícola.

Se comparados com a produção de uma década atrás, que foi de 1,17 milhão na safra de 2011/2012, os números do Pará mais que dobraram – a alta foi de 204,5% no período. O Ministério utiliza como base informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que incluem, em todo o País, as produções de algodão, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio, cevada, feijão, gergelim, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trigo e triticale.

Quais os principais produtos a ser colhidos no Brasil e no Pará?

Os principais produtos a serem colhidos no país são o arroz, milho e soja. Somadas, essas culturas representam 93% da estimativa da produção e respondem por 87% da área a ser colhida, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A projeção da Conab estima que a produção total chegue a 268,2 milhões de toneladas neste ano no Brasil, 5% acima da obtida em 2021, de 255,4 milhões. Além da produção, também deve haver aumento na área a ser colhida – pelo levantamento, serão 72,2 milhões de hectares.

No caso do Pará, as culturas que devem se destacar em produção na safra 2021/2022 são a soja, com 753,9 mil toneladas; o milho, com 360,7 mil toneladas; e o arroz, somando 43,5 mil toneladas. Já em valor bruto da produção, ou seja, o faturamento, o destaque deve ser da soja (R$ 6,72 bilhões), seguida do cacau (R$ 2 bi), mandioca (R$ 1,72 bilhão), milho (R$ 1,54 bi) e a banana (R$ 1,02 bi), entre outros produtos. Segundo o coordenador-geral de planos e cenários, José Garcia Gasques, a forma mais correta para avaliar uma cultura é pelo faturamento que ela gera ao Estado, e não pela produção em si.

Qual a posição do Pará na região Norte?

O Norte deve apresentar crescimento no setor agrícola, como aponta o Ministério da Agricultura. Neste ano, a produção deve fechar em torno de 12,6 milhões de toneladas, contra as 12,2 milhões da safra anterior, uma alta de 3,42%. O Pará fica em segundo lugar entre os Estados da região com a maior produção, atrás apenas do Tocantins, que deve fechar este ano com 5,99 milhões de toneladas produzidas. Depois deles, ainda se destaca Rondônia, que pode chegar a uma produção de 2,52 milhões de toneladas.

“Norte terá aumento - Tocantins, Pará e Rondônia são os Estados mais fortes e eles estão crescendo. A cada vez que a Conab faz um levantamento, esses Estados do Norte ficam mais relevantes, principalmente com o avanço da soja. Isso em relação à produção. Dentro do ranking de valor da produção dos Estados em 2022, ou seja, uma projeção do faturamento deste ano, o Pará aparece em 10º lugar, que é uma posição boa. Fica acima de Estados do Nordeste, com destaque bem forte, faturamento previsto de R$ 26,8 bilhões, sendo R$ 13,72 das lavouras e R$ 13,09 da pecuária. Em todo o Brasil é esperada uma arrecadação de R$ 1,2 trilhão – os destaques de valor são Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais”, afirma José Garcia Gasques.

Tendência de crescimento

Ainda de acordo com o Ministério da Agricultura, que trabalha com projeções a longo prazo, as regiões que mais têm crescido e que, nos próximos dez anos, mais vão crescer são Centro-Oeste e Norte. “A produção de Estados como Pará, Tocantins e Rondônia ainda deve se expandir, tanto na questão de área como na força de produtividade. Significa que os números estão crescendo com o aumento da produção por área. O produtor está aproveitando mais o espaço da terra e usando mais tecnologia. No Pará, o que mais incentiva o aumento da produção este ano são os preços, que estão bons, e outro fator é o ambiente favorável para agricultura. Soja, cacau, milho, todos esses produtos têm chance de crescer bastante, tanto em produção como em valor de faturamento”, adianta.

Representante da  Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), o zootecnista Guilherme Minssen garante que, até 2030, o setor da agricultura só vai crescer no Estado. Um dos motivos para que isso ocorra são as condições climáticas: não há baixas temperaturas e existe luminosidade no Estado durante o ano inteiro. Além disso, a Federação aponta que o Pará é hoje o Estado que detém o melhor manancial de água doce, tanto de rios como de lagos.

“Todas as condições são boas para nós produzirmos, e com qualidade. Temos hoje um desempenho muito bom na agricultura, estamos melhorando a logística do Estado, temos portos e polos importantes no sul do Pará, na região de Paragominas, nordeste paraense e também no baixo Amazonas, principalmente na região de Santarém. São três polos espetaculares para produção de alimento na forma de grãos do Pará”, comenta Guilherme.

Segundo o especialista, os três grãos mais produzidos no Pará são a soja, pela questão do volume e, principalmente, do preço que ela adquire no mercado externo; o milho, que é considerado uma “safrinha”, ou seja, é um produto da área onde já foi colhida a soja e entra a safra do milho, ocupando muito da adubação dessa terra, do manejo, do maquinário; e também o arroz. Para que esses cultivos cresçam, Guilherme destaca que não é preciso desmatar, pois o Pará já tem áreas degradadas, utilizadas para pecuária, que precisam ter os solos recuperados por meio da agricultura. Com essas áreas disponíveis para recuperação, é um “prato cheio” para a agricultura crescer em áreas produtivas, terras planas, com boa altitude e com fornecimento de água para irrigação.

Guerra pode deixar produção mais cara

Mesmo com perspectivas positivas para o setor agrícola em 2022 no Brasil, muito ainda pode mudar por conta da recentemente intensificada situação de conflito no continente europeu. Rússia invadiu a Ucrânia no dia 24 de fevereiro, e a guerra pode afetar não apenas os países próximos, mas também de outros continentes, como é o caso do Brasil.

Por conta das relações comerciais do País com a Rússia e a Ucrânia, os problemas causados pelo conflito já têm sido notados. Na última terça-feira (1º), o Brasil foi avisado de que não conseguirá mais comprar fertilizantes de Belarus, país que é responsável por mais de 20% de todo o produto utilizado pelo agronegócio brasileiro. Na sexta-feira (4), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, determinou que empresas fabricantes de fertilizantes não exportem mais o produto. Os anúncios acendem um alerta para o agronegócio paraense, que mantém relações comerciais constantes no ramo de fertilizantes não só de Belarus, mas também com a Rússia e a Ucrânia. Só após o início do atrito já foi possível observar uma alta de preços no setor.

“A guerra envolve todo o planeta. Ninguém está isento do que vai acontecer e principalmente dos efeitos de uma guerra tão nociva como essa. Nós temos eles como participantes do nosso agronegócio, são fornecedores de importantes produtos. Ninguém faz agricultura sem NPK [fertilizante], sem nitrogênio, fósforo e potássio, e eles são também grandes fornecedores para nós. 2021 já foi um ano com bastante carência de insumos, mesmo antes da guerra, foi muito difícil para o produtor rural, chegava com preço muito alto, e agora deve piorar ainda mais essa situação”, comenta.

O coordenador-geral de planos e cenários do Mapa, José Garcia Gasques, concorda. Na avaliação dele, o maior impacto local será nos preços, que já está sendo sentido. O produtor rural gastará mais com fertilizantes e, como precisará vender seu produto a um valor mais alto, os consumidores também serão afetados ao comprar a cesta básica. “Os grãos devem ficar mais caros. No cenário mundial, a produção deve ser impactada, especialmente de milho e trigo, que são produzidos pela Ucrânia e ela não terá como plantar agora. Mas, a nossa tendência é que a produção até cresça, para suprir esse mercado internacional”, enfatiza José.

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