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Salinas pode sofrer com a falta de veranistas

Medo da pandemia de covid-19 deve afastar os turistas das praias do município

Roberta Paraense
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Na ótica mais otimista sobre o declínio na curva de contágio do novo coronavírus, no município de Salinópolis, a perspectiva é que daqui a um mês, o faturamento gerado pelo setor do turismo se mantenha em ao menos 50%, comparado aos anos normais. Não há indicadores oficiais que apontem o quanto o turismo, sobretudo no mês de junho, impacta na economia da cidade, com a internalização dos recursos oriundos dos serviços e do comércio, movimentados pelos visitantes. Entretanto, o que se pode afirmar é que os quase 400 mil turistas recebidos por final de semana das férias escolares, triplicam o faturamento habitual, do balneário do nordeste paraense.

Devido à pandemia do novo coronavírus, toda a estrutura turística do destino mais procurado do polo Atlântico do Pará, teve de fechar as portas desde março, e, assim, reduzir o faturamento a zero. Com a reserva de caixa acabando ou já inexistente, os comerciantes esbarram nas dificuldades para a retomada das atividades. É que nesta semana, o decreto municipal nº025/2020, dispôs medidas de flexibilização das barreiras da cidade. Contudo, pautada sob às recomendações dos órgãos de Saúde Pública, a reabertura das atividades implica na adoção de vários protocolos de higiene e de distanciamento, o que segundo os empresários locais, demanda recursos para a compra.

No artigo 5º fica estabelecido nas praias e barracas o uso de máscaras, gorros e óculos de proteção para os barreiros, assim como os uniformes padronizados. Os Equipamentos de Proteção Individual (EPis) devem ser oferecidos pelos proprietários. Ainda no artigo 5º, fica determinado que cada barraca poderá fazer o uso de 20 mesas, correspondente a 30%, da sua capacidade de lotação, sendo que, a cada duas mesas, utilizar dois kits de higienização. O documento não especifica o que deve compor no kit.

O empresário José Carlos Barros é proprietário de um tradicional restaurante no centro da cidade e de uma barraca na praia do Atalaia, inaugurada há cinquenta anos. Ele fala sobre as dificuldades em seguir as normas do decreto diante à crise. “Estamos mais de 60 dias sem funcionamento, não há mais fluxo de caixa, e fornecer todos esses equipamentos aos funcionários e clientes, fica complicado para retomar as atividades. Não é nada barato”, explicou.

José mantem cerca de 10 funcionários diretos no restaurante da cidade. No mês de julho, esse número triplica com a contratação temporária de mais 20 pessoas. Já na praia, no mês do pico da alta temporada, é feita a chamada de mais 30 colaboradores para dar conta da demanda. Segundo ele, se as medidas anunciadas no final de maio valerem até julho, essas contratações vão ficar com implicações. “Estamos descapitalizados, e existe um aumento expressivo no número de pessoas que são contratadas. Ofertar todos os protocolos e ainda restringir o número de clientes está complicado”, acredita.

O faturamento no mês de julho aumenta 300% dos meses normais. Porém, esse ano, o índice segue indefinido. “Tudo vai depender do número de casos, mas acreditamos que como Salinas têm muitas pessoas com a segunda residência, em julho vamos receber várias pessoas. Nos primeiros finais de semana, esperamos que esse número se mantenha ao menos, com 50%”, avalia.

Raimundo Soares é proprietário de uma pousada na estrada do Atalaia. Mesmo sem restrição ao funcionamento, ele teve de baixar as portas, já que a cidade foi fechada para o turismo. “Encontramos muitas dificuldades, principalmente, porque já passamos por três feriados (Semana Santa, Tiradentes e Dia do Trabalhador), onde não recebemos ninguém. Nossa última procura foi no carnaval, com a lotação de 90% dos leitos.  Porém, as reservas acabaram”, lamenta.

Para o empresário, o mês de julho é uma incerteza. “Não há como mencionar e nem prever melhora ou piora no cenário. Fato é que, esse ano, tudo será com mais dificuldades. As medidas de abertura da cidade podem ser excelentes aos negócios, se os casos não evoluírem. Com a crise, não vamos contratar a mão de obra temporária, que era de cerca de 10 pessoas. Vamos chamando, agora, de acordo com a demanda”, explica.

image Salinas é um dos principais points do verão amazônico (Igor Mota / O Liberal)

Reservas não estão sendo feitas

O diretor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado (SHRBS-PA), Fernando Soares, diz que não restam dúvidas de que o segmento continuará com retração. “A perspectiva para o setor hoteleiro em Salinas é a pior possível no momento, né? Não é boa por conta do fechamento da cidade, que começa reabrir agora e segundo, pelo medo que está norteando as pessoas”, avalia.

A entidade garante que, faltando um mês para julho, não há reservas nos hotéis que disponibiliza, ao menos, 600 leitos nas grandes e médias estruturas. “É muito preocupante porque nessa época do ano, já deveriam ter 50%, 60% de reservas feitas, mas não existe nada por enquanto”, afirma. Fernando ressalta que não houve medidas restritivas aos hotéis, mas o fechamento das barreiras da cidade mudou a rotina do segmento.

“Isso afeta o setor hoteleiro, desde que você tenha uma certa segurança, o povo virá em julho. Mas o problema é a confiabilidade, porque o público está muito receoso. Nunca se sabe a data exata de quando passará a doença, e fica muita incerteza fazer uma reserva hoje, dispor de um valor e não gozar dela. O mês de julho sempre foi o maior faturamento de Salinas tanto na parte de hospedagem, quanto a de alimentação fora do lar”, aponta.

Fenando ainda comenta sobre o cenário econômico do brasileiro, visto que o turismo não se enquadra nos bens de primeira necessidade. “Muitas pessoas perderam o emprego, ou tiveram queda na renda, muita gente está sem renda, então isso faz com que você sacrifique as férias de julho. De imediato, mesmo que tenha uma normalização hoje, já teria um julho fraco. As pessoas não vão ter dinheiro para fazer o veraneio de antes”, observa o diretor.   

A economia da cidade gira em torno do serviço e do comércio internalizados, sobretudo, pelo turismo. No mês de julho, período de férias escolares e o ápice do verão amazônico, a cidade lota de veranistas em busca das praias com extensas faixas de areia. No entanto, no Pará, ainda não foi definido o período de retorno às aulas nas redes públicas e privadas que estão suspensas desde março.

Falta de transparência

O secretário municipal de Turismo, Esporte e Lazer, Júlio Vieira, afirma que os serviços e vendas feitas pelos visitantes, em julho, aumentam a receita do município em cerca de 300%. Porém, com a pandemia da covid-19, a previsão é de queda. “Achamos que se tudo melhorar, e as pessoas voltarem a frequentar Salinas, ainda sim, vamos ter uma baixa neste ano. Mas estamos trabalhando para tentar manter, ao menos, 50% do faturamento”, observa o secretário.

Questionado sobre o valor real de arrecadação proveniente do segmento, o titular da pasta não soube informar. A reportagem procurou também, o setor de finanças da prefeitura de Salinópolis e uma representante no município na Assembleia Legislativa do Estado (Alepa), mas, até o fechamento desta matéria, os valores monetários não foram divulgados. No site do Portal da Transparência não há índices desse montante específico. O Liberal questionou a Secretaria de Estado de Turismo (Setur), e não obteve esta informação.

Plano de reabertura

Em suas redes sociais, o prefeito de Salinópolis, Paulo Henrique Gomes, anunciou, o começo da flexibilização na fronteira do município, fechadas desde o dia 20 de março. Uma barreira da Polícia Rodoviária Federal (PRF) impedia a entrada de turistas. A primeira postagem do prefeito, foi no último sábado, 23, no entanto, o decreto 025/2020 que revoga, de imediato, as regras anteriores, foi publicado na terça-feira, 26. Agora, será permitida a entrada de visitantes, que possuem bens na cidade. No entanto, ficam proibidas a entrada do transporte alternativo, ônibus e vans.

A justificativa para o afrouxamento das regras de isolamento é a estabilização dos casos confirmados da covid-19.  No último boletim da Prefeitura de Municipal, divulgado nesta quinta-feira, 28, Salinas já contabilizava 237 casos de covid-19, diagnosticados em testes rápidos e 22 mortes devido as complicações da doença. Depois de dois meses de quarentena imposta por conta da pandemia do novo coronavírus e com o comércio não essencial fechado, o município, a 220 quilômetros de Belém, terá o retorno gradual e com protocolos.

"A barreira sanitária vai continuar. A ideia é a flexibilização, mas não a retirada. Vamos fazer isso com muita responsabilidade. É apenas uma tentativa, um momento novo, que foge das questões jurídicas que regem o país", diz Paulo Gomes, no vídeo publicado no Facebook. As praias também voltaram a ser abertas aos moradores, respeitando medidas de higiene e de distanciamento.

Os restaurantes e barracas devem ofertar kits de higiene e receber apenas 30% da sua capacidade de clientes. Na praia, os funcionários serão obrigados a usar máscaras, gorros, óculos de proteção e uniformes padronizados. Procuramos a prefeitura para explicar mais sobre estas regras, porém, não conseguimos contato. Os sons automotivos também estão proibidos em todo o município. Quem descumprir a medida será multado em R$2 mil, com apreensão do veículo. Já em relação ao transporte ficam autorizados a circular, porém taxistas e mototaxistas terão de disponibilizar álcool em gel aos passageiros devidamente usando máscaras.

Esse retorno, sobretudo o da economia, deverá ser pauta de debate entre a prefeitura, o Ministério Público, o Poder Judiciário e os comerciantes. Ainda segundo a prefeitura, nos próximos dias será inaugurado um hospital de campanha na cidade, com 25 leitos de baixa e média complexidade.

Quem visita Salinas?

O estudo mais recente sobre o turismo na cidade foi publicado em dezembro de 2018. A pesquisa do Instituto Ambiental e Profissionalizante da Amazônia – IAPAM traça o perfil do visitante. A maioria das pessoas entrevistadas em Salinas (59,3%), são paraenses, das cidades de Belém e Parauapebas. Em seguida, a cidade recebe mais maranhenses e amazonenses, totalizando o percentual de 14%. O maior gasto médio relatado pelos entrevistados é com as passagens (não especificado o meio), que custam, R$442,04. Já com a hospedagem, o valor deixado no município é de R$435,65, na média de três a cinco dias, maior período apontado (85,3%).

A alimentação é o terceiro maior gasto médio, com cerca de R$ 345,60, seguido pelas compras de artesanato, souvenires e produtos locais, R$ 172,87. Inclusive, os entrevistados apontaram entre os pontos negativos na cidade, os custos. O preço foi avaliado como regular (46%). E sobre o ponto positivo, as melhores avaliações foram dos restaurantes, como (22%) muito bom e (58,3) bom.  

A maior parte do público que vai a Salinas é de solteiros (52%), no entanto, cerca de 75% dos turistas que passaram pelo balneário estavam viajando acompanhados, com a família (42%), sendo, a maioria mulheres (56%). A taxa de escolaridade maior entre os visitantes é de pessoas com nível superior (46%). Mesmo a hospedagem sendo bem avaliada, os frequentadores do município, na maioria (54%), têm casa ou se hospedam em casas de amigos e parentes. O estudo não apontou quantas pessoas foram entrevistadas.

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