Reciclagem de latinhas ajuda a natureza e é renda no bolso

Empresa em Ananindeua reciclou 170 toneladas de latas de alumínio só no primeiro semestre de 2021

Natália Mello / O Liberal
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O aproveitamento de latinhas para a reciclagem transformou o Brasil no terceiro maior mercado mundial de latas de alumínio nos últimos anos, e o benefício dessa cadeia de logística reversa tem sido, sobretudo, econômico, já que alcança diferentes segmentos sociais. Só em 2020, o Brasil reciclou 391,5 mil toneladas ou aproximadamente 31 bilhões de unidades, e manteve a média percentual de 97% de reciclagem do produto – desse total, 64% foi reciclado pela Novelis, líder em laminados e reciclagem de alumínio. A empresa, que conta com um centro de coleta em Ananindeua, região metropolitana de Belém, e outros 12 espalhados pelo país, compra de diversas sucatas espalhadas pela capital e pelo interior do Estado.

Uma das sucatas que comercializa para a Novelis é a Metalmazon, também em funcionamento em Ananindeua. Há um ano no mercado exclusivo do alumínio, a empresa registrou, nestes seis primeiros meses de 2021, a reciclagem de mais de 170 toneladas de latas. Na indústria, a venda do produto é feita por quilo, que equivale a aproximadamente 70 latinhas. Então, fazendo a conversão para unidades, no primeiro semestre desse ano, o espaço reciclou cerca de 14 milhões de latinhas.

Entre os principais fornecedores da empresa estão Bragança, Belém, Ananindeua, Capanema, São João de Pirabas, Santa Bárbara, Mosqueiro, além de outros estados vizinhos, como Amapá, Amazonas e Maranhão, e do sudeste do Brasil, Minas Gerais. “Nós trabalhamos com 35 catadores, alguns abriram uma sucataria e acabaram virando fornecedores. Funciona assim, o catador coleta as latinhas, vende para a sucata de bairro, que vende para nós realizarmos todo o procedimento para vender para indústria”, explica Vanja Viggiano, proprietária do Metalmazon.

limpeza é desafio

De acordo com Vanja, que também é advogada, um dos desafios da sucata é limpar o material e classificar para preparar para a indústria. “Se eu pegar um saco de latas, eu preciso fazer a limpeza e a triagem e depois a compactação, que é essencial para uma venda robusta, porque para vender em atacado tem que estar compactado. E a limpeza é fundamental, porque você vê muito resíduo quando você recolhe, como areia, objetos que não são de alumínio no meio. Aí, por fim, você pode fazer a paletização, que é organizar os blocos em um pallet pra facilitar um carregamento”, detalha.

A empresária reforça um ponto importante desse mercado que, com a pandemia, também sofreu mudanças consideráveis: o preço. Uma latinha que, em 2018, custava por volta de R$ 4,10, chegou a custar R$ 8 em 2021. Ou seja, com essa cadeia formada, em que o catador vende para o sucateiro e este revende para a empresa, o valor cobrado por uma unidade do produto dobrou. “O que é legal é que os catadores que começaram catando as latinhas cresceram, compraram uma carroça ou outro veículo, e passaram a ser a sucata de bairro. Então acaba virando uma cooperativa, mesmo que informal. Com a crise, muita gente foi para as ruas e surgiu mais catadores ainda”, diz.

Como mercado em ascenção, Vanja conta que pretende investir em mais máquinário para aumentar a produção e, assim, aumentar o faturamento da empresa, que manteve certa estabilidade este ano e agora vê uma possibilidade de crescimento. “Estamos comprando mais duas prensas para aumentar a cadeia de produção. Com a pandemia, toda a indústria recuou, as mineradoras geradoras de matéria-prima recuaram, então a indústria ficou sem matéria-prima, e foi para a sucata. Por isso o preço de tudo que é alumínio começou a subir”, afirmou.

Mulheres nas sucatarias

Vanja também considera um comportamento desse mercado peculiar nos últimos anos: a maior presença de mulheres. “Elas, muitas vezes, fazem a contabilidade das sucatas. E no trabalho em si mesmo, já tem muita mulher nas sucatearias. A mulher é mais organizada. A Kelly, por exemplo, é minha funcionária mais produtiva. Ela equivale ao trabalho de dois homens e meio. Imagina. Quando ela saiu de férias perdemos muito em produção”, relata.

A operadora auxiliar de máquina de prensa, Kelly Oliveira, de 32 anos, conta que começou como catadora e até tentou trabalhar como caixa de supermercado durante um tempo. Entretanto, desde os 14 anos vivenciando o ofício de catar latinhas, iniciado ao lado do pai, no antigo Lixão do Aurá, ela diz não se enxergar exercendo outra profissão. “Eu estou aqui há quase três anos. Me acostumei mesmo, eu gosto do que faço aqui e consigo sobreviver desse trabalho”, comenta, reforçando a ideia de que a reciclagem das latinhas permite, além da fonte de renda, a possibilidade de subida de posição nessa cadeia.

Ferro

Outra empresa que vende para a indústria entrevistada pela reportagem de O Liberal fica em Benevides, também na região Metropolitana de Belém. O Sucatão BR não tem a latinha como principal produto – representa 2% da matéria-prima com que a empresa trabalha que é, majoritariamente, ferro. Mas, pela rentabilidade do alumínio, por menor que seja o percentual das latas no negócio, garante uma fatia de 10% do faturamento. De janeiro a junho deste ano, foram vendidas para reciclagem quase 15 toneladas de latas.

“Hoje a gente exporta para os Estados Unidos e sabemos da importância da lata para a economia da reciclagem. Pelos nossos números, a gente vê o quanto é rentável trabalhar com o produto, que, mesmo que tenha um percentual pequeno do nosso negócio, acaba representando uma fatia de 10% do que faturamos. Fora o que movimenta de toda a cadeia produtiva desse segmento”, afirmou a sócia da empresa, Laís Soares.

Reciclagem no Brasil

A reciclagem de latinhas bateu recorde em 2020, segundo o governo federal. Os números, divulgados pela Associação Brasileira do Alumínio (Abal) e Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), também apontam um crescimento 6,7% na quantidade de latinhas recicladas: em 2020, das 402,2 mil toneladas de latas comercializadas, 391,5 mil toneladas foram recicladas; enquanto 2019 registrou 366,8 mil toneladas. Ainda de acordo com as associações, a logística reversa da lata beneficia, mais de 800 mil famílias de catadores e, somente na etapa da coleta da latinha, R$ 1,2 bilhão foram injetados diretamente na economia brasileira em 2017.

Devido à importância desse mercado para a economia brasileira, em abril do ano passado, o governo federal incluiu a indústria do alumínio na lista de atividades essenciais, fato determinante para a continuidade das operações de toda a cadeia produtiva durante a crise econômica da covid-19. A Novelis, por exemplo, que transforma sucata em novas chapas de alumínio para atender o mercado brasileiro e sul-americano, comercializou 578 mil toneladas de chapas de alumínio – a referência é o período de 1º de abril de 2020 a 31 de março de 2021. Em território brasileiro, a empresa recolhe de 500 a 800 toneladas adquiridas por mês em cada parceiro e/ou fornecedor. 

A lógica desse mercado segue mais ou menos uma ordem circular: consumidor – catador – sucata de bairro – sucata maior – indústria – consumidor. Ou seja, a cadeia é baseada na economia circular, que se em uma menor utilização de matéria-prima primária – cada 1 kg de lata reciclada poupa a extração de 5 kg de bauxita, necessária para a produção do alumínio primário. Logo, a utilização de latinhas coletadas por catadores e reciclagem, para fazer novos laminados, cria uma renovação infinita das embalagens. Há ganhos também para o meio ambiente: o nível de reciclagem da lata no Brasil reduz, em média, 70% a emissão de gases de efeito estufa e o consumo de energia elétrica em todo o ciclo de vida da embalagem.

 

 

 

 

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