Em Belém, profissionais da área de eventos pedem auxílio ou retomada do setor

Entidade estima mais de 50 mil famílias afetadas economicamente, só na capital paraense

Keila Ferreira
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Trabalhando com serviço de buffet e decoração há 14 anos, Soraya Silva dos Santos, de 47 anos, está enfrentando a pior fase nos negócios. Sem trabalhar, acumula contas atrasadas, entre elas aluguel da casa em que vive com a família e energia elétrica, além das dificuldades para garantir a comida na mesa.

“Nesse momento, não estou recebendo nada, desde quando começou o lockdown. Nesse mês de março, não peguei nenhum centavo. Ontem (quarta), uma cliente me ligou e disse que quer o dinheiro de volta e eu não tenho como devolver. Nunca passei por isso, é humilhante”, lamenta.

Assim como ela, mais de 50 mil famílias, dentre as quase 200 categorias profissionais do setor de eventos, foram atingidos de forma drástica durante a pandemia, somente em Belém, segundo estimativa da Associação Brasileira de Assessores e Cerimonialistas (Abracs).

O segmento abrange cerimonialistas, assessores de eventos,  donos de buffet, decoradores, floristas, cozinheiros, auxiliares de cozinha, garçons, seguranças, recepcionistas, dançarinos, animadores, monitores infantis, palhaços, artistas em pintura facial e corporal, fotógrafos, cinegrafistas, empresas de impressão de fotos e convites, criadores e empresas de brindes personalizados,  cabeleireiros, maquiadores, empresas de alugueis de brinquedos, vendedores de lojas de venda de balões e artigos para festas, entre outros profissionais que, estão entre os primeiros que tiveram as atividades paralisadas e até o momento não têm uma perspectiva de retorno a um estado satisfatório para a manutenção dos negócios e dos empregos.

Eles têm se unido e apelado ao Poder Público para que sejam implementadas ações voltadas ao setor. Segundo esses profissionais, o auxílio de R$ 500 anunciado pelo Governo, no pacote econômico para mitigar os efeitos da crise, só atendeu seis categorias da área de eventos: técnicos de som e luz, roadies, dj´s, garçons, cabeleireiros e maquiadores. Os profissionais da área querem uma ajuda específica voltada ao setor ou retorno das atividades, atendendo às restrições preventivas.

Soraya tinha um salão de eventos no bairro de São Brás, alugado, mas em razão das dificuldades econômicas, se viu obrigada a devolver o imóvel em setembro. Alugou outro espaço na Pedreira, onde vinha se mantendo graças à permissão para realização de eventos, com limitação de público.

“Mas começou de novo o lockdown, eventos só pra 50 pessoas, depois só dez pessoas. Eu estou quebrada, estou devendo dois meses do meu espaço, não sei mais o que fazer. O dono sabe que eu trabalho com evento, fiz empréstimo do Fundo Esperança, consegui R$ 1.300 e dei pra ele, mas eu pago R$ 4 mil de aluguel”, relata.

Ela vive com o marido, único que está trabalhando em casa e tem ajudado nas despesas. Uma das filhas tem salão de beleza, que também enfrenta queda no movimento. Soraya não conseguiu auxílio do governo do Estado.

“Hoje, a gente está com três papeis de energia e ele (marido) disse que vai pagar um. Estou desse jeito. A única coisa que estou fazendo é limpar a casa para ocupar a mente. Vai fazer também sete meses que minha mãe faleceu. Hoje, eu estava falando com Deus, pedindo uma luz, porque está muito difícil. Eu tinha uma casa no canal do Tucunduba, o governo foi lá, tirou minha casa e desde outubro não recebo um centavo, nem o auxílio aluguel. Eu moro no mesmo lugar do salão, se o homem me tirar daqui, pra onde eu vou?”, questiona.

Presidente da Abracs, Luciana Mendes lembra que, após a manifestação no dia 31 de março, representantes do setor chegaram a ser recebidos pelo prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues e pelo então titular da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Carlos Ledo, em reunião realizada no dia 5 de abril. O governo ficou de analisar as reivindicações da categoria e estudar medidas para ajudar o setor, através, por exemplo, de um amparo financeiro. No entanto, os profissionais da área ainda não tiveram uma resposta.

“No pacote econômico do governo entraram algumas categorias, ligadas aos eventos, mas nós somos mais de duzentas categorias, então, ficou muita gente de fora. E como o decreto atual só autoriza reuniões de até dez pessoas, é inviável economicamente que nós consigamos ter renda, porque não tem viabilidade econômica, não tem trabalho. Os eventos ficam restritos ao ambiente familiar, sem necessidade de contratação de profissionais. Nessa conversa, o Carlos Ledo falou das outras reivindicações que nós fizemos, mais voltadas ao empresários, e disse que estão estudando a possibilidade de nos atender, com isenção de tributos, como ICMS e IPVA para autônomos. Porque entrou a isenção do IPVA, mas para quem tem CNPJ. Como a realidade do setor de eventos é, em sua maioria, de autônomos e informais, pedimos que essas pessoas fossem também contempladas”, explica.

Na impossibilidade de auxílio financeiro ao setor, o grupo defende o retorno das atividades. “Se o governo não tiver condição de amparar financeiramente, a única solução que eu vejo é de autorização para retomada de evento. Ele pediu que nós fizéssemos uma proposta e hoje (quarta, 14), nós vamos enviar pedindo o retorno para 150 pessoas ou até 50% da capacidade dos espaços. Nós vamos lançar essa proposta para o Governo, aí vai ficar a critério deles se vão fazer a retomada, atender com esse quantitativo ou menor”.

Sobre o número de pessoas afetadas, Luciana diz que a Abracs estima mais de 50 mil famílias. “A gente está tomando como base categorias que são muito grandes. Os garçons, só na capital, são 15 mil, registrados com carteira, sem considerar os que trabalham sem carteira, seguranças, recepcionistas etc”, explica.

Segundo a Associação, em Belém, a oscilação do bandeiramento que determina a situação do Estado diante da crise de saúde pública, piorou a relação de negócios, fazendo com que eventos deixassem de ser realizados e a diminuição da capacidade econômica das empresas acarretasse em mais demissões e até em fechamento de empresas.

Entre as reivindicações do setor está a isenção de IPVA ao profissional de eventos autônomo que utilize até um veículo para trabalho, também do ICMS para buffets e salões de eventos; enquadramento dos salões de festas e eventos no auxílio de dois mil reais do programa Incentiva Pará do governo do Estado; isenção de juros e multas de REFIS; isenção ou redução de ISS e TLPL para as empresas do setor e criação e facilitação do acesso ao crédito.

A redação integrada do Grupo Liberal procurou governo do Estado e Prefeitura de Belém, para falar sobre o assunto. A Sedeme respondeu apenas que continua em tratativa com o setor de eventos. Sobre a retirada de Soraya do Santos de seu imóvel, no Tucunduba, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas (Sedop) informou que ela recebeu, no dia 23 e setembro do ano passado, a ordem bancária para saque do valor referente à indenização pela retirada do imóvel onde residia, na área do projeto de macrodrenagem do Tucunduba. Desta forma, o processo dela já se encontra encerrado, uma vez que o valor já foi pago.

A Prefeitura de Belém informou que as reivindicações da categoria estão sendo analisadas pela Secretaria Municipal de Finanças (Sefin). Disse ainda que editou decreto de auxílio a todos os contribuintes, prevendo adiamento tributário e prorrogação das certidões, dentre outras medidas para minimizar os efeitos causados pelas restrições impostas pela pandemia.

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