Preço dos remédios sobe 6,33% em 12 meses e aperta orçamento das famílias em Belém

Com alta acumulada desde janeiro de 4,10%, medicamentos continuam entre os itens que mais pesam no bolso dos belenenses, mesmo com leve recuo em junho

Eva Pires | Especial para O Liberal
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Mesmo com uma leve queda de 0,43% no preço dos remédios em junho de 2025, os moradores de Belém sentem no bolso o impacto acumulado dos reajustes ao longo do ano. Desde janeiro, o aumento chega a 4,10%, e no recorte dos últimos 12 meses, a alta atinge 6,33%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os medicamentos já representam 3,17% do peso da inflação mensal na capital paraense, sinalizando que os gastos com saúde continuam entre os mais pesados no orçamento doméstico.

Essa escalada se insere em um cenário em que a inflação de Saúde e Cuidados Pessoais tem sido um dos principais motores do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Embora a inflação no setor em Belém tenha se mostrado mais contida em setembro de 2024, a realidade atual dos medicamentos é de pressão constante. Os reajustes anuais, autorizados pelo governo federal em março, atingem até 5,06% para medicamentos com maior concorrência, e chegam a impactar diretamente aqueles de uso contínuo, como os para hipertensão e diabetes.

Medicamentos específicos: um olhar detalhado sobre as variações

Acompanhar a variação de preços de categorias específicas de medicamentos é essencial para entender o impacto no dia a dia do belenense. Os dados mais recentes revelam um comportamento distinto entre os diferentes tipos de remédios.

Os antidiabéticos em Belém, por exemplo, apresentaram uma variação de -3,84% de maio para junho de 2025, e uma queda acumulada de -2,26% desde janeiro. No período de 12 meses (junho de 2024 a junho de 2025), a variação também foi negativa, em 0,56%. Essa tendência de queda pode refletir uma maior oferta, concorrência ou até mesmo a entrada de genéricos mais acessíveis no mercado local, trazendo um alívio pontual para os pacientes diabéticos. O peso mensal desses medicamentos no orçamento de Belém foi de 0,13% em junho de 2025.

Já os hipotensores e hipocolesterolêmicos (remédios para pressão alta e colesterol), de uso contínuo e amplamente utilizados pela população, mostram um panorama diferente. Houve uma queda de 2,13% de maio para junho de 2025, mas um aumento acumulado de 2,10% de janeiro a junho deste ano. O dado mais preocupante é o acumulado dos últimos 12 meses, com alta de expressivos 5,39%. Isso indica que, apesar de um recuo recente no último mês, o custo desses medicamentos tem crescido consistentemente ao longo do último ano, pesando no orçamento familiar com um peso mensal de 0,46% em junho de 2025.

Em comparação com o cenário nacional, os produtos farmacêuticos no Brasil tiveram uma alta de 4,54% em 12 meses. Os antidiabéticos, por sua vez, subiram 2,50% no país, enquanto os hipotensores e hipocolesterolêmicos aumentaram 3,45% no mesmo período. Nesse contexto, as particularidades da capital paraense em relação aos antidiabéticos se destacam, mas a pressão sobre os remédios para pressão alta e colesterol acompanha de perto a tendência nacional.

O impacto no dia a dia: de farmácias a bolsos apertados

A alta nos preços dos medicamentos tem forçado as famílias belenenses a repensarem os orçamentos e buscarem alternativas. Douglas Alencar, professor de economia da Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que "a inflação dos remédios tem forçado as famílias a reorganizarem o orçamento, muitas vezes comprometendo gastos básicos para manter tratamentos de saúde". Ele enfatiza que "as famílias terão que sacrificar lazer, educação para compor o orçamento da saúde".

Nas farmácias, a mudança no comportamento do consumidor é evidente. O farmacêutico Patrick Cruz observa que os pacientes se adaptam e em muitos casos migram para genéricos, recorrendo às farmácias de bairro, aproveitando promoções e até optando por parcelamentos. Ele relata uma diminuição no volume e na frequência das compras, com alguns pacientes levando menos unidades ou até deixando de comprar, o que gera preocupação para o acompanhamento de doenças crônicas. No entanto, ele pondera que, de forma geral, o setor farmacêutico não enfrenta uma crise, pois "as pessoas não podem parar de tomar seus medicamentos". Patrick também menciona que os estoques antigos, que poderiam amortecer os reajustes, já se esgotaram, e agora o consumidor final sente o aumento integral dos preços.

Para quem depende de medicamentos de uso contínuo, a situação é ainda mais delicada. João Guilherme Barros, fisioterapeuta de 64 anos, hipertenso e com coronariopatia grave, sentiu o impacto diretamente no bolso. "Percebi um aumento a partir de maio. Foi variada, devido fazer uso de vários remédios. Uns tiveram aumento de 3 a 5%. Houve medicação com aumento maior em torno de 10%", descreve. Para se adaptar, João passou a usar os descontos dos laboratórios para uso contínuo e a comprar mais unidades para aproveitar as ofertas. Ele manteve a mesma farmácia, pois o custo total ainda era mais vantajoso, e não precisou deixar de comprar nenhum remédio, utilizando o cartão de crédito no início para se ajustar às novas despesas. João sugere que a divulgação dos descontos de laboratório seria "interessante de ser feito, mostrar ao consumidor, pois várias pessoas não sabem que existe, principalmente às pessoas de baixa renda".

Alternativas e o futuro dos preços: um cenário desafiador

Diante da pressão nos preços, os consumidores belenenses buscam saídas. Douglas Alencar aponta que, embora ainda faltem dados consolidados, há indícios de uma maior procura por genéricos, preferência por farmácias com preços promocionais e até a prática de compras coletivas entre familiares ou grupos comunitários. "Os consumidores sempre que possível irão procurar por produtos substitutos a produtos que os preços aumentam demasiadamente", reforça o economista.

Outro fator que encarece os medicamentos é a alta carga tributária, que no Brasil pode superar 30% do preço final. Alencar acredita que há espaço para uma revisão dessa tributação, especialmente para medicamentos essenciais ou de uso contínuo, como forma de aliviar o orçamento familiar e ampliar o acesso à saúde. Ele também destaca a importância de programas governamentais como o Farmácia Popular para a população de baixa renda.

Para o restante de 2025, as perspectivas não são de alívio significativo. O professor prevê que a pressão sobre os preços deve persistir, especialmente nos medicamentos mais consumidos, sem expectativa de alívio significativo no curto prazo. Isso significa que as famílias de Belém precisarão continuar vigilantes e criativas para garantir o acesso aos tratamentos necessários, em um cenário econômico que exige cada vez mais adaptação e pesquisa.

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