Possível alta nos preços de eletrônicos no Pará com o 'tarifaço' de Trump sobre China

Na última segunda-feira (20), Trump afirmou que pode impor tarifa de 155% sobre produtos chineses a partir de 1º de novembro

Eva Pires | Especial para O Liberal
fonte

O anúncio de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, da possibilidade de impor tarifas de até 155% sobre produtos chineses reacendeu discussões sobre os impactos globais dessa medida, inclusive na economia brasileira. No Pará, onde o mercado depende fortemente de produtos importados ou montados com peças do exterior, o alerta é de que o “tarifaço” pode encarecer os eletrônicos vendidos nas lojas. Para o economista Douglas Alencar, o efeito das tarifas pode chegar ao bolso do consumidor paraense “de forma amplificada”, pois o estado já sofre com custos logísticos e margens elevadas.

Entenda a disputa

Na última segunda-feira (20), Trump afirmou que pode ampliar as tarifas sobre produtos chineses a partir de 1º de novembro, caso não haja acordo entre os dois países. A medida reacende a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo e pode afetar cadeias produtivas globais.

O republicano também declarou que deve visitar a China no início de 2026, a convite de Pequim. Nas próximas semanas, a expectativa é que representantes dos dois países também se encontrem na Coreia do Sul para uma nova negociação.

A disputa gira em torno de minerais críticos e terras raras, insumos essenciais para a fabricação de tecnologias como smartphones, painéis solares e veículos elétricos. A China detém quase o monopólio global da extração e refino desses elementos, como neodímio e lantânio, e anunciou novas regras que dificultam a exportação. Isso elevou o clima de incerteza nos mercados e preocupa países que dependem dessas matérias-primas, entre eles o Brasil.

image Loja de eletroeletrônicos em Belém (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

Impactos no Pará e no bolso do consumidor

De acordo com o economista Douglas Alencar, o novo ciclo de tarifas entre Estados Unidos e China tende a aumentar custos ao longo da cadeia global de produção tecnológica, o que pode resultar em reajustes nas prateleiras paraenses.

“As tarifas elevam os custos tanto sobre componentes quanto sobre produtos acabados. Fabricantes e distribuidores tendem a repassar parte desse aumento ao preço final, e, no caso do Brasil, isso pode ser sentido de forma amplificada”, afirmou.

O professor destacou que o Pará é especialmente vulnerável, já que a maioria dos produtos chega ao estado após longos trajetos logísticos, o que eleva o custo do frete e reduz a margem de manobra dos lojistas. Mesmo com a valorização recente do real, o câmbio ainda é considerado um fator decisivo, já que qualquer alta do dólar impacta diretamente os preços dos produtos importados.

Segundo o economista, a pressão tende a ser maior sobre itens com alto conteúdo tecnológico, como celulares, notebooks e televisores. Ele acrescentou que os efeitos das tarifas podem variar conforme o comportamento do câmbio e das negociações entre Estados Unidos e China. “A magnitude e a velocidade do repasse dependem de três fatores: evolução das tarifas, preço internacional dos componentes e comportamento do câmbio”.

"O cenário provável é misto: para alguns produtos (eletrônicos de maior difusão, modelos populares e itens com forte conteúdo importado) há risco de aumento real de preços nos próximos meses. Isso pode ocorrer especialmente se persistirem pressões sobre chips e se o real continuar desvalorizado frente ao dólar, apesar de acreditar que a tendência da taxa de câmbio do momento seja de valorização, o que pode mitigar o aumento das tarifas. Para outros itens, poderá haver apenas variação pontual — promoções temporárias, falta de estoque que eleva preços em curto prazo”, completou.

Resiliência e novos arranjos comerciais

Para o supervisor técnico do Dieese no Pará, Everson Costa, o mercado brasileiro tem demonstrado resiliência diante das tensões comerciais internacionais, adaptando-se a novos fornecedores e estratégias de exportação.

“Apesar da tarifa, o Brasil tem um multilateralismo forte e produtos competitivos em várias praças. O Pará é um exemplo disso: o estado exportou 17 bilhões de dólares nos primeiros nove meses do ano e importou 2,1 bilhões, um superávit de 15,6 bilhões. E o nosso maior comprador continua sendo a China”, destacou.

Ele explica que, embora o balanço comercial paraense permaneça positivo, há preocupação com o aumento dos custos industriais e agrícolas, que dependem de insumos importados. “Parte dessas peças vinha de mercados americanos e precisou ser substituída. Isso mudou modelos de negócio, margens de lucro e estrutura de custos. Mesmo com o superávit, as empresas tiveram de se adaptar rapidamente”, comentou.

Everson acredita que o impacto das tarifas nos preços de eletrônicos será perceptível, mas não devastador. “O consumidor final sempre é passível de receber no preço qualquer tipo de repasse. É provável que produtos fiquem mais caros nas festas de fim de ano, especialmente celulares, TVs e computadores. Esses reajustes podem até ultrapassar a inflação acumulada dos últimos 12 meses, que está em torno de 5.10% a 5.17%”, avaliou.

Ele também alerta para o período da Black Friday, quando consumidores costumam aproveitar promoções. Ele reforça que é preciso fazer uma pesquisa antecipada dos preços para verificar se realmente há desconto. "Devemos desconfiar de descontos muito altos. Se o custo das matérias-primas sobe, dificilmente encontraremos produtos realmente mais baratos”, afirmou.

O reflexo nas lojas e no comportamento do consumidor

image Matheus Sousa, 27 anos, empresário (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

No comércio de Belém, lojistas começam a acompanhar com atenção as possíveis consequências do “tarifaço”. Edson Corrêa, gerente de uma loja de eletroeletrônicos no centro da cidade, conta que ainda não houve aviso oficial dos distribuidores, mas a preocupação é grande. “A gente sabe que deve refletir nos preços, principalmente dos produtos vindos da China. Esperamos que haja negociação entre os governos para reduzir os impactos”, disse.

Ele explica que, diante da incerteza, as lojas estão apostando em promoções e campanhas publicitárias para manter o movimento. “Sempre que há aumento, quem acaba penalizado é o consumidor. A gente tenta segurar o máximo possível, mas precisa continuar vendendo. Então, trabalhamos com descontos e ações para atrair clientes”, afirmou.

O empresário Matheus Sousa, 27 anos, já repensa o planejamento de compras. “A gente compra muitos acessórios chineses, como carregadores e controles de TV. Com esse tarifaço, penso duas vezes antes de comprar. Pode ser que agora eu invista mais em qualidade, mesmo pagando mais caro, ou espere ver se as tarifas recuam”, contou.

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Economia
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM ECONOMIA

MAIS LIDAS EM ECONOMIA